Menachem Begin conversa com líder da operação que destruiu o programa nuclear iraquiano

O ano é 1981. Em 7 de Junho daquele ano, ainda durante a madrugada, um grupo de quatorze aeronaves da Força Aérea Israelense efetuou um ataque surpresa ao reator nuclear Osirak, instalado na cidade de Al-Tuweitha, nas proximidades de Bagdá.

À época, o programa nuclear iraquiano se desenvolvia rapidamente. Embora Saddam Hussein estivesse focado em sua batalha contra o recém-instalado regime revolucionário do Aiatolá Ruhollah Khomeini, Menachem Begin via uma bomba atômica iraquiana como uma ameaça direta ao Estado judeu. Desde 1948, Israel e Iraque viviam um relacionamento marcado pela constante tensão, visto que Bagdá se recusou a assinar o armistício que encerrou a Guerra de Independência daquele ano.

Desde o início das discussões sobre o bombardeio, ambos os chefes da AMAN (braço de inteligência militar de Israel) e do MOSSAD (serviço secreto de Israel), opuseram-se ao plano. Seus argumentos eram: (i) ainda levaria anos para que o programa iraquiano tivesse êxito em desenvolver o artefato nuclear; (ii) o bombardeio não destruiria o programa por completo; (iii) uma ação deste gênero poderia causar uma escalada militar na região; (iv) comprometer o acordo de paz entre israelenses e egípcios, de 1979 e (v) estremecer as relações entre Israel e EUA.

Begin e seus aliados próximos forçaram a ideia e o bombardeio obteve sucesso. As baixas foram mínimas e o programa nuclear de Saddam Hussein foi neutralizado.

Do ponto de vista de Israel, apesar das variáveis envolvidas num possível ataque às instalações iranianas serem mais complexas, a percepção sobre as consequências da operação em 1981 é muito similar aos desdobramentos de um ataque hoje. Logo, é compreensível que o establishment político de Israel se baseie no sucesso passado, dadas as similaridades entre Iraque (1981) e Irã (2012).

Ahmadinejad vistoria as instalações nucleares de Bushehr

Em 1981, havia argumentos de que um ataque não seria capaz de destruir completamente o programa, quanto muito atrasá-lo. Hoje, o debate é o mesmo, e baseando-se no que Israel viu acontecer com o Iraque, tal argumento perde consistência. A experiência mostrou aos israelenses que embasar a decisão de um ataque aéreo em sua efetividade de destruição é irrelevante, visto que o Iraque não foi capaz de retomar seu programa nuclear e o desenrolar da história acabou levando a uma mudança de regime.

Não é possível saber quando e como um ataque israelense tomaria corpo contra as instalações iranianas, mas o fato é que a história recente nos oferece um case empírico de sucesso envolvendo uma situação muito similar.

O ex-Senador Rick Santorum

Após as primárias do Estado da Louisiana, vencida pelo ex-Senador Rick Santorum, a corrida interna do Partido Republicano para a nomeação continua sem grandes alterações.

Mitt Romney ainda lidera com folga – 565 delegados contra apenas 256 de Santorum – e tende a receber a nomeação em meados de Abril. O grande problema para o ex-Governador de Massachusetts é a continuidade da disputa interna. Como já foi mencionado anteriormente, quanto mais longa a batalha pela nomeação, menores serão as chances do escolhido em vencer os votos independentes – decisivos na eleição de Novembro.

Seria interessante para Mitt Romney, e o Partido Republicano como um todo, poder direcionar os esforços, desde já, para a campanha contra o atual presidente Barack Obama. Mas os demais concorrentes à nomeação não dão indícios de desistência.

Não só Santorum, mas também Newt Gingrich e Ron Paul mantém-se na disputa e pretendem insistir por mais tempo.

Pesquisas indicam que, se as eleições fossem hoje, e o candidato republicano fosse Mitt Romney, Obama estaria com 48,1% das intenções de voto, contra 43,5% do republicano.

Mali - fronteiras com Níger e Argélia à Nordeste

A operação da OTAN na Líbia foi bem-sucedida no seu objetivo primário; a queda do ditador Muammar Qaddafi. No entanto, o frágil equilíbrio de forças no continente africano foi quebrado, e alguns efeitos colaterais já causam os primeiros danos. Afora as tensões inter-tribais na própria Líbia, um país claramente dividido por linhagens étnicas distintas, o caso mais nítido e recente foi o golpe militar ocorrido em Mali, na semana passada.

Conhecido por ser uma das poucas democracias fortes do continente – desde a queda do último governo militar, em 1992, quatro eleições haviam occorrido e a quinta seria no próximo mês – Mali foi palco de um golpe de estado perpetrado pelas forças armadas, que tinham como argumento a inaptidão do governo em lidar com a revolta dos Touaregs ao norte.

A tribo dos Touaregs, composta por cerca de 2 a 3 milhões de membros e conhecidos por serem nômades das regiões do Saara e do Sahel, ocupam uma área que abrange o Sul da Líbia, o Norte do Níger, o Sul da Argélia, o Norte de Mali e Burkina Faso. A maior parte deles – ao redor de 1 milhão – encontra-se hoje no Norte de Mali. Desde os anos ’60 eles fazem pressão, e muitas vezes apelam ao uso da força, por maior autonomia e uma hipotética independência. Entre 2006 e 2009, uma onda de violência ocorreu com os mesmos objetivos.

Os Touaregs juntaram-se aos rebeldes líbios no levante contra Muammar Qaddafi

A questão torna-se mais complexa pelo seguinte fator; durante a operação da OTAN na Líbia, grandes contingentes de militantes da tribo Touareg se juntaram aos rebeldes líbios em sua luta contra Qaddafi. Neste processo, ganharam não só mais armamentos, mas também mais experiência de combate. O exército de Mali, observando o fortalecimento dessa ameaça, derrubou o governo democrático de Amadou Tourani Touré.

A discussão sobre intervir ou não intervir em determinado Estado deve levar em consideração este fator. Embora moralmente desejável, uma intervenção representa uma equação extremamente complexa e única, já que Estados vivem contextos distintos entre si. Mudar uma das variáveis desta equação, sem equilibrar o restante, pode gerar reações em cadeia complexas e, em muitas vezes, indesejadas.

 

ETS, que visa reduzir emissões de carbono de aviões, pode causar problemas econômicos

“O que surgiu como uma solução para o meio-ambiente se tornou fonte para uma possível batalha comercial” disse Thomas Enders, alto executivo da Airbus.

O Regime de Comércio de Emissões da UE (Emissions Trading System) de CO2, que entrou em vigor em Janeiro de 2012, tem por princípio a disponibilização de créditos para emissões do gás para as companhias aéreas – européias ou não – operando no espaço aéreo europeu. Cada companhia tem direito a um volume X de emissões, de acordo com o número de vôos operados na Europa. A própria companhia é responsável pelo monitoramento deste processo e, ao final de cada período, ela deve entregar um relatório às autoridades responsáveis. Caso ela tenha utilizado uma quantidade de créditos abaixo da média calculada, ela poderá comercializar os mesmos para outras companhias que necessitem. Caso tenha ultrapassado o limite, pagará multas progressivas., o que fatalmente encarece a operação.

O projeto, fortemente apoiado pelo Partidos Verdes Europeu, tem como premissa não só o cuidado com o meio-ambiente, mas servir de base para um projeto de mesma espécie em escala global. O resultado, porém, pode ser bem diferente. A Europa, ainda em profunda crise econômica, pode entrar numa guerra comercial que não tem condições de vencer. Hoje, uma negociação entre Airbus e os chineses, envolvendo 45 aeronaves e receitas ao redor de USD 12 bilhões, está congelada. Autoridades de Nova Delhi também já deixaram claro que não vão aceitar as novas regras e ameaçam proibir companhias indianas de cooperarem com o sistema e disponibilizarem seus níveis de emissões – dado que 73% do mercado de aviação comercial da Índia é ocupado por empresas européias, não se trata de uma ameaça qualquer.

Airbus da Air China - negociação de 45 novas aeronaves está congelada

O que fica claro é os gigantes China e Índia não estão dispostos a abrir mão de ganhos econômicos, e sacrificar um setor forte de suas economias, em prol de políticas ambientais. O interessante é que uma parte dos próprios europeus também não está satisfeita. Um grupo de empresas aéreas, liderado pela Airbus, já se organizou para cobrar um relaxamento das autoridades européias quanto às regras do sistema de emissões.

A disputa entre os partidos verdes, que ganham cada vez mais espaço na cena política européia e fazem grande pressão por políticas ambientais rígidas, e o empresariado europeu tende a se intensificar. Em meio a uma Europa passando por momentos difíceis do ponto de vista econômico, não será surpresa observar movimentos políticos fortes contra possíveis decisões politicamente incorretas das autoridades européias, já que no curto prazo, as contas vão pesar mais que a natureza.

Nas primárias de hoje no Estado de Illinois, Mitt Romney conseguiu uma boa vitória e levou os 69 delegados em disputa, alcançando os 540 delegados. Rick Santorum, na segunda colocação, tem 239.

Romney obteve boa vantagem dentre todos os grupos de votantes – universitários, idosos acima de 65 anos e até mesmo dentre os evangélicos – o que qualifica ainda mais o resultado, dado que mesmo entre os mais conservadores dos eleitores, que teoricamente votariam em Rick Santorum ou Newt Gingrich, ele teve sucesso.

Mitt Romney e sua mulher, Ann, fazem discurso de vitória em Illinois

Este resultado pode aumentar as chances de Romney ser o nomeado do Partido Republicano. No entanto, a disputa está longe de terminar. Gingrich, Santorum e mesmo Ron Paul, que ainda não obteve nenhuma vitória em qualquer das primárias, não dão sinais de desistência da disputa. Um fator interessante é que muitos dos eleitores de hoje declararam que ‘não estavam plenamente satisfeitos com seus candidatos’. Ou seja, há eleitores republicanos votando pelo candidato elegível, mas não o considerado ideal por eles. Dado que o voto não é obrigatório nos EUA, esta tendência pode afetar o candidato republicano nas eleições em Novembro.

Embora tenha ganho mais espaço com a vitória de hoje, Mitt Romney ainda terá de esperar para receber uma eventual nomeação, já que seus concorrentes pretendem lutar pelos delegados restantes, por mais tempo

Um evento que ganhou destaque na mídia, no domingo, foi o sequestro de duas brasileiras e um guia turístico egípcio por beduínos na região da Península do Sinai. Após passarem algumas horas sob custódia dos sequestradores, elas foram libertadas com a ajuda do governo local nas negociações. Segundo as mesmas, os beduínos as trataram bem até o final do impasse.

Mas a pergunta que fica é; quem são estes beduínos? O que querem?

Beduínos na Península do Sinai - marginalizados da sociedade egípcia

Compondo uma população de aproximadamente 200.000, os beduínos migraram para aquela região no século VII, fugindo das tribos mais fortes que habitavam o deserto do Hejaz, onde hoje fica a Arábia Saudita.

A região da Península do Sinai é um ponto altamente estratégico do ponto de vista geopolítico. Ligação entre Europa e Ásia, ela abriga o Canal de Suez, crucial para o mercado do petróleo, e também é rota de gasodutos/óleodutos que fornecem energia para Israel. A área também é conhecida por abrigar lugares muito atrativos ao turismo – casos de resorts litorâneos como em Sharm el-Sheikh e Dahab e, principalmente, locais sagrados como o Monte Sinai e o Monastério de Santa Catarina, mais antigo templo cristão em funcionamento no mundo.

Porém, o desenvolvimento econômico trazido por estes fatores à região não incluiu a população local que, composta por diferentes tribos de beduínos, historicamente é marginalizada da sociedade egípcia como um todo. Serviços públicos essenciais, como saúde e saneamento básico são praticamente inexistentes. Afora a indústria do turismo – que exclui os beduínos – não há outras atividades econômicas na península, o que fatalmente obriga os locais a participarem de atividades ilegais para conseguir meios para sobreviver. Dentre elas, estão o tráfico de bens (itens médicos, material de construção, etc.) e armas para a Faixa de Gaza e mesmo, em alguns casos, facilitar o trânsito de grupos mais radicais pelo local.

Península do Sinai - cercada à Oeste o Mar Vermelho (saída do Canal de Suez) e à Leste pelo Golfo de Aqaba (Jordânia)

No entanto, é importante frisar que os sequestros, recorrentes num passado recente, não fazem parte de uma agenda política similar àquela de grupos mais radicais – ou mesmo terroristas – como Hamas ou a própria al-Qaeda. O objetivo com estas ações é forçar o governo do Egito a negociar a libertação de beduínos presos e exigir melhoras no cenário sócio-econômico na região. Cerca de 1.000 – 3.000 beduínos estão presos hoje e aproximadamente 10.000 fazem parte de listas policiais egípcias.

Os efeitos da revolução que derrubou o regime de Hosni Mubarak também não chegaram, ainda, ao Sinai. Recentemente ocorreram sequestros nos mesmos padrões do que ocorreu com as brasileiras no domingo. Não há, no curto prazo, perpectivas de mudança no quadro da região. A evolução ou deterioração dependerá do que ocorrer na cena política egípcia. Caso não haja mudanças no relacionamento entre Cairo e as tribos locais, mais problemas deverão ocorrer.

 

Após uma vitória fácil em Porto Rico, onde Mitt Romney ficou com os 20 delegados em disputa ao obter cerca de 82% dos votos, o próximo desafio é o Estado de Illinois, onde 69 delegados estão em disputa.

Romney faz campanha no Estado de Illinois

Embora apresente uma boa vantagem nas pesquisas feitas até o momento, um ponto que pode tornar as primárias de amanhã (20) mais acirradas é o eleitorado em si.

Romney precisou mostrar-se conservador para ganhar o eleitorado republicano em algumas regiões do país. Sob ataque constante dos principais adversários – Rick Santorum e Newt Gingrich – o ex-governador de Massachusetts foi, ao longo de todo o processo da nomeação republicana até o monento, acusado de não ser conservador o suficiente. Porém, o eleitorado em Illinois é conhecido por dar preferência à ala moderada do Partido Republicano.

Romney, que já foi acusado de inconsistência por mudar de opinião constantemente sobre diversos temas, terá de provar que é o candidato moderado dentre as opcões existentes.

Leon Panetta e Hamid Karzai - relacionamento entre EUA e Afeganistão passa por seu pior momento

O Secretário da Defesa americano Leon Panetta não tem motivos para comemorar sua passagem pela Ásia Central. Logo no início do tour pela região, dois eventos já geram agitação em Washington.

Em reunião com o presidente do Afeganistão Hamid Karzai, o secretário foi publicamente pressionado a antecipar o processo de retirada das tropas da ISAF (International Security Assistance Forces – nome da missão da OTAN no país) para 2013 – originalmente o prazo era 2014. Em meio a um relacionamento altamente complexo e que se deteriorou gradativamente nos últimos anos, as ações do soldado americano – que matou 16 civis – ajudaram a piorar o cenário. O Taliban, que havia concordado em negociar para chegar a um acordo para pacificar o país, já anunciou sua retirada das conversas.

Em paralelo, um alto oficial do governo do Quirguistão informou Panetta que pretente fechar a base americana naquele país. Esta, localizada no aeroporto de Manas, próximo à capital Bishkek, é a única desta espécie presente na Ásia Central e essencial do ponto de vista logístico e tático para a operação americana no Afeganistão. A base também funciona como um posto avançado numa região onde outras potências, como China e, principalmente, Rússia, disputam por influência.

Em termos geopolíticos, essa é a área mais estratégica do globo. Historicamente, os grandes players travam disputas acirradas pela predominância nessa região. No século XIX, os impérios Britânico e Russo protagonizavam o que ficou conhecido como o Great Game (Grande Jogo), quando lutavam politica e militarmente pela hegemonia euroasiática.

Geopolítica da Ásia Central

Hoje, num cenário pós-Guerra Fria, EUA, Rússia e China são os atores principais no novo Great Game. Cada decisão tomada com relação ao Leste Europeu, Oriente Médio, Ásia Central e a Ásia do Leste é baseada neste raciocínio.

Embora o governo do Quirguistão já tenha feito ameaças do gênero anteriormente, o fato é que os EUA vem perdendo espaço na região. As relações com Afeganistão e Paquistão se deterioraram muito nos últimos dois anos, a Índia, embora tratada como aliada, recusou-se a se alinhar com os americanos na questão do Irã e a China, principal potência no Sudeste asiático, também ganha cada vez mais espaço no Oriente Médio. Os russos, embora não disponham da mesma força econômica de chineses e indianos, têm um alto grau de influência política e interesses estratégicos na área.

O mercado do petróleo deverá continuar com alta volatilidade nos próximos meses. De acordo com a AIE (Agência Internacional de Energia), a OPEP (Organização dos Países Produtores de Petróleo) vem trabalhando com níveis cada vez mais baixos na sua capacidade ociosa – mantida para utilização em momentos de crise.

O principal fator na subida de mais de 20%, desde dezembro, no preço do barril é a possível escalada militar na região do estreito de Hormuz. Um ataque israelense sobre as instalações nucleares iranianas poderia acarretar em um estrangulamento no fluxo do petróleo, caso o Irã cumpra as ameaças já feitas. A Arábia Saudita, maior produtor do mundo, tem mantido sua produção em níveis recordes – aproximando-se dos 11 milhões de barris/dia – o que coloca em dúvidas a capacidade da OPEP de injetar mais petróleo na economia, durante uma possível crise – os sauditas respondem por cerca de 75% da capacidade ociosa da organização. Exluíndo-se cerca de 800.000 barris de petróleo iranianos à partir de 1o de Julho – data de início do embargo europeu – dessa equação, pode-se prever um cenário preocupante.

Estreito de Hormuz - no ponto mais estreito, 35 km separam Omã e Irã

Em paralelo, a redução drástica nas exportações da Síria devido à instabilidade interna e problemas com os produtores africanos, como Sudão do Sul e tensões constantes no Delta do Níger, na Nigéria, tornam a situação ainda mais complexa.

Não por acaso, as potências ocidentais – especificamente a Europa – tentam arrefecer a situação e evitar uma crise na região. Os mercados asiáticos, como Coréia do Sul e, principalmente, Japão, também vêem com maus olhos uma escalada militar no Golfo Pérsico, já que grande parte do petróleo consumido nesses países é proveniente de lá.

No entanto, a posição israelense sobre o Irã permanece a mesma. Netanyahu tem atuado fortemente em Israel para trazer o Knesset (Parlamento de Israel) e, sobretudo, a opinião pública para o seu lado – hoje, pesquisas dão conta de que 58% da população é contra um ataque sem a participação direta das forças americanas.

O levante popular na Síria completou um ano nesta semana. Para os rebeldes, há pouco para comemorar. Bashar al-Assad tem comandado uma campanha precisa de retomada de cidades até então sob comando dos insurgentes, como Homs e mais recentemente Idlib, demonstrando a força, organização e, sobretudo, lealdade de suas forças armadas. Mesmo sendo obrigados a cometer atrocidades – que hoje tem números ao redor de 8.000 mortos, de acordo com a ONU – os militares sírios não dão sinais de deserção.

Diferentemente do ocorrido na Líbia, a oposição síria não conseguiu se organizar ao redor de causas claras e não demonstrou coesão – apesar dos revoltosos lutarem sob a bandeira do Exército Livre da Síria, não há coordenação. A comunidade internacional não dá mostras de que está disposta a agir – Rússia e China vetaram uma operação militar e, recentemente, EUA e Reino Unido, através de seus chefes de governo, declararam que tal opção está descartada.

OBS.: a cidade de Idlib fica ao Norte de Homs

As questões domésticas influem tanto ou mais nesta análise. Comparando Assad e Qaddafi, fica clara a diferença na forma de cada um lidar com uma situação como esta. O líder líbio demonstrou total despreparo na reação ao levante popular, afirmando abertamente que estava disposto a ‘esmagá-lo’, gerando uma comoção na comunidade internacional que acarretou na operação da OTAN. Assad, por outro lado, manteve-se em silêncio, fazendo declarações contidas e, ao mesmo tempo, implementando toda a força do leal exército sírio contra os rebeldes. Observando o erro de Qaddafi, não ameaçou utilizar a força aérea, o que daria argumentos para a imposição de uma Zona de Exclusão Aérea. Além do mais, unidades menores, envolvendo tanques e infantaria altamente treinados, foram suficientes para retomar o controle dos núcleos da revolta. No momento, uma nova campanha será lançada contra a cidade de Deraa, onde outros massacres deverão ocorrer.

Hafez al-Assad, pai e predecessor

Seguindo a tradição familiar de pulso firme e manter-se no poder a qualquer custo – seu pai, Hafez al-Assad, utilizou as forças armadas contra uma revolta em Fevereiro de 1982 na cidade de Hama, gerando mais de 20.000 mortes – Assad permanecerá no poder por, no mínimo, mais alguns meses se as variáveis permanecerem as mesmas. No longo prazo, é difícil afirmar que o regime permanecerá intacto, já que os rebeldes não dão sinais de que vão se render e demonstram uma resiliência considerável, dados os inúmeros ataques pelas forças armadas, muito superiores em armamentos e organização.

 

Com duas vitórias nas primárias da noite de ontem, Rick Santorum teve como maior prêmio o prolongamento da disputa interna do Partido Republicano para definir um candidato para as eleições em Novembro. Embora pouco provável, ele ainda acredita na nomeação.

Santorum celebra as vitórias no Sul

Newt Gingrich foi o grande perdedor, já que os Estados mais conservadores eram tidos como seu ponto forte – ele permanece com apenas duas vitórias nos Estados da Geórgia e Carolina do Sul. Apesar disso, ele não dá sinais de que vai abandonar a disputa.

A campanha de Mitt Romney, embora não surpresa com o resultado, sai-se frustrada com os resultados. Pesquisas davam sinais de que o ex-governador de Massachusetts tinha chances de emplacar, pelo menos, uma vitória. O fato é que os eleitores daquela região não vêem Romney como conservador o suficiente – algo bastante explorado por Gingrich e Santorum. Com uma vitória ontem, ele ganharia credenciais para receber apoio maior dentro do partido, podendo encerrar a disputa interna e focar a campanha contra o atual presidente.

Disputa por delegados - são necessários 1.144 para a nomeação

O grande beneficiário desta disputa tão acirrada, naturalmente, é Barack Obama. Mais tempo de campanha interna entre os republicanos significa mais chances de os votos independentes migrarem para os Democratas em Novembro. Mesmo que Mitt Romney, o provável indicado e mais moderado das opções venha a ser o escolhido, será difícil separá-lo da onda conservadora que permeou a disputa interna republicana até agora.

Ron Paul não vem sendo mencionado pois suas chances são mínimas. Mas é importante frisar o suporte que suas pesadas críticas sobre a situação econômica atual – sendo o FED (Banco Central dos EUA) o principal alvo – e sua política externa isolacionista recebe dos jovens americanos.

A próxima primária será em Porto Rico, no dia 18, onde 23 delegados estarão em disputa no formato “winner-take-all“, ou seja, quem vencer leva todos os delegados. As primárias de ontem eram baseadas na proporcionalidade.

 

 

Recentemente, algumas pesquisas eleitorais nos EUA têm mostrado o ex-governador Mitt Romney na frente do atual presidente Barack Obama, numa eventual disputa entre ambos pela Casa Branca, caso as eleições fossem hoje. Embora ainda seja cedo para avaliar a profundidade de tais pesquisas, esse é um fenônemo a ser observado de perto.

Em algumas partes dos EUA, o galão já ultrapassa os 4 dólares

A força motriz dessas pesquisas vem sendo o preço da gasolina, que subiu consideravelmente no último ano. Eventos como a revolta na Líbia e a atual crise envolvendo o Irã elevaram o preço do galão para mais de USD 4,00 em algumas partes dos EUA, sendo que na maior parte do país o valor está ao redor de USD 3,80. Pesquisas indicam que mais de 80% da população acredita que os preços atingirão pouco mais de USD 4,00 nos próximos meses – e uma minoria acredita em até USD 5,00.

Caso a situação não se altere, o presidente Obama se verá obrigado a injetar uma quantidade considerável de petróleo na economia – tal quantidade viria da Reserva Estratégica de Petróleo (SPR na sigla em inglês). Em 2011, em meio à crise na Líbia, isso foi feito – à época, 30 milhões de barris foram colocados à disposição para acalmar os mercados. A reserva, que tem capacidade total de armazenamento de 727 milhões de barris, foi constituída em dezembro de 1975, após o trauma do choque de 1973-4. Sua utilização já foi alvo de críticas por não inspirar confiança o suficiente nos mercados, isso devido à má-utilização em momentos críticos e uma gestão que não leva em conta preceitos básicos do mercado – compras foram feitas quando o preço do barril esteve alto e vendas quando os preços caíam.

O fato é que a Casa Branca precisará resolver este problema no curto prazo, caso não queira dar argumentos para seu futuro adversário na campanha presidencial. Em meio às bravatas típicas do período eleitoral, preços altos nas bombas de gasolina podem ser fatais para a reeleição de Obama. É bom lembrar que – variáveis mercadológicas à parte – o preço do galão girava em torno de USD 1,90 no início da gestão atual, em Janeiro de 2009.

 

 

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OBS.:

1 galão = 3,78 litros (aprox.)

Hoje, 13 de Março, ocorrem mais primárias do Partido Republicano nos EUA. Dado que a corrida para receber a nomeação do partido se prolonga cada vez mais, uma possível consolidação de Mitt Romney poderia encerrar este processo e permitir o direcionamento da campanha para 4 de Novembro.

Um fator interessante nas primárias de hoje está nos Estados envolvidos – Alabama e Mississipi. Redutos tradicionalmente mais conservadores dos eleitores republicanos, vêm apresentando pesquisas que prevêem uma disputa acirrada entre Romney, mais moderado dentre os concorrentes, e Newt Gingrich e Rick Santorum, mais conservadores.

Mitt Romney faz campanha no Estado do Mississipi

Caso Mitt Romney vença em um, ou mesmo nos dois Estados, ele apresentará credenciais importantes para conquistar a ala mais conservadora do Partido Republicano e, consequentemente, tornar quase impossível a nomeação dos demais concorrentes. Se perder, não será nenhuma surpresa, mas a disputa interna se prolongará ainda mais – fator que pode enfraquecer o Partido Republicano na campanha contra Barack Obama.

 

Depois de mais uma rodada de primárias do Partido Republicano, Mitt Romney manteve-se na liderança mesmo perdendo para Rick Santorum no Estado do Kansas, mais importante em disputa no final de semana.

Santorum, com cerca de 51% dos votos, levou 33 dos 40 delegados em disputa naquele Estado. Romney ficou com os 7 restantes, dado que neste caso, a distribuição dos delegados é proporcional aos votos recebidos – em outros Estados, o sistema “winner-takes-it-all” dá todos os delegados para o vencedor, independentemente da margem. Hoje, a situação é a seguinte;

Nesta quarta-feira, 13, novas primárias ocorrerão nos seguintes Estados;

  • Alabama (50 delegados)
  • Mississipi (40 delegados)
  • Havaí (20 delegados)
  • Samoa Americana (9 delegados)

Será uma disputa interessante, uma vez que colocará em xeque a capacidade de Romney, mais moderado dentre os candidatos, de obter bons resultados em regiões tradicionalmente conservadoras da base republicana – casos de Alabama e MIssissipi. As pesquisas mais recentes mostram uma corrida acirrada; no Alabama, Romney (31%), Gingrich (30%) e Santorum (29%) estão tecnicamente empatados. No Mississipi, Gingrich (33%), Romney (31%) e Santorum (27%) também demonstram que não será fácil alguém disparar.

Tudo indica que a escolha por um candidato para enfrentar o Presidente Obama, em Novembro, ainda levará tempo.

Por razões óbvias, o programa nuclear iraniano e suas repercussões na região e no mundo tem sido o foco dos debates. E, quando se pensa na Síria, o assunto é o levante de parte da população contra o regime de Bashar al-Assad e suas represálias drásticas se manter no poder.

O fato é que, de forma discreta, o Departamento de Estado dos EUA tem mantido contato com os vizinhos da Síria – Jordânia, Iraque, Líbano e Arábia Saudita – oferecendo auxílio aos mesmos para lidar com um problema mais grave do ponto de vista geopolítico; o arsenal de armas químicas e bacteriológicas que, embora nunca comprovado, é tido por muitos como existente e que, em caso de um colapso no regime de Assad, poderia entrar nestes países através do mercado negro.

Embora a existência de tal arsenal nunca tenha sido comprovada, o mesmo recebe grande credibilidade por parte da comunidade internacional, especialmente no Oriente Médio. As armas, que envolvem gás mostarda e o chamado nerve gas, poderiam ser utilizadas com bombas cluster e mísseis balísticos.

Estes armamentos teriam sido desenvolvidos recentemente como uma forma de contrabalancear o arsenal nuclear de Israel, grande inimigo regional de Damasco. Com a situação interna na Síria se deteriorando a cada dia, a possibilidade deste tipo de arma cair nas mãos de grupos como o Hezbollah ou Hamas tornaria a dinâmica geopolítica regional ainda mais complexa e colocaria a segurança dos Estados vizinhos em xeque.

Este fator torna o processo de tomada de decisão, por parte da comunidade internacional, sobre intervir ou não ainda mais complicado. No Congresso americano, Senadores como John McCain (R), Lindsay Graham (R) e Joe Lieberman (I) já fazem pressão sobre a administração Obama para um plano militar para a Síria. Embora a existência do arsenal de destruição em massa possa acelerar este processo, os obstáculos para tal operação mostram-se difíceis de serem contornados.

A geografia da Síria dificultaria uma operação nos moldes do que ocorreu na Líbia e, além disso, o aparato militar daquele país ofereceria uma resistência maior e mais sólida. É importante lembrar que o exército sírio, apesar de algumas deserções, permanece coeso e fiel ao regime. O mesmo é composto quase que totalmente por alauítas, mesma vertente islâmica de Bashar al-Assad.

Ainda que, num cenário ideal, tais questões fossem contornadas, haveria ainda o fator diplomático. As posições de China e Rússia no Conselho de Segurança da ONU permanecem as mesmas – contra uma intervenção militar – e não dão sinais de que vão mudar no curto-prazo.

A crise síria ganha contornos dramáticos. Embora seja claramente necessária alguma medida para que civis parem de ser mortos de forma sistemática pelo exército, é preciso colocar todas as variáveis na equação para se tomar a decisão mais precisa. A tendência é de que o cenário naquele país não vá mudar tão rapidamente.

Potências ocidentais, representadas hoje pelo Grupo 5+1 – os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU e a Alemanha – concordaram em retomar as conversas com o Irã, na tentativa de chegar à uma solução diplomática para a crise que envolve o programa nuclear daquele país. Oficiais israelenses, como esperado, demonstraram ceticismo quanto à oferta iraniana feita através de Saeed Jalili, negociador oficial.

Saeed Jalili, negociador iraniano

A notícia vem em meio à recente vitória esmagadora do grupo do Aiatolá Ali Khamenei nas eleições parlamentares, enfraquecendo o presidente Mahmoud Ahmadinejad e, também, da visita do Primeiro Ministro Benjamin Netanyahu à Washington, durante a qual o Presidente Barack Obama reafirmou o alinhamento entre os dois Estados, o comprometimendo dos EUA com a defesa do Estado judeu mas, também, pediu tempo para que uma solução diplomática seja alcançada.

O Diretor-Geral da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), Yukiya Amano, afirmou que todas as instalações sob obervação da agência têm fins pacíficos. Porém, ele também afirma que há suspeitas de que outras instalações, não-declaradas, estejam direcionadas para fins militares. “O Irã não está nos falando tudo. Essa é a minha impressão” afirmou.

O Presidente Obama e o Primeiro Ministro Netanyahu

As palavras de Obama, pedindo por mais tempo para a diplomacia, foram elogiadas pelo líder supremo do Irã. O mesmo, fortificado após os resultados da última eleição, pode estar ganhando mais tempo, já que o discurso pró-ataque israelense tem se intensificado. Na terça-feira (6), foi anunciado que Netanyahu pediu para o Secretário da Defesa, Leon Panetta, aprovar a venda de bombas anti-bunker para as Forças de Defesa de Israel. Tais artefatos seriam cruciais para aumentar as chances de sucesso de um ataque israelense às instalações iranianas.

Aiatolá Ali Khamenei

A população do Irã vive o medo de um possível confronto militar com o Ocidente. Khamenei, por outro lado, vê nesta guerra fria a possibilidade de o regime revolucionário demonstrar força. O Aiatolá vê os EUA como uma potência em declínio, principalmente regional – e a aquisição do artefato nuclear daria ao Irã o instrumentário necessário para consolidar seu projeto de supremacia regional – algo impensável para Israel e, principalmente, para os Sauditas, que observam atentos o desenrolar desta crise. Logo, é prematuro dizer que a oferta de negociação represente, de fato, um arrefecimento por parte de Teerã.

Após a ‘Super Tuesday’, que não trouxe nenhum resultado concreto em termos de consolidação de um candidato como grande favorito para a nomeação do Partido Republicano, Mitt Romney manteve-se na dianteira na disputa pelos delegados, ampliando a vantagem sobre Rick Santorum.

Embora o ex-Governador de Massachusetts tenha aumentado a diferença no número de delegados para o ex-Senador Santorum – de 90, antes de 6 de Março, para 202 hoje – a disputa pela nomeação do partido permanece aberta até, no mínimo, as próximas primárias que ocorrem neste sábado (10/03). As zonas em disputa são;

  • Kansas (40 delegados)
  • Ilhas Virgens Americanas* (9 delegados)
  • Ilhas Marianas do Norte* (9 delegados)
  • Ilha de Guam* (9 delegados)

 

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* Nota de esclarecimento;

As Ilhas Marianas do Norte tem o mesmo status político de Porto Rico, ou seja, os habitantes são cidadãos americanos e tem representatividade na Câmara, embora seus representantes não disponham de poder de voto. As Ilhas Virgens Americanas e a Ilha de Guam são territórios não-incorporados dos EUA. A Constituição americana rege as leis locais, porém apenas cidadãos americanos – não é toda a população local que dispões deste status – podem votar nas eleições.

 

Como previsto, as 10 primárias do Partido Republicano realizadas ontem, nos EUA, não geraram um resultado grande o suficiente em favor de nenhum dos candidatos, o que acarretaria em uma possível definição do nomeado pelo partido para concorrer com Barack Obama em Novembro.

Com 1.600 delegados restantes para disputa, Mitt Romney, o ex-governador de Massachusetts, aumentou sua vantagem sobre o segundo colocado, o ex-senador Rick Santorum. Até ontem, a diferença entre ambos era de 90 delegados – hoje ela subiu para 200.

Romney conseguiu uma importante, porém estreita, vitória no Estado de Ohio. Ele venceu também em Massachusetts, Idaho, Alaska, Vermont e Virginia. Rick Santorum venceu no Tennessee, em Oklahoma e na Dakota do Norte. O ex-líder republicano na Câmara Newt Gingrich venceu apenas, como esperado, no Estado da Georgia e Ron Paul não obteve nenhuma vitória.

Há um fator importante a ser considerado;  prolongamento da campanha. Embora inevitável no momento, pode se provar perigoso, uma vez que os candidatos tem adotado um discurso mais conservador visando ganhar espaço dentro do partido – e conseqüentemente levar a nomeação. Essa estratégia pode dar resultado para a escolha do concorrente de Obama, mas pode também enfraquecer o mesmo durante a campanha presidencial, já que a eleição de Novembro será definida pelos independentes – de um alinhamento político mais de centro.

 

Hoje, 6 de Março de 2012, é um dia importante para as eleições nos EUA.

Conhecida como ‘Super Tuesday’, 10 Estados realizam primárias para escolher um dentre os quatro candidatos remanescentes. Nesta data, 437 delegados estão em disputa, sendo que para a nomeação, sao necessários 1,144. Lembrando que o Partido Democrata não realiza primárias, uma vez que o Presidente Barack Obama disputa reeleição com o apoio do partido.

Dentre os concorrentes para a nomeação do Partido Republicano, Mitt Romney, ex-governador de Massachusetts, é o grande favorito com 37,3% das intenções de voto. Rick Santorum, ex-Senador pelo Estado da Pennsylvania, aparece em segundo lugar com 26,7%. Já mais atrás na disputa, Newt Gingrich, ex-líder dos Republicanos na Câmara, vem em terceiro, com 14,7% e Ron Paul, deputado pelo Estado do Texas, em quarto, com 12,6%.

Embora historicamente o candidato republicano seja definido na Super Tuesday, é improvável que isso ocorra hoje, dado que a diferença entre Romney e Santorum não é suficiente para declarar o ex-governador como o dono da maioria dos votantes. Ou seja, até as primarias da California, uma das últimas e sempre decisiva – dado o número elevado de delegados em disputa – será difícil para um dos dois líderes conseguir uma vantagem considerável.

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