É possível entender muito sobre a economia de um país através da análise da sua estrutura logística de transporte e infra-estrutura em geral. No caso da China, o investimento pesado nos projetos rodoviários e a relação com seu modelo econômico fundamentado em exportações pode elucidar muito sobre os desafios do dragão asiático.

Hoje, cerca de 76% do total de transportes de cargas na China são feitos pelo modal rodoviário. Para se ter uma idéia, a malha viária da China hoje alcança os expressivos 81 mil quilômetros de estradas (ficando atrás apenas dos EUA). Em 1992, esse numero nao chegava nem aos mil (aproximadamente 570 km de rodovias expressas).

Denominador comum em discussões entre empresários no Brasil, é sabido que um dos grandes obstáculos para um real desenvolvimento da economia do país é a melhoria da infra-estrutura de transportes. Em termos de custos, as rodovias são o meio mais custoso se comparado a ferrovias e vias fluviais. Ou seja, para um país ganhar competitividade e eficiência, o ideal seria ter uma malha ferroviária e fluvial maior. Na China o problema não é muito diferente do Brasil e uma taxa baixa das operações de transporte de cargas são feitos por ferrovias e vias fluviais (aproximadamente 12-13% para cada um dos modais).

Milhares de caminhões em direção a Pequim, somados a problemas como obras e má-gestão de tráfego resultaram em um trânsito de cerca de 100km de extensão e duração de 9 dias

Além do custo de transporte, o sistema rodoviário chinês enfrenta outros problemas comuns a este modal, como trânsito caótico. Recentemente foi noticiado um engarrafamento, nos arredores de Pequim, que durou nada menos do que 9 dias. Houveram relatos de motoristas que percorreram 500-600 metros durante períodos de 4 a 5 horas. Para a segunda maior economia do mundo, aspirante ao primeiro posto, este modelo nao é sustentável.

Se ligarmos a estrutura de transportes chinesa com a localização geográfica do seu centro produtivo econômico podemos entender melhor o tamanho do desafio chinês em distribuir o desenvolvimento de forma mais uniforme pelo país. O coração da economia exportadora chinesa está no litoral. Para levar desenvolvimento ao interior, onde as taxas de desenvolvimento ainda são baixas, o governo esta tentando transferir parte da atividade econômica para oeste da costa.

Se o projeto do governo chinês é, de fato, exportar o crescimento do litoral para o coração da China, e assim evitar uma série de problemas como um êxodo populacional fixo (uma vez que movimentos migratórios de proporções enormes já ocorrem anualmente), a realidade da infra-estrutura chinesa representará um desafio considerável.

Distribuição das exportações chinesas por províncias (dados de 2011)

Embora funcional no litoral, onde distâncias são relativamente menores e fatores como combustível e desgaste dos caminhões nao são tão significantes, operações logísticas maiores, conectando o interior às áreas de escoamento da produção, vão sem duvida se deparar com desafios e custos exorbitantes. São esses obstáculos logísticos, causados por fatores geográficos, que dificultam o desenvolvimento de uma nação. O empresariado brasileiro que o diga!

A rodada de eleições do último final de semana demonstrou ao mundo, mais uma vez, como uma crise econômica é no fundo uma crise política. Não é de se surpreender, uma vez que o raison d’être da União Européia foi, desde o início, baseado em questões essencialmente políticas.

Na França, o socialista e crítico aberto da austeridade sem crescimento, François Hollande, venceu Nicolas Sarkozy. Na Grécia, como já antecipado pelo Insight Geopolítico, diversos partidos ganharam espaço no Parlamento, impossibilitando a coalizão necessária para a continuidade no processo de implementação das medidas de austeridade – sem as quais os pacotes de ajuda financeira não virão. No Estado de Schleswig-Holstein, a coalizão de Angela Merkel também sofreu uma derrota, dando sinais de que mesmo na Alemanha, em alguns locais, já existe uma oposição forte ao status-quo.

O projeto de moeda única não levou em consideração fatores políticos. Na história, nunca houve um caso de sucesso de um projeto de união monetária sem a união política.

Nos anos em que a economia esteve vibrante, o sentimento europeu pelo projeto da moeda única manteve-se fortalecido, facilitando a cooperação e buscando avançar em direção à união política – sem a qual é inviável a sobrevivência da união monetária. Porém, a crise trouxe uma mudança drástica neste cenário. Hoje, o debate não é mais sobre como consolidar a união política, mas sobre quem se prontificará a salvar a UE do colapso. A Alemanha, economia mais forte e peça central do projeto europeu, não se mostra disposta a exercer tal papel caso suas precondições não sejam atendidas.

É neste ponto que entra o fator geopolítico.

Com o colapso da URRS e a reunificação alemã, os medos de uma Alemanha forte e assertiva voltaram à tona. Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, os governos da França e do Reino Unido ja se opunham ao processo de reunificação alemão. Como solução, veio a ideia da união monetária, que tornaria ainda mais sólidos os laços entre as potências européias – especialmente Paris e Berlim.

Hoje, este sentimento volta a aparecer de forma contida. Países do sul da Europa vêem uma maior assertividade alemã, principalmente com os requisitos exigidos por Berlim para a liberação dos grandes pacotes financeiros para as economias endividadas. O desequilíbrio econômico causado pela crise deu origem a um novo problema de cunho geopolítico.

Um fator largamente desconsiderado pelos fundadores da UE foi a identidade nacional dos povos europeus. Desde a fundação do bloco, pouca ou nenhuma atenção foi dada ao fato de que, embora o desejo pela paz e estabilidade fosse consensual, não havia – e não há até hoje – uma noção popular e difundida da identidade ‘européia’ e não apenas grega, belga ou holandesa.

O parlamentar Geert Wilders, líder do Partido da Liberdade - ao retirar apoio à coalizão por questões ideológicas, o governo holandês ruiu

Desta forma, tão logo a crise chegou, populações tanto dos países credores como devedores abraçaram ideais nacionalistas. A confirmação veio através dos resultados das últimas eleições. A ultra-direita e a extrema esquerda tiveram resultados expressivos nas recentes eleições. Ideias anti-européias, anti-imigração e pró-nacionalistas ganharam muito espaço, criando obstáculos consideráveis não só à governância doméstica destes Estados, mas também, num âmbito macro, à estrutura política da UE.

Neste contexto, dois cenários se colocam frente ao futuro da Europa; um é a manutenção do formato atual, mediante à imposição de medidas de austeridade severas a diversos países, gerando anos de depressão que poderão se traduzir em mais instabilidade política – grande parte destes países tem altos índices de desemprego entre a população jovem, uma mistura perigosa.

A segunda opção, logicamente, é a gradual saída de alguns países da zona do Euro – hoje o caso provável seria a Grécia. As consequências desse cenário podem ser desastrosas, dependendo de como os mercados avaliarem a capacidade dos outros membros remanescentes em se manter no bloco – principalmente os demais países hoje em situação de risco, à exemplo de Espanha e Portugal. Isso sem mencionar os impactos subsequentes que o caos social grego pós-euro pode gerar sobre o resto da Europa.

A UE se vê hoje em uma encruzilhada, na qual os dois caminhos serão difíceis de se percorrer. Caso ela sobreviva, cenário mais provável, ela perderá grande parte da força política que já teve, embora possa ser capaz de manter o equilíbrio geopolítico.

A segunda maior economia da União Européia pode ser o núcleo de um novo recrudescimento da crise no continente. Diferentemente de países periféricos, cujas economias em semi-colapso já deram alguns sustos nos mercados, um solavanco vindo de Paris poderia acarretar até mesmo na dissolução do bloco, que tem como pilares justamente a própria França e a Alemanha.

Recordista em gastos públicos (56% do PIB) e em volume de empregados pelo Estado por grupo de 1.000 habitantes (90, contra 50 na Alemanha), a economia francesa começa a dar sinais claros de uma realidade já não tão recente: sua competitividade diminuiu muito ao longo dos últimos anos, criando um descompasso com uma folha de pagamentos estatal digna de países como Suécia. Para se ter uma ideia, em 2000 o custo/hora de um trabalhador francês era 8% mais barato que o de um alemão. Hoje o mesmo trabalhador tem um custo/hora 10% mais caro que na Alemanha.

Com uma dívida pública beirando os 90% e uma economia semi-estagnada, o modelo francês de estado de bem-estar social inchado é solo fértil para a eclosão de uma crise severa.

François Hollande e Nicolas Sarkozy - eleição francesa pode ser decisiva para um novo recrudescimento da crise

É nesse contexto que entram as eleições, com o segundo turno marcado para 6 de Maio. O atual presidente, Nicolas Sarkozy, enfrenta um empolgado François Hollande, proveniente do socialismo francês. O primeiro turno terminou com um quase empate técnico entre ambos. As extremas direita (Marine Le Pen com 18%) e esquerda (Jean-Luc Melenchon com 11%) ficaram em 3o e 4o lugares, respectivamente.

A possibilidade de Hollande vencer Sarkozy não só assusta este último – que entraria para a história como o segundo presidente da 5a Republica (iniciada em 1958) a não se reeleger – mas, principalmente, os mercados. Defendendo políticas pouco ortodoxas, como a renegociação do Pacto Fiscal Europeu, que regula pela responsabilidade orçamentária dos Estados-membro, aumentar o salário mínimo e retomar a aposentadoria para os 60 anos, Hollande passa a ideia de que vai colocar o processo de contenção da crise européia em xeque.

Por mais que seja importante ler tais discursos e posições pelo prisma eleitoral, tais medidas representam um risco grande à Franca e à Europa. Dado que o eleitorado frances é reconhecidamente reacionário a mudanças no status quo do modelo de estado paternalista – alvo principal das medidas de austeridade tão criticadas por Hollande – suas chances de vitória não são pequenas. E, mesmo que muitos dos eleitores franceses não estejam convencidos de que Hollande é a melhor opção, a rejeição a Sarkozy pode lhe dar a presidência, já que grande parte do eleitorado não gosta da ideia de mais 5 anos da administração atual.

O desempenho da extrema direita com Marine Le Pen, e da extrema esquerda com Jean-Luc Mélenchon, também diz muito sobre a cena política local. A fobia com quaisquer influencias externas na sociedade francesa – seja a globalização ou mesmo a UE – se refletiu no desempenho de candidatos mais extremistas. A França adotou o mantra de que os males sofridos hoje pela sua economia têm sua raiz na abertura do país para o mundo. Entretanto, os franceses não parecem compreender que, sem as receitas provenientes de um mercado aberto, será impossível balancear os gastos públicos excessivos do Estado francês e evitar um colapso.

Risco de fragmentação da UE existe e não é pequeno

O grande perigo do discurso de François Hollande está justamente no fato de suas propostas estarem sintonizadas com os valores das massas. Mesmo que ele não cumpra parte das promessas de campanha, as pressões para tanto serão grandes, podendo ter resultados políticos inesperados e com conseqüências difíceis de se prever e quantificar. Para dar um exemplo, sua disposição a lutar por uma revisão do Pacto Fiscal Europeu pode gerar indisposições com a Alemanha, o que levaria instabilidade ao campo político europeu.

Caso a França siga este caminho, será muito mais fácil para os outros países europeus adotarem políticas similares, uma vez que há um crescente descontentamento com as medidas atuais pela ausência de mecanismos favoráveis ao crescimento. Nesta situação, pode haver um efeito cascata capaz de enterrar o projeto de integração europeu.

Desde o fim da União Soviética, os Estados têm optado pelo modelo econômico liberal, diminuindo sua participação na economia, principalmente através das privatizações de suas empresas públicas. A ascensão das economias emergentes – os BRICS – somada a crise de 2008, colocou esse movimento em xeque. As intervenções governamentais na economia cresceram muito após a crise, e essa tem sido a prática mais comum tanto para desenvolvidos quanto para emergentes. Contudo, no segundo caso, o fato de suas economias terem se consolidado sob um modelo de state capitalism torna ainda mais fundamental a intervenção do Estado na economia.

YPF, subsidiária da espanhola Repsol, foi expropriada pelo governo de Cristina Kirchner

É nesse contexto que, na semana passada, a Argentina decidiu nacionalizar a YPF, petrolífera subsidiária da espanhola Repsol no país. Em geral, expropriações são facilitadas por questões primordiais do sistema internacional político e pela economia mundial. A primeira é a própria soberania dos países; sem uma autoridade supranacional capaz de impor regras e aplicá-las, as nações são sempre a maior autoridade no que diz respeito a suas vontades e interesses. A segunda questão é de cunho econômico; a atual onda de alta nos preços de commodities torna economicamente atraente a nacionalização de determinados setores da economia, e transformá-los em instrumentos de política interna e externa. Não por acaso, boa parte das gigantes petrolíferas hoje pertencem a governos, como a Saudi Aramco (Arábia Saudita), a CNOOC (China) ou a própria Petrobrás.

Para empresas e governos, o ideal é antever e se prevenir quanto a ações de nacionalização. A ação de expropriar a propriedade de determinada empresa pode ser baseada em diferentes motivações e ocorrer de formas distintas. O caso da YPF elucida dois fatores importantes como motivação para tal ação: ideologia e nacionalismo.

O nacionalismo é um fator crucial nas expropriações. Normalmente utilizado por governos quando países passam por momentos de crise doméstica, uma de suas ferramentas é encontrar um “culpado” externo para justificar falhas internas. Desta forma, nacionalizar ativos de estrangeiros em setores de valor, normalmente commodities, se traduz, politicamente, em um momento de orgulho nacional e uma forma de angariar apoio da população ao governo. Da mesma forma, esses setores estratégicos também servem de fonte de renda para financiar políticas populistas.

Cristina Kirchner - exemplo clássico de governante populista

 

Por fim, deve-se incluir na análise a ideologia dos governos em exercício. Processos de expropriação baseados em questões ideológicas são, historicamente, um dos maiores fatores por trás destas ações. Como políticos esquerdistas não tendem a esconder seus objetivos, é possível antever tal fenômeno. O governo de Cristina Kirchner, assim como o de seu predecessor e marido, Néstor Kirchner, sempre se baseou em uma plataforma populista. Uma grande fração das contas do Estado são direcionadas aos subsídios de serviços, produtos e crédito fácil. Embora a Argentina tenha experimentado algum crescimento econômico nos últimos tempos, tal modelo enfraquece as contas governamentais, o que força o aumento de impostos, prejudicando a competitividade da economia do país. Acusar uma multinacional – neste caso a Repsol – de não contribuir com a sociedade é cômodo e relativamente fácil. No médio e longo prazo, quem mais perde é a própria Argentina, pois cada vez mais afugenta o investimento estrangeiro tão necessário para o desenvolvimento, principalmente do setor energético.

O caso da nacionalização da YPF, é apenas mais um episódio de um fenômeno que não da sinais de que vá se extinguir nos próximos anos. Pelo contrário. Como vimos, expropriações podem se tornar mais freqüentes com o crescimento do modelo capitalista estatal, praticado principalmente pelas economias emergentes.

 

Em um mundo tão imprevisível, como o de hoje, os riscos políticos ganham uma relevância ainda maior. Em geral, os maiores riscos políticos sempre estiveram nos mercados emergentes, onde as instituições não são tão sólidas e interferência do Estado no mercado é constante. Entretanto, mercados desenvolvidos, como Europa central – Alemanha, França, Reino Unido, – EUA e outros, também podem oferecer determinados riscos políticos que, à primeira vista, não são visíveis.

Recentemente, o conglomerado brasileiro Odebrecht sofreu um revés político que pode comprometer suas operações nos EUA, no Estado da Florida. O governador Rick Scott devera sancionar uma nova lei na qual prevê que empresas com negócios em Cuba, em valores acima de USD 1 milhão, serão proibidas de operar na Florida.

Lei no Estado da Florida pode comprometer investimentos de gigante brasileira

Ideologias são um fator presente na análise do risco político. Por exemplo, historicamente, quando pensamos em expropriações – algo que ocorreu com a Petrobrás, em 2006, na Bolívia – ideologias são a força motriz por trás deste tipo de evento. Contudo, ideologia e afiliações políticas podem afetar empresas de outras formas menos agressivas e custosas. No caso específico da lei da Florida, seu idealizador é o deputado Michael Bileca, casado com uma cubana. Esse projeto recebe apoio incondicional do lobby anti-castrista, uma das grandes forças políticas do Estado. A população cubana da Florida, em sua maioria descendente de refugiados da revolução de 1959, vê com maus  olhos o regime do país caribenho e são apoiadores irredutíveis do bloqueio, mantido desde 1962.

O Brasil é hoje o principal parceiro econômico da Florida, e a Odebrecht é parte importante deste cenário. Grandes contratos já estão em execução e há negociações para crescimento nos investimentos. Ao mesmo tempo, a posição da empresa brasileira em Cuba é bastante estratégica.

Desde que Raúl Castro, irmão de Fidel, assumiu o poder na ilha, diversas medidas econômicas de abertura vem sendo implementadas. A previsão é de que, em breve, Cuba será novamente um pólo muito atrativo para investimentos em diversas áreas – já que hoje há uma mão-de-obra qualificada subutilizada devido às políticas socialistas ainda predominantes. O Brasil já explora estas variáveis e, no caso da Odebrecht, já há negócios em andamento nos setores de infraestrutura e agronegócio.

Embora a lei ainda não tenha sido sancionada, os negócios da  empresa brasileira estão sob ameaça. Uma decisão política pode afetar diretamente sua estratégia, desmontrando assim a necessidade de lidar de forma sistemática e profissional com os riscos politicos.

BRIC - Grupo apresenta diferenças profundas, impossibilitando coordenação nos campos econômico e, principalmente, político

Nos últimos anos, um dos termos mais utilizados no cenário político-econômico internacional foi a sigla BRIC — Brasil, Rússia, Índia e China — hoje atualizada para BRICS — sendo o ‘S’ referência à África do Sul. Apesar desses países estarem vivendo seu melhor momento, em termos de crescimento econômico e relevância política, ainda assim compõem um grupo bastante distinto. Não por acaso, desde que a sigla foi cunhada em 1o de Outubro de 2003, no relatorio “Dreaming with BRICs: The Path to 2050“, publicado pelo banco Goldman Sachs, esse países foram incapazes de criar uma agenda própria e agirem em coalizão sobre qualquer tema – da economia à posicionamentos quanto a questões geopolíticas.

Uma simples análise histórica, sob o prisma do risco político, já aponta falhas na previsão feita pelo Goldman Sachs. Em 2003, o relatório previu que os BRIC serão, até 2050, as economias predominantes do globo, apenas atrás dos EUA e Japão. Uma pergunta objetiva já colocaria em xeque a previsão: o que garante que os objetivos político-econômicos de tais Estados serão os mesmos pelas próximas décadas? Se olharmos para os últimos 47 anos, todos os membros do suposto grupo passaram por mudanças políticas substanciais, com implicações diretas em suas economias.

China - caráter autoritário do regime não se alterou, apesar das mudanças expressivas na estratégia política

Nestas últimas quatro décadas, a China passou por muitas transformações e nem todas elas produziram o desenvolvimento econômico dos últimos 20 anos. A visão política de Mao Zedong não produziu industrialização e desenvolvimento. De forma similar, tratar as decisões políticas dos próximos 47 anos da China como certeiras e únicas é uma grande simplificação de um país altamente complexo politica e socialmente. Dados os diversos desafios geopolíticos e, sobretudo, sociais que os chineses enfrentam no âmbito doméstico, fica evidente que muitos outros cenários poderiam se formar, alterando o curso atual. Bastaria, nos próximos 15 anos, sua economia não crescer os essenciais 8-9%/ano, algo perfeitamente possível, para não só entrar em uma complexa e perigosa crise interna, mas levar consigo diversos outros mercados, que hoje também vivem boomseconômicos devido à excessiva demanda chinesa por recursos naturais e commodities. Tal cenário poderia, sem sombra de dúvidas, colocar em xeque a estrutura política chinesa.

Rússia - até 1991, núcleo do Império Soviético

Na mesma linha de raciocínio, ao longo das últimas quatro décadas, a Rússia deixou de ser o império centrado na União Soviética – que se extendia do Leste europeu ao extremo Oriente e, ao Sul, até a Ásia central – a um país relativamente menor, com um sistema político diferente e altamente dependente de exportações de recursos naturais. Dadas as prioridades politico-sociais russas, é impossível afirmar, baseado somente em dados económicos, que sua estratégia para os próximos quarenta anos será a mesma.

Os objetivos político-econômicos de cada país variam e se adaptam à realidades que mudam conforme o tempo. A análise feita pelo Goldman Sachs trabalha com diversos índices econômicos, o que sem duvida é importante ao se fazer previsões sobre a evolução de Estados. Porém, é impossível afirmar que a estratégia chinesa ou russa, para os próximos 40 anos, será rigorosamente a mesma e que não haverá qualquer mudança política capaz de influenciar a economia. O mesmo se aplica ao Brasil e à Índia.

Por fim, a ausência do componente geopolítico no relatório em questão também é intrigante. Uma análise básica dos BRICS já é suficiente para apontar dúvidas quanto à possibilidade de cada um sofrer uma mudança política considerável. Nos últimos 40-50 anos, cada um dos países em questão viveram diversas transformações. Acreditar que um boom nos últimos 8 anos será suficiente para garantir o status quo por mais três ou quatro décadas é, no mínimo, pretencioso.

Crise grega pode se agravar

Embora a crise grega tenha se estabilizado, eventos políticos no país podem levar a uma nova situação de instabilidade nos mercados internacionais. O principal fator? A proximidade das eleições, previstas para meados de Maio.

Pesquisas hoje dão conta de que pelo menos oito partidos diferentes deverão ganhar assentos no Parlamento grego. Caso as pesquisas se confirmem, o risco de as medidas de austeridade aprovadas recentemente pela coalisão PASOK (socialista) e o Nova Democracia (conservador) serem atacadas é grande, o que colocaria em xeque os pacotes de ajuda financeira e poderia acarretar em um recrudecimento da crise.

Mesmo com o partido Nova Democracia liderando as pesquisas para as eleições, e o PASOK vindo logo atrás, os dois juntos não conseguiriam, hoje, uma maioria suficiente para governar sem depender de negociações com a oposição. Desta forma, a dificuldade para se aprovar medidas de austeridade – exigências tradicionais das organizações financeiras que hoje ajudam a Grécia, como o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional – será maior. Maior dificuldade significa mais tempo gasto com barganhas políticas e maiores chances de uma piora no cenário atual.

Dado que a Grécia precisará de mais pacotes de ajuda financeira para se sustentar, mais cortes nas contas governamentais serão exigidos, o que certamente gerará uma grande insatisfação popular. Hoje o desemprego está na casa dos 20% e tais cortes atingiram diretamente uma parcela considerável da população – o que, consequentemente, afeta a já fraca economia grega.

Parlamento Grego - dificilmente haverá uma maioria clara após as eleições

A Itália, outro foco de grande preocupação em meio à crise, instalou um governo provisório, repleto de tecnocratas, com a função primordial de implementar medidas de austeridade para colocar as contas do país em ordem e, somente em 2013, realizar novas eleições – o que mitiga o risco político agora latente na Grécia.

Ao que tudo indica, novos solavancos virão da Europa nos próximos meses. A possibilidade de uma saída da Grécia da zona do Euro, num cenário pessimista, não está descartada.

A Insight Geropolítico continuará monitorando os desdobramentos da crise na Grécia e os riscos políticos inerentes aos possíveis cenários.

 

ETS, que visa reduzir emissões de carbono de aviões, pode causar problemas econômicos

“O que surgiu como uma solução para o meio-ambiente se tornou fonte para uma possível batalha comercial” disse Thomas Enders, alto executivo da Airbus.

O Regime de Comércio de Emissões da UE (Emissions Trading System) de CO2, que entrou em vigor em Janeiro de 2012, tem por princípio a disponibilização de créditos para emissões do gás para as companhias aéreas – européias ou não – operando no espaço aéreo europeu. Cada companhia tem direito a um volume X de emissões, de acordo com o número de vôos operados na Europa. A própria companhia é responsável pelo monitoramento deste processo e, ao final de cada período, ela deve entregar um relatório às autoridades responsáveis. Caso ela tenha utilizado uma quantidade de créditos abaixo da média calculada, ela poderá comercializar os mesmos para outras companhias que necessitem. Caso tenha ultrapassado o limite, pagará multas progressivas., o que fatalmente encarece a operação.

O projeto, fortemente apoiado pelo Partidos Verdes Europeu, tem como premissa não só o cuidado com o meio-ambiente, mas servir de base para um projeto de mesma espécie em escala global. O resultado, porém, pode ser bem diferente. A Europa, ainda em profunda crise econômica, pode entrar numa guerra comercial que não tem condições de vencer. Hoje, uma negociação entre Airbus e os chineses, envolvendo 45 aeronaves e receitas ao redor de USD 12 bilhões, está congelada. Autoridades de Nova Delhi também já deixaram claro que não vão aceitar as novas regras e ameaçam proibir companhias indianas de cooperarem com o sistema e disponibilizarem seus níveis de emissões – dado que 73% do mercado de aviação comercial da Índia é ocupado por empresas européias, não se trata de uma ameaça qualquer.

Airbus da Air China - negociação de 45 novas aeronaves está congelada

O que fica claro é os gigantes China e Índia não estão dispostos a abrir mão de ganhos econômicos, e sacrificar um setor forte de suas economias, em prol de políticas ambientais. O interessante é que uma parte dos próprios europeus também não está satisfeita. Um grupo de empresas aéreas, liderado pela Airbus, já se organizou para cobrar um relaxamento das autoridades européias quanto às regras do sistema de emissões.

A disputa entre os partidos verdes, que ganham cada vez mais espaço na cena política européia e fazem grande pressão por políticas ambientais rígidas, e o empresariado europeu tende a se intensificar. Em meio a uma Europa passando por momentos difíceis do ponto de vista econômico, não será surpresa observar movimentos políticos fortes contra possíveis decisões politicamente incorretas das autoridades européias, já que no curto prazo, as contas vão pesar mais que a natureza.

Recentemente, algumas pesquisas eleitorais nos EUA têm mostrado o ex-governador Mitt Romney na frente do atual presidente Barack Obama, numa eventual disputa entre ambos pela Casa Branca, caso as eleições fossem hoje. Embora ainda seja cedo para avaliar a profundidade de tais pesquisas, esse é um fenônemo a ser observado de perto.

Em algumas partes dos EUA, o galão já ultrapassa os 4 dólares

A força motriz dessas pesquisas vem sendo o preço da gasolina, que subiu consideravelmente no último ano. Eventos como a revolta na Líbia e a atual crise envolvendo o Irã elevaram o preço do galão para mais de USD 4,00 em algumas partes dos EUA, sendo que na maior parte do país o valor está ao redor de USD 3,80. Pesquisas indicam que mais de 80% da população acredita que os preços atingirão pouco mais de USD 4,00 nos próximos meses – e uma minoria acredita em até USD 5,00.

Caso a situação não se altere, o presidente Obama se verá obrigado a injetar uma quantidade considerável de petróleo na economia – tal quantidade viria da Reserva Estratégica de Petróleo (SPR na sigla em inglês). Em 2011, em meio à crise na Líbia, isso foi feito – à época, 30 milhões de barris foram colocados à disposição para acalmar os mercados. A reserva, que tem capacidade total de armazenamento de 727 milhões de barris, foi constituída em dezembro de 1975, após o trauma do choque de 1973-4. Sua utilização já foi alvo de críticas por não inspirar confiança o suficiente nos mercados, isso devido à má-utilização em momentos críticos e uma gestão que não leva em conta preceitos básicos do mercado – compras foram feitas quando o preço do barril esteve alto e vendas quando os preços caíam.

O fato é que a Casa Branca precisará resolver este problema no curto prazo, caso não queira dar argumentos para seu futuro adversário na campanha presidencial. Em meio às bravatas típicas do período eleitoral, preços altos nas bombas de gasolina podem ser fatais para a reeleição de Obama. É bom lembrar que – variáveis mercadológicas à parte – o preço do galão girava em torno de USD 1,90 no início da gestão atual, em Janeiro de 2009.

 

 

________________

OBS.:

1 galão = 3,78 litros (aprox.)

O primeiro-ministro do Japão, Yoshihiko Noda, deve anunciar em breve que seu país irá negociar sua adesão à Parceria Trans-Pacífica (TPP, na sigla em inglês). Trata-se da iniciativa de uma zona de livre comércio no Círculo do Pacífico. Já fazem parte do acordo Chile, Brunei, Nova Zelândia e Cingapura. Negociam, Estados Unidos, Austrália, Peru, Malásia e Vietnam.

Recentemente, os americanos passaram a exercer pressão para que os japoneses se juntem ao grupo que prospecta aderir à Parceira. Washington vem voltando suas atenções para o Leste da Ásia, região que historicamente sempre abrigou interesses centrais do país. Afinal, este é o continente que mais produz crescimento econômico no mundo e aonde está a China, principal candidata a rival dos Estados Unidos no século XXI.

Yoshihiko Noda (à dir.) e Barack Obama. Os Estados Unidos querem que o Japão se junte a uma zona de livre-comérico no Círculo do Pacífico.

A adesão do Japão seria importante para os planos dos americanos na região. Juntos, americanos e japoneses responderiam por 90% de tudo o que é produzido pela TPP. A enorme importância econômica do Japão fortaleceria a Parceria, tornando-a um instrumento eficaz para contra-balancear o apetite da China na região. Além do mais, o arquipélago japonês está estrategicamente localizado a leste da costa chinesa. Reforçar a aliança com Tóquio é essencial para os EUA, especialmente em um momento em que a política externa de Pequim tem dado sinais de atividades expansionistas, principalmente no Mar da China Meridional, aonde recentes atividades da marinha chinesa tem criado atritos com países vizinhos que são aliados de Washington, como o Vietnam.

No entanto, o grupo político do primeiro-ministro enfrenta consistente oposição doméstica, principalmente de alguns setores agrícolas que temem serem devorados pela competição internacional. É também relevante um traço característico da cultura japonesa que varia entre momentos de isolamento e outros de expansão. Até o século XIX, por exemplo, o Japão viveu um período de pouquíssimo contato com outros países. Até que, por conta de pressões para se engajar em relações comerciais com as potenciais ocidentais (como vem acontecendo no caso do TPP), o país viveu um processo de abertura, culminando com um projeto imperialista que durou até a derrota da Segunda Guerra Mundial.

Noda acredita que seria mais barato compensar fazendeiros por suas perdas do que privar o país dos potenciais lucros de se juntar ao TPP. A queda nos preços de alguns produtos agrícolas beneficiaria as famílias japonesas. Já setores mais competitivos, como a indústria de carros e de alta tecnologia, poderiam ter ótimos resultados ao se juntar a uma zona de livre comércio que contaria, não apenas com os Estados Unidos, mas também com outros países que apresentam altos índices de crescimento e dinamismo econômico, como Peru e Austrália. Por último, juntar-se ao TPP seria uma maneira de fazer frente à expansão de nações vizinhas e rivais no cenário internacional – principalmente Coreia do Sul e China.

O governo japonês pretende adotar uma posição central nas negociações do TPP  com o objetivo de transmitir ao mundo que o Japão quer exercer um papel importante na política do Leste da Ásia e dos assuntos internacionais como um todo.  Porém, a política interna japonesa não deve dar espaço para nenhuma reforma importante no sentido de liberalizar a economia do país nem de abrir oportunidades para que o Japão se junte a tratados de livre-comércio. Apesar de o atual governo defender esta agenda, falta-lhe capital político para implementá-la. Noda é terceiro líder a ocupar o cargo de primeiro-ministro desde que seu Partido Democrático do Japão voltou ao poder há apenas dois anos. Em termos de popularidade, Noda também não vai bem. Seu governo conta com fraco apoio entre os japoneses por causa de críticas sobre como conduziu o país na época do devastador terremoto de 11 de março o do acidente nuclear na usina de Fukushima na sequência.

Topo