ANÁLISE: DITADOR BUSCA SOBREVIVÊNCIA DO REGIME, E NÃO UMA GUERRA TOTAL
Os últimos movimentos do ditador Kim Jong-un não são passos intencionais em direção a uma guerra total contra a Coreia do Sul ou os EUA. Ele sabe que sairá derrotado.
O objetivo estratégico norte-coreano é reforçar a credibilidade da sua capacidade dissuasória para garantir a sobrevivência do regime. Além disso, um dos caminhos é abalar psicologicamente e criar tensões políticas entre Seul, Washington, Pequim, Tóquio, Moscou e outros.
Quanto mais a tensão cresce na região, maiores os riscos de um confronto gerado por erros de cálculo ou descontrole de escalada retaliatória. No metro quadrado mais militarizado do planeta, os países envolvidos devem preparar suas forças militares para um confronto e tomar medidas de precaução.
Diante disso, nada mais natural que a Coreia do Sul se preparar para se defender e até para um eventual ataque preventivo contra o inimigo.
O regime de Pyongyang vem conseguindo moldar as percepções psicológicas na região e aumentando as tensões políticas entre os principais países envolvidos.
O objetivo tático é mudar o foco das atenções de si para a Coreia do Sul. A preocupação passaria a ser o tipo de resposta que a Coreia do Sul daria tanto às provocações quanto a pequenos ataques. O que se torna mais preocupante e imprevisível é a escalada da violência gerada pela resposta sul-coreana.
Do ponto de vista estratégico, os norte-coreanos precisam demonstrar força e capacidade de elevar os custos de um conflito com seus inimigos para níveis intoleráveis e, assim, desencorajá-los de um confronto.
Até hoje, o centro da sua estratégia de defesa foram as armas nucleares. Contudo, os recentes testes nucleares e balísticos expõem falhas técnicas que comprometem a confiabilidade da sua capacidade de dissuasão nuclear.
Sem muitos amigos, com forças militares inferiores às dos seus inimigos e uma economia em frangalhos, o regime norte-coreano precisa de outros mecanismos, funcionais e confiáveis.
A forma mais direta e eficiente de construir tais mecanismos é ter um comportamento imprevisível. A ideia de parecer irracional e louco reforça suas credenciais dissuasórias. Em outras ocasiões, a Coreia do Norte já mostrou disposição de correr riscos de deflagrar uma guerra pela necessidade de certificar sua capacidade ofensiva.
HENI OZI CUKIER é cientista político e professor do curso de relações internacionais da ESPM-SP