O que é Risco Político?

Risco político é a capacidade de uma determinada ação política impactar a economia e os mercados. Não diferente de nenhuma outra forma de risco – como os já conhecidos riscos econômicos, de crédito ou até de desastres naturais – riscos políticos são geralmente mais difíceis de se quantificar e prever, razão pela qual muitas vezes são desconsiderados.

 

Como mercados e empresas tem lidado com o risco político?

De uma forma geral, investidores e empresários costumam lidar com riscos políticos de 4 formas;

  1. Mais comum, é simplesmente ignorá-los, já que se trata de um campo complexo e, portanto, os tomadores de decisão acabam ignorando os fatores políticos na esperança de que o problema desapareça.
  2. Através do ‘band-wagon’, ou seja, seguir as mesmas políticas ou decisões tomadas pelos grandes players. A estratégia adotada por uma grande multinacional acaba se tornando a estratégia universal de todos os players do mercado. Certamente esse não é o melhor caminho, visto que cada investidor tem realidades e objetivos distintos, criando necessidades diferentes.
  3. A confiança no ‘expert interno’ – normalmente um executivo com algum conhecimento sobre o país em questão (seja por ter vivido no local ou algo do gênero), que atua como uma espécie de conselheiro.
  4. Refere-se à prática de ‘tentativa-e-erro’. Como variáveis políticas são consideradas parte integrante de um grupo macro, que envolve economia, tecnologia e sociedade – e não como uma variável sensível e específica – as decisões são tomadas e, em caso de haver problemas, são implementadas medidas de correção. Num momento futuro, o padrão de resposta para o evento X anterior é reutilizado, com pouca ou nenhuma eficácia.

 

Porque investidores e executivos costumam desconsiderar o risco político na tomada de decisão?

Primeiramente, as variáveis políticas são complexas e difíceis de serem incorporadas nos modelos tradicionais de risco. Da mesma forma, gestores de risco tendem a incluir somente dados quantificáveis em suas análises. Diferentemente de variações cambiais ou de juros, que dispõem de base de dados histórica e permitem o estabelecimento de padrões, os riscos políticos envolvem uma gama de fatores não necessariamente quantificável e tabulada.

Essencialmente, variáveis não-exatas são difíceis de serem incorporadas por métodos puramente econômicos e financeiros. Não há meios de se ‘quantificar’ instabilidade política, tampouco suas reverberações. Porém, isso não significa que é impossível entender e mensurar os riscos políticos. A análise de risco político possibilita estudar as diversas variáveis políticas (tais como regimes/culturas/instituições/ideologia) e trazer à luz os possíveis impactos e consequências para os negócios em questão.

 

Quais são os tipos de Riscos Políticos existentes?

Na tabela abaixo estão listados os tipos mais decorrentes de riscos políticos. Embora seja possível pensar numa série maior de possibilidades de riscos inerentes a determinado país, estes subgrupos abrangem a maioria dos riscos em questão.

 

Geopolítico
  1. Tensões com vizinhos
  2. Guerras
  3. Mudanças na distribuição de poder
  4. Sanções econômicas/embargos
Energia
  1. Decisões políticas que afetam a organização de fornecimento e demanda
Terrorismo
  1. Danos/destruição da propriedade
  2. Seqüestros
Tensão política doméstica
  1. Reorganização política (dissolução de coalizões, queda de liderança, etc.)
  2. Nacionalismo
  3. Instabilidade social
  4. Revolução
  5. Guerra civil
  6. Golpe de Estado
Expropriação
  1. Propriedade confiscada
  2. Nacionalização de setor
Quebra de contrato
  1. Quebra de contrato pelo governo
  2. 17.   ‘Wrongful calling of letters of credit’
Risco para o mercado financeiro / Riscos cambiais / Repatriação de lucros
  1. Regulação de mercado
  2. Calote na dívida e variações de mercado
  3. Repatriação de lucros
Discriminação / Favorecimento
  1. Tributação de cunho discriminatório
  2. Corrupção
Incertezas
  1. Efeitos do aquecimento global
  2. Efeitos de mudanças demográficas
  3. Eventos políticos incertos

 

Como se dá a interdependência entre Risco Político e demais riscos?

Embora riscos políticos sejam essencialmente diferentes de outros tipos de risco, ambos podem estar interligados, dependendo da evolução de determinado evento. Uma mudança de governo pode gerar alterações ideológicas capazes de priorizar um papel maior para o Estado na condução da economia. Por exemplo, a recente expropriação da petrolífera YPF pelo Governo da Argentina (evento político) criou um alto nível de incertezas sobre a estabilidade para os investimentos que, num futuro próximo, é improvável que alguma empresa do setor arrisque-se a investir naquele país (impacto econômico negativo decorrente do evento político).

Acontecimentos desta natureza são específicos e podem indicar imprevisibilidade, entretanto o monitoramento dos ambientes nos quais se faz negócios é uma ferramenta que pode ajudar o investidor e empresa a se prepararem para tal possibilidade.

 

Como os riscos políticos afetam os mercados?

Risco político pode afetar diretamente os valores de títulos de dívidas, ações, moedas e commodities. A forma pela qual se dá tal impacto vai depender de variáveis específicas.

Eventos políticos domésticos, como a deterioração de uma coalizão ou troca de ministros de Estado, podem gerar incertezas nos mercados e, não obstante, governos também podem impor medidas regulatórias ou novos sistemas tributários que podem atingir, diretamente, investidores e empresários de determinados setores. O conhecimento da dinâmica política de determinado país não se traduzirá em uma previsão sobre a subida ou descida nos preços de determinado ativo, mas possibilitara o investidor a compreender forças que poderão atingir seu investimento e, em tempo, elaborar estratégias alternativas.

A tabela abaixo apresenta um grupo geral de possíveis eventos e consequências – diretas e indiretas – nos mercados;

 

Ações Governamentais Ações não-governamentais
Impacto direto –  Desvalorização de moeda-  Controles monetários

–  Calote na dívida

–  Mudanças de regulação

–  Ativos de bancos confiscados

– Boicotes- Greves

– Terrorismo

– Guerra civil

Impacto indireto (geram incertezas nos mercados) –  Declarações de guerra-  Mudanças na composição do governo

–  Declarações públicas

–  Eleições

 

Como os riscos políticos podem afetar empresas?

Através da análise dos efeitos da globalização, é possível ter uma boa compreensão de como os riscos políticos podem decisivos na criação de uma estratégia de sucesso ou fracasso.

Um dos principais efeitos deste processo foi a ascensão dos mercados emergentes. Nas últimas duas décadas, o crescimento dos emergentes expôs um elevado grau de riscos até então deixados de lado. O desconhecimento sobre as dinâmicas domésticas de tais mercados pode ser crucial para o sucesso de um investimento. Em mercados emergentes, o cenário político influencia tanto, ou mais, a evolução de um empreendimento do que os próprios fatores econômicos. De uma forma geral, dado o baixo grau de institucionalização destes países, uma decisão política tem maior impacto sobre o desempenho da empresa do que uma variação cambial, por exemplo.

Porém, é importante ressaltar que o cenário atual de crise nos países desenvolvidos demonstrou o quão relevante ainda é o papel das questões políticas nesses mercados. Por exemplo, embora na crise da dívida européia o gatilho tenha sido de cunho econômico, a natureza, a estratégia de contenção e solução da mesma é de ordem puramente política.

Ou seja, mitigar riscos políticos não é apenas um fator crítico de sucesso para empresas atuantes em economias emergentes, mas também em desenvolvidas.

 

Qual a importância da análise do risco político para os investidores e empresas brasileiras?

Com o final da Guerra Fria e a expansão da globalização, mercados e fluxos de capitais tornaram-se interconectados como nunca antes na história. As ultimas crises econômicas — México (1994), Ásia (1997), Russia (1998), EUA (2008) e Europa (2009) — e suas repercussões no resto do mundo são prova disso.

Logo após a queda da União Soviética, o papel do Estado como ator econômico central perdeu espaço e políticas de privatização se tornaram prioridade na ordem política-econômica mundial. Hoje, principalmente com a ascensão dos mercados emergentes, o Estado vem novamente se posicionando como o principal player; entretanto, inserido num contexto global diferente de 20 anos atrás. De forma similar, as ações tomadas pelos governos para conter os efeitos da crise deixam claro o papel central que governos ainda detém no contexto atual. Ou seja, na economia global, atores locais, por menores ou mais coadjuvantes que sejam, são partes essenciais do todo, fazendo com que suas decisões internas tenham ainda maior impacto.

O cenário econômico brasileiro contribui para relevância dos assuntos políticos internacionais. Com o aumento da internacionalização de empresas brasileiras e o status do país de 6a maior economia do globo, a análise e gestão de riscos políticos é essencial para evitar uma exposição desnecessária a riscos e aproveitar oportunidades únicas. Em 2010, o aumento de receitas das empresas brasileiras no exterior foi de 27%, com ativos no exterior ultrapassando a casa dos USD 100 bilhões. Consequentemente, é crucial que investidores e executivos brasileiros tenham um conhecimento maior sobre as dinâmicas que movem o mundo e os países nos quais tem investimentos.

Fica claro que os rumos da economia mundial são ditados por acontecimentos globais, e o Brasil está totalmente inserido nesse contexto. Portanto, mais do que nunca, os tomadores de decisão brasileiros precisam de ferramentas e análises que os auxiliem no entendimento da infinidade de acontecimentos no cenário internacional e, principalmente, suas inferências na cadeia econômica.

 

Como mitigar riscos políticos?

Uma série de medidas podem ser tomadas para mitigar riscos políticos. Embora sejam muito específicos e heterogêneos por natureza, vejamos algumas ações básicas capazes de minimizar a exposição aos mesmos;

Diversificação: levando em conta a impossibilidade de completa mitigação, qualquer estratégia de investimento deve buscar diversificar seus riscos.

Análise e Monitoramento: Um alto nível de conhecimento do país é fundamental para uma estratégia bem-sucedida de mitigação de riscos políticos. O entendimento de tradições políticas, culturais, econômicas e sociais é essencial para tanto. O analista de risco político existe para este fim.

Estratégias de entrada e saída. Identificar os países mais propensos a crises, como guerras civis ou revoltas populares, pode contribuir para uma elaboração previa de planos de mitigação de riscos. Três estratégias principais devem ser levadas em consideração: entrada, contenção e saída.  Analisar e entender bem a realidade política e histórica do país antes de investir é condição básica para mitigar riscos futuros. Contenção de riscos pode diminuir perdas e planejar uma saída sem solavancos é importante para evitar grandes perdas.

Responsabilidade Social e Relações Públicas. Desenvolver políticas e práticas que satisfaçam os interesses de diversos stakeholders da sociedade. Tais estratégias facilitam a condução dos negócios do país, além de contribuir para fortalecer os laços políticos.

Seguro de Risco Político: apesar da existência de apólices de seguro contra risco político, sua eficácia é limitada e custosa.

 

 

 

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