Menachem Begin conversa com líder da operação que destruiu o programa nuclear iraquiano

O ano é 1981. Em 7 de Junho daquele ano, ainda durante a madrugada, um grupo de quatorze aeronaves da Força Aérea Israelense efetuou um ataque surpresa ao reator nuclear Osirak, instalado na cidade de Al-Tuweitha, nas proximidades de Bagdá.

À época, o programa nuclear iraquiano se desenvolvia rapidamente. Embora Saddam Hussein estivesse focado em sua batalha contra o recém-instalado regime revolucionário do Aiatolá Ruhollah Khomeini, Menachem Begin via uma bomba atômica iraquiana como uma ameaça direta ao Estado judeu. Desde 1948, Israel e Iraque viviam um relacionamento marcado pela constante tensão, visto que Bagdá se recusou a assinar o armistício que encerrou a Guerra de Independência daquele ano.

Desde o início das discussões sobre o bombardeio, ambos os chefes da AMAN (braço de inteligência militar de Israel) e do MOSSAD (serviço secreto de Israel), opuseram-se ao plano. Seus argumentos eram: (i) ainda levaria anos para que o programa iraquiano tivesse êxito em desenvolver o artefato nuclear; (ii) o bombardeio não destruiria o programa por completo; (iii) uma ação deste gênero poderia causar uma escalada militar na região; (iv) comprometer o acordo de paz entre israelenses e egípcios, de 1979 e (v) estremecer as relações entre Israel e EUA.

Begin e seus aliados próximos forçaram a ideia e o bombardeio obteve sucesso. As baixas foram mínimas e o programa nuclear de Saddam Hussein foi neutralizado.

Do ponto de vista de Israel, apesar das variáveis envolvidas num possível ataque às instalações iranianas serem mais complexas, a percepção sobre as consequências da operação em 1981 é muito similar aos desdobramentos de um ataque hoje. Logo, é compreensível que o establishment político de Israel se baseie no sucesso passado, dadas as similaridades entre Iraque (1981) e Irã (2012).

Ahmadinejad vistoria as instalações nucleares de Bushehr

Em 1981, havia argumentos de que um ataque não seria capaz de destruir completamente o programa, quanto muito atrasá-lo. Hoje, o debate é o mesmo, e baseando-se no que Israel viu acontecer com o Iraque, tal argumento perde consistência. A experiência mostrou aos israelenses que embasar a decisão de um ataque aéreo em sua efetividade de destruição é irrelevante, visto que o Iraque não foi capaz de retomar seu programa nuclear e o desenrolar da história acabou levando a uma mudança de regime.

Não é possível saber quando e como um ataque israelense tomaria corpo contra as instalações iranianas, mas o fato é que a história recente nos oferece um case empírico de sucesso envolvendo uma situação muito similar.

Um evento que ganhou destaque na mídia, no domingo, foi o sequestro de duas brasileiras e um guia turístico egípcio por beduínos na região da Península do Sinai. Após passarem algumas horas sob custódia dos sequestradores, elas foram libertadas com a ajuda do governo local nas negociações. Segundo as mesmas, os beduínos as trataram bem até o final do impasse.

Mas a pergunta que fica é; quem são estes beduínos? O que querem?

Beduínos na Península do Sinai - marginalizados da sociedade egípcia

Compondo uma população de aproximadamente 200.000, os beduínos migraram para aquela região no século VII, fugindo das tribos mais fortes que habitavam o deserto do Hejaz, onde hoje fica a Arábia Saudita.

A região da Península do Sinai é um ponto altamente estratégico do ponto de vista geopolítico. Ligação entre Europa e Ásia, ela abriga o Canal de Suez, crucial para o mercado do petróleo, e também é rota de gasodutos/óleodutos que fornecem energia para Israel. A área também é conhecida por abrigar lugares muito atrativos ao turismo – casos de resorts litorâneos como em Sharm el-Sheikh e Dahab e, principalmente, locais sagrados como o Monte Sinai e o Monastério de Santa Catarina, mais antigo templo cristão em funcionamento no mundo.

Porém, o desenvolvimento econômico trazido por estes fatores à região não incluiu a população local que, composta por diferentes tribos de beduínos, historicamente é marginalizada da sociedade egípcia como um todo. Serviços públicos essenciais, como saúde e saneamento básico são praticamente inexistentes. Afora a indústria do turismo – que exclui os beduínos – não há outras atividades econômicas na península, o que fatalmente obriga os locais a participarem de atividades ilegais para conseguir meios para sobreviver. Dentre elas, estão o tráfico de bens (itens médicos, material de construção, etc.) e armas para a Faixa de Gaza e mesmo, em alguns casos, facilitar o trânsito de grupos mais radicais pelo local.

Península do Sinai - cercada à Oeste o Mar Vermelho (saída do Canal de Suez) e à Leste pelo Golfo de Aqaba (Jordânia)

No entanto, é importante frisar que os sequestros, recorrentes num passado recente, não fazem parte de uma agenda política similar àquela de grupos mais radicais – ou mesmo terroristas – como Hamas ou a própria al-Qaeda. O objetivo com estas ações é forçar o governo do Egito a negociar a libertação de beduínos presos e exigir melhoras no cenário sócio-econômico na região. Cerca de 1.000 – 3.000 beduínos estão presos hoje e aproximadamente 10.000 fazem parte de listas policiais egípcias.

Os efeitos da revolução que derrubou o regime de Hosni Mubarak também não chegaram, ainda, ao Sinai. Recentemente ocorreram sequestros nos mesmos padrões do que ocorreu com as brasileiras no domingo. Não há, no curto prazo, perpectivas de mudança no quadro da região. A evolução ou deterioração dependerá do que ocorrer na cena política egípcia. Caso não haja mudanças no relacionamento entre Cairo e as tribos locais, mais problemas deverão ocorrer.

 

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