Mali - fronteiras com Níger e Argélia à Nordeste

A operação da OTAN na Líbia foi bem-sucedida no seu objetivo primário; a queda do ditador Muammar Qaddafi. No entanto, o frágil equilíbrio de forças no continente africano foi quebrado, e alguns efeitos colaterais já causam os primeiros danos. Afora as tensões inter-tribais na própria Líbia, um país claramente dividido por linhagens étnicas distintas, o caso mais nítido e recente foi o golpe militar ocorrido em Mali, na semana passada.

Conhecido por ser uma das poucas democracias fortes do continente – desde a queda do último governo militar, em 1992, quatro eleições haviam occorrido e a quinta seria no próximo mês – Mali foi palco de um golpe de estado perpetrado pelas forças armadas, que tinham como argumento a inaptidão do governo em lidar com a revolta dos Touaregs ao norte.

A tribo dos Touaregs, composta por cerca de 2 a 3 milhões de membros e conhecidos por serem nômades das regiões do Saara e do Sahel, ocupam uma área que abrange o Sul da Líbia, o Norte do Níger, o Sul da Argélia, o Norte de Mali e Burkina Faso. A maior parte deles – ao redor de 1 milhão – encontra-se hoje no Norte de Mali. Desde os anos ’60 eles fazem pressão, e muitas vezes apelam ao uso da força, por maior autonomia e uma hipotética independência. Entre 2006 e 2009, uma onda de violência ocorreu com os mesmos objetivos.

Os Touaregs juntaram-se aos rebeldes líbios no levante contra Muammar Qaddafi

A questão torna-se mais complexa pelo seguinte fator; durante a operação da OTAN na Líbia, grandes contingentes de militantes da tribo Touareg se juntaram aos rebeldes líbios em sua luta contra Qaddafi. Neste processo, ganharam não só mais armamentos, mas também mais experiência de combate. O exército de Mali, observando o fortalecimento dessa ameaça, derrubou o governo democrático de Amadou Tourani Touré.

A discussão sobre intervir ou não intervir em determinado Estado deve levar em consideração este fator. Embora moralmente desejável, uma intervenção representa uma equação extremamente complexa e única, já que Estados vivem contextos distintos entre si. Mudar uma das variáveis desta equação, sem equilibrar o restante, pode gerar reações em cadeia complexas e, em muitas vezes, indesejadas.

 

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