Em época de eleição as análises políticas são muito requisitadas, mas não necessariamente ajudam o eleitor ou a população a escolher. Os eleitores se comportam em grande parte de forma irracional. Esse é um fenômeno estudado por psicólogos cognitivos, sociólogos, cientistas políticos e outros. Emoção e ideologia são fatores poderosos no julgamento político. Por exemplo, medidas protecionistas são ruins para a maior parte da população e apenas um pequeno grupo se beneficia. Por séculos, economistas apontam os impactos negativos dessas medidas, mas quase todas as democracias persistem em restringir importações. Por que alguém defenderia medidas que são comprovadamente ruins para seu bem estar? Certas políticas nos fazem nos sentir bem superficialmente porque aparentam ser mais justas. O problema é que essa aparência é apenas uma falha de percepção da realidade tingida por emoções ou ideologia.

Vou tentar esclarecer a diferença entre política, ideologia e pragmatismo e assim quem sabe contribuir para escolhas mais racionais. Ficaria impossível debater esses temas em diversas áreas, por isso vou focar na Petrobras e o capitalismo de estado e suas ideologias correspondentes.

Política

A política é sobre divergência de opiniões e vontades. Na esfera governamental, é a arte e ciência de dirigir e administrar a unidade política ou o estado. Em última instância é a busca e consolidação do poder. Qual é a relação da Petrobras com a política? O fato da empresa ser pública facilita o seu uso político. O conhecido capitalismo de estado, que eu já tratei em outro post, busca controlar setores da economia ou empresas para administra-las de forma política e não como uma empresa, que por essência tem objetivos econômicos. As empresas estatais chinesas não existem para dar lucro, e sim para satisfazer as necessidades políticas do Partido Comunista. No caso, a necessidade maior de garantir sua perpetuação no poder.

Na Petrobras, o uso político acontece de muitas maneiras. Os mais evidentes são o loteamento de cargos, desvios de verbas, corrupção generalizada, subsídios de combustíveis, etc. Algumas das estatais chinesas não estão preocupadas em dar prejuízo desde que empreguem o maior número de pessoas. Manutenção do emprego em um país com um regime totalitário – especialmente tendo sua legitimidade ancorada no crescimento econômico, uma vez que a legitimidade vinda da ideologia comunista se desfez – é uma peça chave para manutenção da ordem política. Alguns podem me perguntar, o que tem de errado em manter o emprego da população? Nada de errado! Mas o verdadeiro emprego só acontece em bases sustentáveis e sólidas. Decidir manter uma empresa que não dá resultados é insustentável. Dá onde virá o dinheiro para manter essa empresa e, mais importante, pagar os salários? Se a empresa não se sustenta, e ela mantém sua produção apenas para empregar pessoas, uma hora vai quebrar e todos perderão seus empregos.

A Petrobras já ocupou a 12ª posição no ranking das maiores empresas do mundo em 2009, valendo US$211 bilhões. Hoje, depois de cinco anos de uso político, é a 120ª maior, com uma valor de mercado de US$76 bilhões. Desde 2012 os aumentos do valor do barril no mercado internacional não são repassados aos consumidores brasileiros, com intuito do governo de frear o aumento da inflação. Similar as empresas estatais chinesas que seguem pagando salários através de empresas que não se sustentam, o governo brasileiro segue tendo prejuízo na área de Abastecimento devido ao congelamento de preços da gasolina.

Ideologia

Uma ideologia que defenda a proposta de igualdade social (exemplificada na manutenção do emprego pleno) vai achar que o uso político das empresas estatais, pelo governo, para garantir o emprego da população está alinhada com seus valores. Cuidado! É aí que começa a confusão entre ideologia e política.

Politicamente os mandatários do poder, e praticantes do capitalismo de estado, não estão focados nos fins ideológicos, mas apenas nos fins políticos – nesse caso aumentar o seu poder. Aqueles realmente comprometidos com o fim ideológico (emprego pleno) não estariam sacrificando e depredrando um dos maiores ativos públicos do país para manter um falso senso de segurança e estabilidade. Se a empresa não tem como manter esses salários por um longo período, ou no caso da Petrobras – manter o preço da gasolina controlado – em algum momento a corda vai roer e os impactos serão muito mais nocivos.

Desviar dinheiro da empresa para comprar aliados e financiar campanha também é uma das formas de uso político e ainda pior pois não é possível fazer nenhuma ligação ideológica a essa prática. É possível enxergar na manutenção de empregos ou controle do preço da gasolina um fim supostamente nobre, apesar de perverso e insustentável. Por outro lado, não existe justificativa moral e ideológica que possa aceitar o roubo ou a corrupção como ferramenta para alcançar qualquer fim nobre. Crime é crime.

O capitalismo de estado não é uma ideologia, não é um outro nome para comunismo, e não é exclusivo de ideologias de esquerda. Mercado e orientação política não são o mesmo nos dias de hoje. Alguns países fechados politicamente promovem abertura econômica. Singapura, um país governado há mais de 50 anos pelo mesmo partido e promove empreendedorismo e a competição econômica. Singapura está sempre entre os melhores colocados na publicação Doing Business, do Banco Mundial, que mede a facilidade de abrir um negocio. Portanto, economicamente aberto, mas politicamente fechado. As empresas nacionais de petróleo são usadas como ferramentas políticas por monarquias ou regimes totalitários com discursos de esquerda e direita.

Os idealistas vão me perguntar: não existe nenhum político que esteja comprometido com as minhas ideologias? Eu diria que sim, existe, mas muito dessa resposta depende do contexto em que vivemos e de como a sociedade construiu seus valores. Para responder melhor essa parte eu volto para o terceiro tema desse post, o pragmatismo.

Pragmatismo 

O pragmatismo nasceu do pensamento filosófico americano, baseado nos pensadores William James e Charles Sanders Pierce, defendendo que a ênfase do pensamento deve estar na aplicação das ideias e nas conseqüências práticas de conceitos e conhecimentos. Portanto, antes de mais nada, para começarmos falar de pragmatismo devemos entender como a realidade se apresenta.

Dentro do nosso contexto cultural vale citar dois autores brasileiros importantíssimos. Sérgio Buarque de Holanda e Roberto DaMatta. Ambos discutem o caráter antiliberal da sociedade brasileira. Holanda aponta que no Brasil temos uma ética personalista, intimista, afetiva e sentimentalista. DaMatta distingue entre a “rua”, ambiente público  – na maioria das vezes inóspito, autoritário e desolador – e a “casa”, o ambiente privado do pessoal, do afeto e da família. Os estudos antropológicos e culturais desses dois pensadores são complementados por estudos quantitativos de Alberto Carlos Almeida em seu fascinante livro, A Cabeça do Brasileiro (recomendo à todos).

As pesquisas de Almeida comprovam a realidade que todos os brasileiros conhecem, independente de classe ou orientação ideológica. Apenas aqueles movidos por objetivos políticos ousariam negar tal realidade. Quando vemos alguém jogando um papel pela janela do seu carro temos uma demonstração da percepção que a rua (pública) não tem dono, enquanto “meu” carro (privado) não deve receber o meu lixo. Como a rua é de todos, por ser pública, não é de ninguém e consequentemente não há problema em suja-lá. Em outras palavras, o indivíduo se apropria do público para os seus interesses privados. Ou na linguagem de DaMatta, a casa engloba a rua com a utilização privada do que é público.

Por que o lixo não fica dentro do carro do fulano? Porque naquele momento ele se apropria do público para resolver seu problema privado. Não me digam que esse indivíduo é apenas um mal-educado. Se fosse o caso, ele jogaria o papel dentro do seu próprio carro. Ele foi seletivo na “má-educação”, não sujando aquilo que ele enxerga como pessoal, inimista e personalista e desconsiderando aquilo que é visto como desolador, impessoal e inóspito.

Almeida mostra como o patrimonialismo é difundido entre a população brasileira. Uma das perguntas feitas em sua pesquisa revela que 74% da população considera que “cada um deve cuidar somente do que é seu, e o governo cuida do que é público”. Percebam a gravidade da situação quando transferimos essa mentalidade para a gestão do bem público. Entender e aceitar a realidade cultural que vivemos nos permite sermos pragmáticos e perceber que certos ideais não funcionam em todos os contextos. Não podemos ser a Noruega por decreto, e enquanto não tivermos alcançado seu estágio de consciência pública ou coletiva temos que lidar com a realidade como ela se apresenta.

Alguns vão me perguntar se essas características culturais devem nos impedir de tentarmos melhorar. A resposta é não, não devem nos impedir de nada. Mas o pragmatismo também sabe quanto tempo leva para mudar uma cultura e sabe que insistir no erro de aumentar o tamanho do espaço público dentro desse contexto patrimonialista é receita certa para destruição. Temos que buscar mudanças condizentes com o nosso contexto. Não adianta permitirmos que os tentáculos do estado aumentem seu controle sobre o bem público. Em uma sociedade que não entende e respeita o público, o lógico é diminuirmos espaços para abusos.

Conclusão 

Dentro da nossa realidade cultural deveríamos defender políticas que minimizem a chance de termos nossos maiores ativos públicos sendo geridos por interesses políticos de curto prazo ao invés de objetivos nobres. Ser pragmático nos permite questionar as verdadeiras intenções por trás de pseudo-ideologias. A quantidade que a Petrobras perdeu, seja em valor de mercado ou pelos ralos da corrupção, daria para ajudar de verdade muitos brasileiros a conseguir meios sólidos de ter uma vida melhor.

 

Artigo original Blog Exame: http://exame.abril.com.br/rede-de-blogs/risco-politico-global/2014/10/25/politica-ideologia-e-pragmatismo/

A Copa do Mundo, como outros eventos esportivos internacionais de grande porte, é um fenômeno político. Tanto o desejo de sediar o torneio, as paixões nacionais de vencer o seu rival ou derrotar uma grande potência como a promoção de ideologias nacionalistas são todos exemplos de como a política permeia esses eventos.

Torneios globais esportivos parecem promover valores e ideais universais, principalmente a noção de união e confraternização mundial. Contudo, a competição política regional ou global entre os países não é suspensa quando se iniciam as competições esportivas. Os ressentimentos e rivalidades políticas são replicados nos esportes em uma clara demonstração de como o nacionalismo ainda é a força dominante nas relações internacionais. Essa exaltação das diferenças nacionais e do nacionalismo foi comprovada em uma pesquisa realizada em 19 países e publicada recentemente no New York Times. A pesquisa mostra como as rivalidades políticas se manifestam dentro do campo na Copa do Mundo. Os Mexicanos indicaram os EUA como seu time menos favorito. Os brasileiros e argentinos querem a derrocada do outro. Os gregos atacam os banqueiros, apontando a Alemanha e EUA como os times que menos gostam. Japão e Coreia do Sul também não se gostam no esporte.

Nacionalismo & Retorno Economico 

O nacionalismo é uma força poderosa que oferece um sentido de lugar, historia e identidade. Parte de ser brasileiro está no fato de não sermos argentinos. A identidade coletiva é construída na diferenciação do nosso dissimilar. Hinos, bandeiras, cores, historias, cultura, símbolos e esportes são todos aspectos que constroem uma identidade nacional. A construção de qualquer cultura é formada por eventos e tradições históricas. Algumas culturas carregam laços de um passado histórico de lutas ou militar. No caso do Brasil temos menos historias coletivas de combates e mais símbolos como o futebol. O futebol é um dos momentos em que a sociedade brasileira compartilha dessa conexão coletiva nacional. Nessa caso, a Copa do Mundo é um momento único aonde todos esses símbolos mexem com a paixão coletiva da nossa identidade brasileira.

Hitler e Mussolini usaram as Olimpíadas e Copa do Mundo para exaltar o orgulho nacional e promover sua ideologia. O jogo da final da Copa de 1934 não foi realizado no Estadio Nacional do Partido Fascista por acaso. Em 1978, dois anos apôs o golpe militar na Argentina, a Copa ajudou a tirar o foco das perseguições, violencia e desaparecimento de dissidentes promovido pelo regime militar. Nelson Mandela usou o rugby e o futebol para reaproximar e unificar a Africa do Sul pós-apartheid.

O debate sobre investimentos e retornos econômicos também demonstra a relevância da política na Copa do Mundo. Os governos sempre justificam os altos investimentos para sediar tais eventos apontando para os benefícios econômicos. O retorno econômico mais citado é o turismo. Infelizmente, os resultados mostram outra coisa. No livro The Economics of Staging the Olympics, Holger Preuss mostra que é impossível provar que, por exemplo, as Olimpíadas em Sidney, Australia, teriam aumentado o turismo na cidade. Em 1988, nos jogos de inverno de Calgary houve uma queda de 12% no turismo imediatamente apôs os jogos e mais 10% no ano seguinte. Claro que durante o torneio o país recebe mais turistas, essa é a essência de sediar um evento internacional. Porém, comprovar ligações de causa e efeito, entre os torneios e o turismo, no longo prazo é muito difícil. Ou seja, sem comprovação de retorno econômico só resta a motivação política por trás do tamanho investimento.

Copa X Olimpíadas 

Outro ponto importante é a popularidade do futebol. Usar um evento desse porte para projetar poder e influência globalmente depende do nível de interesse da população mundial sobre o esporte. Na final da Copa de 2010, foram 500 milhões de telespectadores assistindo o jogo. Apenas 12% dos brasileiros se dizem desinteressados pelo futebol. Com 17% de desinteresse, a Rússia mostra que também gosta do futebol. Apesar do futebol ser um esporte praticado em todos os países e ter uma penetração global única, ainda pode ser considerado menos relevante no jogo da geopolítica. Se pensarmos em grandes potências — EUA, China, Rússia, Índia, Brasil, França, Inglaterra, Alemanha e Japão — apenas o Brasil, Alemanha e Rússia demonstram baixos índices de desinteresse pelo esporte. Para 60% dos americanos o futebol não é interessante. Os dois mais populosos do mundo, Índia e China, não são grandes admiradores do esporte.  Até mesmo para ingleses e franceses o número de desinteressados é alto, 50% afirmam não ligarem para o futebol. A Copa tem menos relevância geopolítica do que as Olimpíadas devido a popularidade do esporte nos países mais poderosos do mundo. O futebol pode atrair um número absoluto de admiradores maior que qualquer outra modalidade, mas não é tão relevante nos países “mais importantes”. A competição pela medalha de ouro e pela vitória no quadro geral de medalhas tem um significado político importante desde os tempos da Guerra Fria aonde a competição ideológica se dava na conquista das medalhas.

As olimpíadas também englobam uma diversidade de modalidades e por isso são mais representativas quanto as capacidades esportivas gerais de uma nação. O esporte promove valores de excelência, disciplina, determinação, superação e competição dentre outros. Portanto, uma nação campeã de medalhas pode clamar que cultiva capacidades que as qualifica para se tornar ainda mais poderosa.

No fundo, eventos internacionais desse porte servem muito mais interesses políticos do que a celebração do esporte. Na sua versão mais amena, a Copa é um circo promovido pelo estado democrático para ganhar atenção e exposição internacional buscando fortalecer sua imagem. Na sua versão piorada, competições internacionais ajudam regimes totalitários e violadores de direitos humanos parecerem membros responsáveis da comunidade internacional. O fato é que tanto Copa do Mundo como Olimpíadas ganham cada vez mais importância política, e não esportiva. Dizer que a Copa começou, e portanto devemos deixar a política de lado é simplesmente impossível. O esporte entre nações é político demais para ser visto apenas como uma competição atlética. Na esfera doméstica não poderia ser diferente, a política democrática usa ferramentas de percepção de massa, símbolos nacionalistas e populares. Nada mais popular e nacionalista do que o futebol para o brasileiro. Ilusão daqueles que acham que um evento como a Copa do Mundo não tem motivações e significados políticos.

No proximo post vou escrever sobre os fatores que influenciam uma disputa eleitoral. Dentro desse contexto de Copa do Mundo tenho escutado muitas discussões se o torneio tem ou não influência no processo eleitoral. Para aqueles que precisam avaliar os riscos políticos ligados as eleições, entender quais são os fatores críticos ajuda a desenhar cenários confiáveis.

Publicação Blog Exame original: http://exame.abril.com.br/rede-de-blogs/risco-politico-global/2014/06/15/copa-do-mundo-e-a-geopolitica/

A segunda maior economia da União Européia pode ser o núcleo de um novo recrudescimento da crise no continente. Diferentemente de países periféricos, cujas economias em semi-colapso já deram alguns sustos nos mercados, um solavanco vindo de Paris poderia acarretar até mesmo na dissolução do bloco, que tem como pilares justamente a própria França e a Alemanha.

Recordista em gastos públicos (56% do PIB) e em volume de empregados pelo Estado por grupo de 1.000 habitantes (90, contra 50 na Alemanha), a economia francesa começa a dar sinais claros de uma realidade já não tão recente: sua competitividade diminuiu muito ao longo dos últimos anos, criando um descompasso com uma folha de pagamentos estatal digna de países como Suécia. Para se ter uma ideia, em 2000 o custo/hora de um trabalhador francês era 8% mais barato que o de um alemão. Hoje o mesmo trabalhador tem um custo/hora 10% mais caro que na Alemanha.

Com uma dívida pública beirando os 90% e uma economia semi-estagnada, o modelo francês de estado de bem-estar social inchado é solo fértil para a eclosão de uma crise severa.

François Hollande e Nicolas Sarkozy - eleição francesa pode ser decisiva para um novo recrudescimento da crise

É nesse contexto que entram as eleições, com o segundo turno marcado para 6 de Maio. O atual presidente, Nicolas Sarkozy, enfrenta um empolgado François Hollande, proveniente do socialismo francês. O primeiro turno terminou com um quase empate técnico entre ambos. As extremas direita (Marine Le Pen com 18%) e esquerda (Jean-Luc Melenchon com 11%) ficaram em 3o e 4o lugares, respectivamente.

A possibilidade de Hollande vencer Sarkozy não só assusta este último – que entraria para a história como o segundo presidente da 5a Republica (iniciada em 1958) a não se reeleger – mas, principalmente, os mercados. Defendendo políticas pouco ortodoxas, como a renegociação do Pacto Fiscal Europeu, que regula pela responsabilidade orçamentária dos Estados-membro, aumentar o salário mínimo e retomar a aposentadoria para os 60 anos, Hollande passa a ideia de que vai colocar o processo de contenção da crise européia em xeque.

Por mais que seja importante ler tais discursos e posições pelo prisma eleitoral, tais medidas representam um risco grande à Franca e à Europa. Dado que o eleitorado frances é reconhecidamente reacionário a mudanças no status quo do modelo de estado paternalista – alvo principal das medidas de austeridade tão criticadas por Hollande – suas chances de vitória não são pequenas. E, mesmo que muitos dos eleitores franceses não estejam convencidos de que Hollande é a melhor opção, a rejeição a Sarkozy pode lhe dar a presidência, já que grande parte do eleitorado não gosta da ideia de mais 5 anos da administração atual.

O desempenho da extrema direita com Marine Le Pen, e da extrema esquerda com Jean-Luc Mélenchon, também diz muito sobre a cena política local. A fobia com quaisquer influencias externas na sociedade francesa – seja a globalização ou mesmo a UE – se refletiu no desempenho de candidatos mais extremistas. A França adotou o mantra de que os males sofridos hoje pela sua economia têm sua raiz na abertura do país para o mundo. Entretanto, os franceses não parecem compreender que, sem as receitas provenientes de um mercado aberto, será impossível balancear os gastos públicos excessivos do Estado francês e evitar um colapso.

Risco de fragmentação da UE existe e não é pequeno

O grande perigo do discurso de François Hollande está justamente no fato de suas propostas estarem sintonizadas com os valores das massas. Mesmo que ele não cumpra parte das promessas de campanha, as pressões para tanto serão grandes, podendo ter resultados políticos inesperados e com conseqüências difíceis de se prever e quantificar. Para dar um exemplo, sua disposição a lutar por uma revisão do Pacto Fiscal Europeu pode gerar indisposições com a Alemanha, o que levaria instabilidade ao campo político europeu.

Caso a França siga este caminho, será muito mais fácil para os outros países europeus adotarem políticas similares, uma vez que há um crescente descontentamento com as medidas atuais pela ausência de mecanismos favoráveis ao crescimento. Nesta situação, pode haver um efeito cascata capaz de enterrar o projeto de integração europeu.

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