O mercado do petróleo deverá continuar com alta volatilidade nos próximos meses. De acordo com a AIE (Agência Internacional de Energia), a OPEP (Organização dos Países Produtores de Petróleo) vem trabalhando com níveis cada vez mais baixos na sua capacidade ociosa – mantida para utilização em momentos de crise.

O principal fator na subida de mais de 20%, desde dezembro, no preço do barril é a possível escalada militar na região do estreito de Hormuz. Um ataque israelense sobre as instalações nucleares iranianas poderia acarretar em um estrangulamento no fluxo do petróleo, caso o Irã cumpra as ameaças já feitas. A Arábia Saudita, maior produtor do mundo, tem mantido sua produção em níveis recordes – aproximando-se dos 11 milhões de barris/dia – o que coloca em dúvidas a capacidade da OPEP de injetar mais petróleo na economia, durante uma possível crise – os sauditas respondem por cerca de 75% da capacidade ociosa da organização. Exluíndo-se cerca de 800.000 barris de petróleo iranianos à partir de 1o de Julho – data de início do embargo europeu – dessa equação, pode-se prever um cenário preocupante.

Estreito de Hormuz - no ponto mais estreito, 35 km separam Omã e Irã

Em paralelo, a redução drástica nas exportações da Síria devido à instabilidade interna e problemas com os produtores africanos, como Sudão do Sul e tensões constantes no Delta do Níger, na Nigéria, tornam a situação ainda mais complexa.

Não por acaso, as potências ocidentais – especificamente a Europa – tentam arrefecer a situação e evitar uma crise na região. Os mercados asiáticos, como Coréia do Sul e, principalmente, Japão, também vêem com maus olhos uma escalada militar no Golfo Pérsico, já que grande parte do petróleo consumido nesses países é proveniente de lá.

No entanto, a posição israelense sobre o Irã permanece a mesma. Netanyahu tem atuado fortemente em Israel para trazer o Knesset (Parlamento de Israel) e, sobretudo, a opinião pública para o seu lado – hoje, pesquisas dão conta de que 58% da população é contra um ataque sem a participação direta das forças americanas.

O levante popular na Síria completou um ano nesta semana. Para os rebeldes, há pouco para comemorar. Bashar al-Assad tem comandado uma campanha precisa de retomada de cidades até então sob comando dos insurgentes, como Homs e mais recentemente Idlib, demonstrando a força, organização e, sobretudo, lealdade de suas forças armadas. Mesmo sendo obrigados a cometer atrocidades – que hoje tem números ao redor de 8.000 mortos, de acordo com a ONU – os militares sírios não dão sinais de deserção.

Diferentemente do ocorrido na Líbia, a oposição síria não conseguiu se organizar ao redor de causas claras e não demonstrou coesão – apesar dos revoltosos lutarem sob a bandeira do Exército Livre da Síria, não há coordenação. A comunidade internacional não dá mostras de que está disposta a agir – Rússia e China vetaram uma operação militar e, recentemente, EUA e Reino Unido, através de seus chefes de governo, declararam que tal opção está descartada.

OBS.: a cidade de Idlib fica ao Norte de Homs

As questões domésticas influem tanto ou mais nesta análise. Comparando Assad e Qaddafi, fica clara a diferença na forma de cada um lidar com uma situação como esta. O líder líbio demonstrou total despreparo na reação ao levante popular, afirmando abertamente que estava disposto a ‘esmagá-lo’, gerando uma comoção na comunidade internacional que acarretou na operação da OTAN. Assad, por outro lado, manteve-se em silêncio, fazendo declarações contidas e, ao mesmo tempo, implementando toda a força do leal exército sírio contra os rebeldes. Observando o erro de Qaddafi, não ameaçou utilizar a força aérea, o que daria argumentos para a imposição de uma Zona de Exclusão Aérea. Além do mais, unidades menores, envolvendo tanques e infantaria altamente treinados, foram suficientes para retomar o controle dos núcleos da revolta. No momento, uma nova campanha será lançada contra a cidade de Deraa, onde outros massacres deverão ocorrer.

Hafez al-Assad, pai e predecessor

Seguindo a tradição familiar de pulso firme e manter-se no poder a qualquer custo – seu pai, Hafez al-Assad, utilizou as forças armadas contra uma revolta em Fevereiro de 1982 na cidade de Hama, gerando mais de 20.000 mortes – Assad permanecerá no poder por, no mínimo, mais alguns meses se as variáveis permanecerem as mesmas. No longo prazo, é difícil afirmar que o regime permanecerá intacto, já que os rebeldes não dão sinais de que vão se render e demonstram uma resiliência considerável, dados os inúmeros ataques pelas forças armadas, muito superiores em armamentos e organização.

 

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