O mundo está vivendo uma crise com o novo surto de ebola no oeste da África. Desde que o vírus foi descoberto, no Zaire em 1976, essa é a maior epidemia. O número de pessoas contaminadas chega a 4.000 e passam de 2.000 os mortos. Temos 4 países afetados: Guiné, Libéria, Nigeria e Serra Leoa (Senegal relatou a ocorrência de um caso). A Organização Mundial da Saúde estima que possa chegar a 20.000 o número de infectados.

Doenças são um desafio para o desenvolvimento de todos os países e um grave problema social. Apesar do ebola estar assustando o mundo, existem muitas outras doenças endêmicas que tem impactos de longo prazo mais severos. Tuberculose é um desses exemplos. Para efeito de comparação, em 2012, 8.6 milhões de pessoas foram infectadas e 1.3 milhões morreram de tuberculose. A bactéria matou mais de 3.500 pessoas por dia em 2012. O impacto econômico da doença está estimado em 12 bilhões de dólares por ano.

RISCOS POLÍTICOS 

Algumas das medidas de combate ao ebola, como imposição de quarentenas para certos bairros, tem gerado confrontos com a polícia. Na Libéria, os confrontos entre a população — tentando escapar da área de quarentena — e a polícia tem causando ainda mais tensão. Aqueles que furaram o cerco podem contaminar mais pessoas em outras áreas. A polícia tem usado munição de verdade e já feriu manifestantes. A desconfiança da população com o governo é profunda, e está relacionada ao passado político dos 14 anos de guerra civil no país.

O desafio vai ficar ainda maior conforme a epidemia avança sobre zonas urbanas, principalmente as favelas. Até agora o vírus estava confinado nas áreas rurais, mas a doença começa a ganhar espaço em grandes cidades como a capital de Guiné, Conakry. Combater o Ebola em lugares pobres e violentos como essas favelas será um duplo desafio com potencial de agravar as fragilidades políticas desses países.

Algumas empresas como Goodyear, Rio Tinto, Titanium Resources Group com operações respectivamente na Libéria, Guiné e Serra Leoa vão sofrer as conseqüências. As cias aéreas também já estão computando suas perdas. Air France, British Airways, Kenya Airways e Emirates pararam de voar para os países afetados.

HARD POWER HUMANITÁRIO  

Durante o Tsunami de 2004, as forças militares dos EUA e de Singapura, por exemplo, lançaram uma das maiores missões de resgate da história. Somente os EUA colocaram 12.600 militares, incluindo quase a totalidade da sua Frota do Pacífico, com 48 helicópteros e todos os navios hospitais da região.

A crise com a epidemia do ebola demanda uma operação logística de natureza militar. De acordo com um cálculo, para cada paciente sendo cuidado na Libéria seriam necessários 200 a 250 profissionais de saúde e uma logística condizente. Além disso, as forças de segurança desses países estão sobrecarregadas enfrentando uma população insatisfeita e revoltada. A presença de uma força militar internacional poderia ajudar a lidar com grande parte dos desafios logísticos e de segurança. Claro que tal ajuda não seria isenta de riscos colaterais como reforçar os boatos e teorias da conspiração que envolvem a epidemia. A teoria da conspiração clássica de toda epidemia moderna é que a CIA criou a doença e está contaminando o mundo.

TERRORISMO

A gravidade de epidemias como o ebola nos alerta para um perigo ainda maior. Se as doenças já são um grande desafio por si só, imaginem transformá-las em armas. Um laptop recém capturado na província de Idlib, próxima a fronteira com a Turquia, na Síria, relevou um documento assustador. O dono do computador — um Tunisiano chamado Muhammed S. afiliado ao Estado Islâmico (E.I.) — estaria estudando e aprendendo como construir armas biológicas. O documento de 19 páginas que descreve como construir uma arma através de uma praga extraída de animais infectados é apenas mais um dos pesadelos de um ataque terrorista com armas de destruição de massa.

No fim dos anos 80, o culto Japonês Aum Shinrikyo tentou sem sucesso produzir uma serie de armas biológicas. Somente quando optou pelas armas químicas (agente sarin) alcançou seu objetivo.

Se o objetivo do terrorismo é causar pânico, nada melhor do que usar armas que são percebidas como altamente perigosas. O leigo percebe o risco de forma diferente do analista de risco. Estudos de percepção de risco mostram que indivíduos comuns enxergam e classificam riscos de acordo com sua percepção e sem base estatística. Em outras palavras, o leigo enxerga um risco maior em determinadas situações. Essa percepção potencializa o impacto do uso de armas não convencionais porque agentes químicos, biológicos e radiológicos estão entre os materiais vistos como mais perigosos pela população.

CONSEQÜÊNCIAS

Felizmente, os terroristas ainda são amadores o suficiente para acreditar que armas biológicas são fáceis de serem adquiridas, implantadas efetivamente e produzirem mortes em massa. O exemplo do culto Japonês retrata bem as dificuldades envolvidas com esse tipo de arma. Um dos grandes obstáculos no uso de armas biológicas é a dificuldade de distribuição ou definir o veículo de contaminação. O documento do E.I. fala sobre granadas de mão contendo o vírus. A estratégia seria jogar tais granadas em estádios de futebol, metros e centros de entretenimento próximas ao dutos de ar condicionado ou em operações suicidas. O problema (ou solução no caso do mundo civilizado) é que a bactéria usada nessa tal arma é muito frágil e morreria com a explosão da granada.

 

Artigo Blog Exame orginal: http://exame.abril.com.br/rede-de-blogs/risco-politico-global/2014/09/10/ebola-e-terrorismo/

Hoje estou escrevendo da Rússia, em Moscou. A minha amiga e colega, Malu, brincou comigo dizendo: “o Putin chega e você vai pra Rússia”. Com certeza eu não combinei com ele, até porque preferiria encontrá-lo aqui no Kremlin do que em Fortaleza, aonde está acontecendo a Cúpula dos BRICS. Vejo muitas similaridades entre a Rússia e Brasil do ponto de vista social. O país é lindo e as pessoas são simpáticas, mas não vou me estender na parte cultural ou social pois quero falar dos BRICS.

O acrônimo BRIC foi criado em 2001 pelo economista Jim O’Neil, do banco de investimento Goldman Sachs, para agrupar as maiores economias emergentes na época (Brasil, Rússia, Índia, China e posteriormente África do Sul). O termo puramente teórico saiu do papel para virar um frágil e informal grupo político até alcançar um status –na Cúpula de Fortaleza — de bloco semi-institucionalizado. A criação do banco dos BRICS é uma evolução substancial para um grupo tão distinto, mas mesmo assim não dá para ser muito otimista em relação à sua relevância imediata.

O bloco serve muito mais os interesses particulares de cada país do que uma verdadeira coalizão de emergentes aonde os interesses coletivos são evidentes e comuns. A maioria das áreas de convergência recai sobre a vontade de contrapor a Europa e os EUA. Talvez um dos poucos beneficiários dessa convergência seja a África. Todos os países tem laços comerciais fortes com o continente e até mesmo a Rússia (o menos presente) tem aumentado seus investimentos em energia na região.

O fato de os 5 países do grupo serem líderes em suas regiões e terem projeção global, aumenta as pressões domésticas, e as ambições e competição internacional. A realidade política e geopolítica da América Latina (Brasil) é bem diferente da Ásia (China) ou Eurásia (Rússia). O Sul da Ásia (Índia) tem necessidades e rivalidades nucleares bem distintas da imensidão do continente Africano (África do Sul). Algumas dessas regiões conversam politicamente enquanto outras apenas economicamente. Apesar do maior parceiro comercial do Brasil ser a China, somos muito mais isolados politicamente se compararmos às relações entre os outros. China, Índia e Rússia já foram aliados e inimigos em diferentes momentos. Brasil nunca esteve muito próximo deles, inclusive por questões geográficas de distância.

Para que servem os BRICS?

Quais são os interesses de cada país? Como cada um usa o bloco? Vou fazer um breve resumo dos principais interesses de cada país baseados no xadrez atual do mundo.

RÚSSIA

Vladimir Putin, presidente da Rússia, propôs uma integração entre A União Eurasiática (Rússia, Csaquistão e Bielo-Rússia) e a Unasul (União das Nações Sul-Americanas) e consequentemente aproximá-lo dos Brics. Putin precisa de alternativas para aliviar a crise geopolítica com a Ucrânia, Europa e EUA. O anúncio do Obama sobre novas sanções apenas reforça a tendência em andamento da Rússia buscar novas opções e parcerias para se fortalecer econômica e politicamente. Isso já foi demonstrado no recente acordo com a China para fornecimento de gás. O bloco é uma ótima plataforma para a Rússia conseguir abrir novas parcerias comerciais e ao mesmo tempo fortalecer sua narrativa e legitimidade diante das últimas crises geopolíticas.

CHINA

Já a China usa o grupo de forma mais simbólica, particularmente para confrontar o sistema internacional criado pelos americanos e construir intituições paralelas. Sendo a maior economia dos 5 países, a China vai arcar com a maior parte dos custos da formação do banco. No fundo, os chineses tem menos a ganhar e usam o bloco de forma mais indireta para exercer seu poder global. Afinal, os chineses já têm espaço internacional suficiente e tentam apenas diversificar sua exposição e projeção de poder. O banco dos BRICS é apenas um dos muitos mecanismos internacionais que a China está engajada. Na Ásia, os chineses estão querendo criar um banco de investimento para infra-estrutura. Portanto, o dragão asiático seguirá usando os BRICS como uma das suas várias alternativas para ampliar seu escopo de projeção de poder.

ÍNDIA

Tem uma gama de problemas que impedem pensar no bloco como algo muito relevante. Os problemas internacionais do país estão mais ligados a questões regionais do que globais. Seu rival e vizinho Paquistão tem armas nucleares e é um estado falido. A Índia é o 4º país do mundo que mais sofre de terrorismo e está próxima dos três primeiros da lista (Afeganistão, Paquistão e Iraque). A ascensão chinesa e sua presença no Oceano Índico complica a vida dos indianos e a harmonia dos BRICS devido à crescente rivalidade dos dois gigantes. Cada vez mais a Índia vai ganhar relevância internacional e sua importância regional já lhe traz bastante visibilidade e desafios. Por isso, os indianos tendem a se manter ocupados e o bloco, por hora, deve ficar em segundo plano.

BRASIL

O Brasil tem dificuldades de projetar poder internacionalmente pois não é ativo nas questões relacionadas com a paz e segurança internacional. O tão almejado assento permanente no Conselho de Segurança da ONU busca preencher essa lacuna. A liderança regional brasileira é muito mais branda e desordenada por opção e falta de capacidade e planejamento. Ou seja, o Brasil é o país do bloco (excluindo África do Sul) que menos sabe acumular e projetar poder. Por essa razão, os BRICS dão uma visibilidade que o país não consegue em muitos outros fóruns ou interações internacionais. O fato do Brasil trazer outros países da região para participar do encontro em Fortaleza corrobora com a vontade de se apresentar como uma potência global, principalmente para os seus vizinhos. Ou seja, o Brasil é o país que tem mais a ganhar com o grupo. Mas por outro lado é também um dos menos poderosos do grupo e terá mais dificuldades em impor suas vontades. Isso ficou evidente na negociação da primeira presidência aonde o Brasil teve que ceder para a Índia.

ÁFRICA DO SUL

A inclusão da África do Sul no bloco, em 2011, pode ser considerada uma vitória para o líder Africano e um ganho de legitimidade para o grupo. Uma das razões que o país foi escolhido, ao invés de economias maiores como Nigéria e Indonésia, está relacionado com o alinhamento político com os outros membros. Para África do Sul, o desafio será equilibrar sua política externa de responsabilidades de potência emergente com a de liderança de um continente pobre. O enfoque é muito mais de cautela, sem criar grandes problemas no bloco e aproveitar para surfar na onda dos grandes sem ser um deles.

Conclusão e Futuro

Uma maneira de medir a capacidade dos BRICS é compará-lo com um grupo ou instituição global análoga, composta por grandes potências e líderes regionais. O mais próximo é o Conselho de Segurança da ONU com uma vantagem clara de ser um órgão de legitimidade universal ao invés de um grupo de uma classe restrita de países emergentes. Mesmo assim, sabemos muito bem das dificuldades do Conselho em obter consenso e como acaba travado politicamente devido os interesses diversos das potências. Por que um grupo com menos legitimidade global conseguiria obter mais coordenação e resolução?

Artigo Exame orginal: http://exame.abril.com.br/rede-de-blogs/risco-politico-global/2014/07/16/para-que-servem-os-brics/

 

A Copa do Mundo, como outros eventos esportivos internacionais de grande porte, é um fenômeno político. Tanto o desejo de sediar o torneio, as paixões nacionais de vencer o seu rival ou derrotar uma grande potência como a promoção de ideologias nacionalistas são todos exemplos de como a política permeia esses eventos.

Torneios globais esportivos parecem promover valores e ideais universais, principalmente a noção de união e confraternização mundial. Contudo, a competição política regional ou global entre os países não é suspensa quando se iniciam as competições esportivas. Os ressentimentos e rivalidades políticas são replicados nos esportes em uma clara demonstração de como o nacionalismo ainda é a força dominante nas relações internacionais. Essa exaltação das diferenças nacionais e do nacionalismo foi comprovada em uma pesquisa realizada em 19 países e publicada recentemente no New York Times. A pesquisa mostra como as rivalidades políticas se manifestam dentro do campo na Copa do Mundo. Os Mexicanos indicaram os EUA como seu time menos favorito. Os brasileiros e argentinos querem a derrocada do outro. Os gregos atacam os banqueiros, apontando a Alemanha e EUA como os times que menos gostam. Japão e Coreia do Sul também não se gostam no esporte.

Nacionalismo & Retorno Economico 

O nacionalismo é uma força poderosa que oferece um sentido de lugar, historia e identidade. Parte de ser brasileiro está no fato de não sermos argentinos. A identidade coletiva é construída na diferenciação do nosso dissimilar. Hinos, bandeiras, cores, historias, cultura, símbolos e esportes são todos aspectos que constroem uma identidade nacional. A construção de qualquer cultura é formada por eventos e tradições históricas. Algumas culturas carregam laços de um passado histórico de lutas ou militar. No caso do Brasil temos menos historias coletivas de combates e mais símbolos como o futebol. O futebol é um dos momentos em que a sociedade brasileira compartilha dessa conexão coletiva nacional. Nessa caso, a Copa do Mundo é um momento único aonde todos esses símbolos mexem com a paixão coletiva da nossa identidade brasileira.

Hitler e Mussolini usaram as Olimpíadas e Copa do Mundo para exaltar o orgulho nacional e promover sua ideologia. O jogo da final da Copa de 1934 não foi realizado no Estadio Nacional do Partido Fascista por acaso. Em 1978, dois anos apôs o golpe militar na Argentina, a Copa ajudou a tirar o foco das perseguições, violencia e desaparecimento de dissidentes promovido pelo regime militar. Nelson Mandela usou o rugby e o futebol para reaproximar e unificar a Africa do Sul pós-apartheid.

O debate sobre investimentos e retornos econômicos também demonstra a relevância da política na Copa do Mundo. Os governos sempre justificam os altos investimentos para sediar tais eventos apontando para os benefícios econômicos. O retorno econômico mais citado é o turismo. Infelizmente, os resultados mostram outra coisa. No livro The Economics of Staging the Olympics, Holger Preuss mostra que é impossível provar que, por exemplo, as Olimpíadas em Sidney, Australia, teriam aumentado o turismo na cidade. Em 1988, nos jogos de inverno de Calgary houve uma queda de 12% no turismo imediatamente apôs os jogos e mais 10% no ano seguinte. Claro que durante o torneio o país recebe mais turistas, essa é a essência de sediar um evento internacional. Porém, comprovar ligações de causa e efeito, entre os torneios e o turismo, no longo prazo é muito difícil. Ou seja, sem comprovação de retorno econômico só resta a motivação política por trás do tamanho investimento.

Copa X Olimpíadas 

Outro ponto importante é a popularidade do futebol. Usar um evento desse porte para projetar poder e influência globalmente depende do nível de interesse da população mundial sobre o esporte. Na final da Copa de 2010, foram 500 milhões de telespectadores assistindo o jogo. Apenas 12% dos brasileiros se dizem desinteressados pelo futebol. Com 17% de desinteresse, a Rússia mostra que também gosta do futebol. Apesar do futebol ser um esporte praticado em todos os países e ter uma penetração global única, ainda pode ser considerado menos relevante no jogo da geopolítica. Se pensarmos em grandes potências — EUA, China, Rússia, Índia, Brasil, França, Inglaterra, Alemanha e Japão — apenas o Brasil, Alemanha e Rússia demonstram baixos índices de desinteresse pelo esporte. Para 60% dos americanos o futebol não é interessante. Os dois mais populosos do mundo, Índia e China, não são grandes admiradores do esporte.  Até mesmo para ingleses e franceses o número de desinteressados é alto, 50% afirmam não ligarem para o futebol. A Copa tem menos relevância geopolítica do que as Olimpíadas devido a popularidade do esporte nos países mais poderosos do mundo. O futebol pode atrair um número absoluto de admiradores maior que qualquer outra modalidade, mas não é tão relevante nos países “mais importantes”. A competição pela medalha de ouro e pela vitória no quadro geral de medalhas tem um significado político importante desde os tempos da Guerra Fria aonde a competição ideológica se dava na conquista das medalhas.

As olimpíadas também englobam uma diversidade de modalidades e por isso são mais representativas quanto as capacidades esportivas gerais de uma nação. O esporte promove valores de excelência, disciplina, determinação, superação e competição dentre outros. Portanto, uma nação campeã de medalhas pode clamar que cultiva capacidades que as qualifica para se tornar ainda mais poderosa.

No fundo, eventos internacionais desse porte servem muito mais interesses políticos do que a celebração do esporte. Na sua versão mais amena, a Copa é um circo promovido pelo estado democrático para ganhar atenção e exposição internacional buscando fortalecer sua imagem. Na sua versão piorada, competições internacionais ajudam regimes totalitários e violadores de direitos humanos parecerem membros responsáveis da comunidade internacional. O fato é que tanto Copa do Mundo como Olimpíadas ganham cada vez mais importância política, e não esportiva. Dizer que a Copa começou, e portanto devemos deixar a política de lado é simplesmente impossível. O esporte entre nações é político demais para ser visto apenas como uma competição atlética. Na esfera doméstica não poderia ser diferente, a política democrática usa ferramentas de percepção de massa, símbolos nacionalistas e populares. Nada mais popular e nacionalista do que o futebol para o brasileiro. Ilusão daqueles que acham que um evento como a Copa do Mundo não tem motivações e significados políticos.

No proximo post vou escrever sobre os fatores que influenciam uma disputa eleitoral. Dentro desse contexto de Copa do Mundo tenho escutado muitas discussões se o torneio tem ou não influência no processo eleitoral. Para aqueles que precisam avaliar os riscos políticos ligados as eleições, entender quais são os fatores críticos ajuda a desenhar cenários confiáveis.

Publicação Blog Exame original: http://exame.abril.com.br/rede-de-blogs/risco-politico-global/2014/06/15/copa-do-mundo-e-a-geopolitica/

Há 40 anos atrás o mundo estava lidando com a crise do petróleo criada pela OPEC (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) quando a organização cortou suas exportações para os EUA e seus aliados, como forma de punição ao apoio a Israel na Guerra do Yom Kippur em 1973.

O embargo de 1973 tem muito a nos dizer sobre risco político e geopolítica. A independência e segurança energética são questões estratégicas para qualquer país. É dentro desse contexto que o Brasil acaba de finalizar o leilão do primeiro bloco do pré-sal, a reserva de Libra.

Será que os EUA ainda têm sua segurança energética ameaçada por um embargo ou por uma dependência excessiva no combustível fóssil? Eu escuto muito as pessoas usando o petróleo como a explicação de tudo que acontece no mundo. Desde a política externa americana no Oriente Médio até as intervenções na Síria, Líbia e Iraque (só para citar alguns dos assuntos), a causa de tudo é o interesse no petróleo. Nesse post eu não quero me aprofundar nos porquês das guerras, mas posso afirmar que colocar o petróleo como o centro de tudo é uma simplificação e superficialização da realidade. Tendo dito isso podemos voltar para a pergunta acima.

Primeiramente, o embargo tinha como objetivo resolver uma questão geopolítica, acabar com o apoio do Ocidente a Israel. Não aconteceu. Portanto, o embargo não se mostrou uma ferramenta efetiva. Segundo, os países afetados foram em busca de alternativas e soluções para a sua dependência energetica. É curioso que um dos argumentos mais comuns aponta para a dependência americana de fornecimento do petróleo do Oriente Médio. Os EUA nunca foram dependentes do fornecimento de petróleo da região e hoje apenas 9% do seu fornecimento vem de lá. Historicamente, a região nunca forneceu mais de 15% do total do petróleo americano.

O erro comum de focar na dependência energética indica uma outra confusão mais grave. O perigo para os EUA, e para outros países que buscam auto suficiência energética, em termos de fornecimento, está na incapacidade de controlar o preço do petróleo e todas as conseqüências econômicas resultantes da sua variação. O problema do embargo não foi o corte de fornecimento para os EUA, mas a diminuição na produção do cartel que fez o preço do barril subir de $5.12 para $11.65. O mundo todo sofreu com o embargo, não somente os países que foram alvos do corte de fornecimento.

Hoje a China, por exemplo, importa 60% do seu petróleo e 30% do seu gás natural. Ter o seu fornecimento vindo de fontes externas não é o ideal, mas talvez a maior dependência seja em relação ao impacto do preço do petróleo na competitividade de uma economia de manufaturados orientada para exportação. A variação do preço do petróleo impacta o custo de transporte que por sua vez aumenta o preço final dos produtos chineses. Auto suficiência energética é só uma parte da equação energética.

O cartel do petróleo ainda domina 3/4 das reservas convencionais da commodity, 1/3 do fornecimento global e tem o menor custo de produção por barril do mundo. O fato do cartel ser formado por países soberanos, ao invés de empresas privadas, impossibilita que leis antitrust penalizem a pratica abusiva. Se estamos falando de um cartel de países, então estamos falando de riscos políticos na sua forma mais pura no que se refere ao combustível de transporte mais importante.

Felizmente, nem todos os membros da OPEC querem ver aumentos imediatos e exorbitantes da sua commodity. Venezuela e Irã adorariam que isso acontecesse pois ajudaria suas economias fracas. Já os outros países aprenderam algumas lições com o embargo de motivação política de 1973. A queda de preço do petróleo nos anos 80, posterior ao embargo, foi causada pelo impacto econômico nos países afetados e mostrou como pressionar seus clientes pode trazer problemas no longo prazo. A exploração de novos campos de petróleo fora do cartel e a busca por eficiência energética foram também algumas das medidas adotadas para contrapor o embargo.

Politicamente muitos dos países Árabes, principalmente a Arábia Saudita, têm a opção de aumentar sua produção para baixar o preço. Hoje os sauditas estão mais preocupados com a ameaça iraniana do que punir seus aliados ocidentais. O caos político e social que se instalou no Oriente Médio pós-Primavera Árabe mostra bem o tamanho das dificuldades intra-regionais. Talvez uma melhor opção nesse momento para a Arabia Saudita seja baixar o preço do petróleo e não aumenta-lo. A situação política regional e o risco de forçar seus clientes a acelerarem a busca por alternativas faz do cenário de 1973 um evento pouco provável.

A produção energética também está passando por uma revolução no que tange as novas tecnologias de exploração como o petróleo e o gás de xisto. 10% de todo o petróleo do mundo e 32% do gás natural estão localizados em formações de xisto. De acordo com o Energy Information Administration (EIA) esses novos recursos aumentaram as reservas globais de petróleo em 11% e 47% de gás natural. Em 2012, 1/4 da produção de gás americana vem do xisto e em 2035 o número será o dobro.

O mapa no post seguinte mostra as possíveis bacias de xisto espalhadas pelo mundo. Grandes reservadas estão na China, Argentina, Austrália e África do Sul. Muitos países se beneficiariam da exploração do xisto, incluindo Brasil. Alguns países como Polônia, Turquia e Ucrânia teriam ganhos geopolíticos ao conseguirem diminuir sua dependência de fornecedores hegemônicos como Rússia e Irã.

Concluindo, a OPEC ainda tem poder mas o cenário político de hoje não favorece o uso do petróleo como arma política contra o Ocidente. Um entendimento mais amplo do conceito de segurança energética deve transcender a ideia de auto suficiência e nesse ponto o Brasil deve pensar suas considerações estratégicas.

Artigo original na íntegra no link: http://exame.abril.com.br/rede-de-blogs/risco-politico-global/2013/10/24/petroleo-geopolitica-e-seguranca-energetica/

O atual cenário de instabilidade argentino, causado por uma profunda crise econômica e política, tem aumentado a desconfiança dos investidores estrangeiros no país quanto ao retorno e segurança de seus investimentos. Levando em conta os últimos capítulos da novela política argentina, fica evidente que a situação parece longe de estar resolvida. Para se entender o risco de investimento e a crise de desconfiança internacional na Argentina, é necessário analisar as mais recentes decisões políticas tomadas pelo governo de Cristina Kirchner. Com isso, pode se perceber que considerações ao risco político devem ser centrais na decisão de se investir ou não em um país, especialmente na Argentina comandada por Kirchner.

Nacionalização ou expropriação é um dos exemplos clássicos de risco político. Muitos acreditam que essa é uma das formas mais perigosas de risco que o investidor estrangeiro pode se deparar. Em alguns países existem maiores chances disso acontecer, e a Argentina tem mostrado que é um deles. A nacionalização da maior empresa produtora de petróleo do país, a YPF, no primeiro semestre de 2012, comprova isso. A ingerência estatal em diversos setores do governo Kirchner vem assustando os investidores que temem que seus negócios ou participações sejam expropriadas. Ou seja, entre correr o risco de investir em um país sujeito aos anseios políticos do governo no poder e se investir em um outro local com estabilidade institucional, a segunda opção será sempre melhor.

Além das nacionalizações, os investidores estrangeiros têm encontrado outras dificuldades para o desenvolvimento de seus negócios na Argentina. Medidas protecionistas estão entre elas e as que têm sido mais prejudiciais às marcas internacionais são os controles de importações. Muitas empresas estão sendo forçadas a deixar o país porque não conseguem colocar seus produtos disponíveis aos consumidores argentinos.

Outro fator bastante preocupante para o investidor estrangeiro é a instabilidade do ambiente político argentino. Diversas situações se enquadram nessa realidade. A lei de controle da imprensa é um exemplo e tem se expandido cada vez mais. O Grupo Clarín, maior grupo de mídia do país, tem sido um dos mais afetados. Isso demonstra que a liberdade de expressão democrática está sendo ameaçada, evidenciando que o governo avança rapidamente contra bens privados e compromete a transparência e a segurança institucional do estado de direito democrático.

A manipulação de números oficiais é mais um exemplo da falta de transparência do governo argentino – algumas fontes estimam uma inflação de em torno de 25% para 2012, apesar dos números oficiais publicados serem muitos inferiores a isso. A tomada de decisão de novos investimentos é afetada porque a manipulação dos números impede análises precisas que apurem a realidade econômica do país. Sem informação confiável não se pode planejar e mensurar riscos.

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Gráfico mostra as diferenças entre os números oficiais e de outras fontes

A crise na Argentina tem origem nas políticas adotadas pela sua presidente. Hoje é impossível investir no país sem compreender o cenário político interno e as possibilidades de novas medidas adotadas pelo governo. Portanto, destinar recursos à Argentina hoje ou no futuro próximo pode ser bastante arriscado se comparado a outras localidades de maior estabilidade política na região. Brasil e Colômbia podem acabar se beneficiando com a crise Argentina pois oferecem cenários políticos e institucionais mais estáveis frente ao risco politico argentino.

É possível entender muito sobre a economia de um país através da análise da sua estrutura logística de transporte e infra-estrutura em geral. No caso da China, o investimento pesado nos projetos rodoviários e a relação com seu modelo econômico fundamentado em exportações pode elucidar muito sobre os desafios do dragão asiático.

Hoje, cerca de 76% do total de transportes de cargas na China são feitos pelo modal rodoviário. Para se ter uma idéia, a malha viária da China hoje alcança os expressivos 81 mil quilômetros de estradas (ficando atrás apenas dos EUA). Em 1992, esse numero nao chegava nem aos mil (aproximadamente 570 km de rodovias expressas).

Denominador comum em discussões entre empresários no Brasil, é sabido que um dos grandes obstáculos para um real desenvolvimento da economia do país é a melhoria da infra-estrutura de transportes. Em termos de custos, as rodovias são o meio mais custoso se comparado a ferrovias e vias fluviais. Ou seja, para um país ganhar competitividade e eficiência, o ideal seria ter uma malha ferroviária e fluvial maior. Na China o problema não é muito diferente do Brasil e uma taxa baixa das operações de transporte de cargas são feitos por ferrovias e vias fluviais (aproximadamente 12-13% para cada um dos modais).

Milhares de caminhões em direção a Pequim, somados a problemas como obras e má-gestão de tráfego resultaram em um trânsito de cerca de 100km de extensão e duração de 9 dias

Além do custo de transporte, o sistema rodoviário chinês enfrenta outros problemas comuns a este modal, como trânsito caótico. Recentemente foi noticiado um engarrafamento, nos arredores de Pequim, que durou nada menos do que 9 dias. Houveram relatos de motoristas que percorreram 500-600 metros durante períodos de 4 a 5 horas. Para a segunda maior economia do mundo, aspirante ao primeiro posto, este modelo nao é sustentável.

Se ligarmos a estrutura de transportes chinesa com a localização geográfica do seu centro produtivo econômico podemos entender melhor o tamanho do desafio chinês em distribuir o desenvolvimento de forma mais uniforme pelo país. O coração da economia exportadora chinesa está no litoral. Para levar desenvolvimento ao interior, onde as taxas de desenvolvimento ainda são baixas, o governo esta tentando transferir parte da atividade econômica para oeste da costa.

Se o projeto do governo chinês é, de fato, exportar o crescimento do litoral para o coração da China, e assim evitar uma série de problemas como um êxodo populacional fixo (uma vez que movimentos migratórios de proporções enormes já ocorrem anualmente), a realidade da infra-estrutura chinesa representará um desafio considerável.

Distribuição das exportações chinesas por províncias (dados de 2011)

Embora funcional no litoral, onde distâncias são relativamente menores e fatores como combustível e desgaste dos caminhões nao são tão significantes, operações logísticas maiores, conectando o interior às áreas de escoamento da produção, vão sem duvida se deparar com desafios e custos exorbitantes. São esses obstáculos logísticos, causados por fatores geográficos, que dificultam o desenvolvimento de uma nação. O empresariado brasileiro que o diga!

A análise realizada pelo Insight Geopolítico baseia-se na produção de conhecimento estratégico para tomadores de decisão. Diferentemente do jornalismo — cujo enfoque é sempre o ‘hoje’ — a essência da análise está nas consequências do hoje para o amanha.

A compreensão do cenário internacional e do relacionamento entre Estados envolve diversos fatores, normalmente deixados de lado no noticiário descritivo e pontual de determinado acontecimento. Pensar no evento como um todo e, principalmente, em suas repercussões futuras — diretas e indiretas — é o diferencial que uma análise estratégica oferece.

Para o investidor ou o empresário, não basta apenas saber o que está acontecendo no mundo, ou pelo menos nos lugares que lhes são estratégicos. É essencial compreender as forças que movem os acontecimentos em tais ambientes e quais as implicações que um determinado evento — uma virada política, a aprovação de determinada lei, etc. — terão no curto, médio e longo prazos para seus investimentos. Compreender o que determinado político afirmou é uma tarefa simples. Encontrar o porquê de tal afirmação, assim como suas implicações, já é algo mais complexo e, consequentemente, tão ou mais importante do que a afirmação em si. O acesso a este tipo de inteligência estratégica permite um melhor planejamento e, desta forma, evitar choques inesperados.

Eventos internacionais ganham e perdem espaço no noticiário de forma aleatória. Dependendo do grau de importância momentânea de determinado tema, este ganha as manchetes por um período e depois é deixado de lado. A questão é que todos os eventos continuam a se desdobrar de forma heterogênea e errática, independentemente da atenção da grande midia. Apenas estar antenado sobre o acontecimento de hoje e, talvez, de amanha, não basta para se pensar em uma estratégia sólida.

Eleições na Grécia tiveram, como resultado, solavancos nos mercados e incertezas quanto à permanência do país na zona do Euro

Para dar um exemplo prático; o Insight Geopolítico publicou, em 2 de Abril, um artigo sobre o então provável cenário político grego para as eleições previstas para Maio (ocorridas no último dia 6). Enfatizamos que havia grandes possibilidades de diversos partidos, inclusive os mais radicais, terem bom desempenho e tornar uma coalizão impraticável — colocando em risco a aprovação das medidas de austeridade, cruciais para o recebimento de pacotes de ajuda financeira. Cerca de um mês depois, as previsões se confirmaram, o quadro político grego é de total desalinhamento e há o risco latente de uma saída da zona do Euro, com consequências para os mercados ainda difíceis de se quantificar.

Diferenciar jornalismo de inteligência estratégica é fundamental para a elaboração de planos de negócios sólidos e evitar riscos. Acompanhe o Insight Geopolítico e conheça nossos serviços.

 

Visite o nosso novo espaço – Risco Político – onde dissecamos, em forma de perguntas e respostas, o que é Risco Político e como essa variável tão específica afeta diretamente a realidade dos negócios e investimentos no mundo atual.

A rodada de eleições do último final de semana demonstrou ao mundo, mais uma vez, como uma crise econômica é no fundo uma crise política. Não é de se surpreender, uma vez que o raison d’être da União Européia foi, desde o início, baseado em questões essencialmente políticas.

Na França, o socialista e crítico aberto da austeridade sem crescimento, François Hollande, venceu Nicolas Sarkozy. Na Grécia, como já antecipado pelo Insight Geopolítico, diversos partidos ganharam espaço no Parlamento, impossibilitando a coalizão necessária para a continuidade no processo de implementação das medidas de austeridade – sem as quais os pacotes de ajuda financeira não virão. No Estado de Schleswig-Holstein, a coalizão de Angela Merkel também sofreu uma derrota, dando sinais de que mesmo na Alemanha, em alguns locais, já existe uma oposição forte ao status-quo.

O projeto de moeda única não levou em consideração fatores políticos. Na história, nunca houve um caso de sucesso de um projeto de união monetária sem a união política.

Nos anos em que a economia esteve vibrante, o sentimento europeu pelo projeto da moeda única manteve-se fortalecido, facilitando a cooperação e buscando avançar em direção à união política – sem a qual é inviável a sobrevivência da união monetária. Porém, a crise trouxe uma mudança drástica neste cenário. Hoje, o debate não é mais sobre como consolidar a união política, mas sobre quem se prontificará a salvar a UE do colapso. A Alemanha, economia mais forte e peça central do projeto europeu, não se mostra disposta a exercer tal papel caso suas precondições não sejam atendidas.

É neste ponto que entra o fator geopolítico.

Com o colapso da URRS e a reunificação alemã, os medos de uma Alemanha forte e assertiva voltaram à tona. Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, os governos da França e do Reino Unido ja se opunham ao processo de reunificação alemão. Como solução, veio a ideia da união monetária, que tornaria ainda mais sólidos os laços entre as potências européias – especialmente Paris e Berlim.

Hoje, este sentimento volta a aparecer de forma contida. Países do sul da Europa vêem uma maior assertividade alemã, principalmente com os requisitos exigidos por Berlim para a liberação dos grandes pacotes financeiros para as economias endividadas. O desequilíbrio econômico causado pela crise deu origem a um novo problema de cunho geopolítico.

Um fator largamente desconsiderado pelos fundadores da UE foi a identidade nacional dos povos europeus. Desde a fundação do bloco, pouca ou nenhuma atenção foi dada ao fato de que, embora o desejo pela paz e estabilidade fosse consensual, não havia – e não há até hoje – uma noção popular e difundida da identidade ‘européia’ e não apenas grega, belga ou holandesa.

O parlamentar Geert Wilders, líder do Partido da Liberdade - ao retirar apoio à coalizão por questões ideológicas, o governo holandês ruiu

Desta forma, tão logo a crise chegou, populações tanto dos países credores como devedores abraçaram ideais nacionalistas. A confirmação veio através dos resultados das últimas eleições. A ultra-direita e a extrema esquerda tiveram resultados expressivos nas recentes eleições. Ideias anti-européias, anti-imigração e pró-nacionalistas ganharam muito espaço, criando obstáculos consideráveis não só à governância doméstica destes Estados, mas também, num âmbito macro, à estrutura política da UE.

Neste contexto, dois cenários se colocam frente ao futuro da Europa; um é a manutenção do formato atual, mediante à imposição de medidas de austeridade severas a diversos países, gerando anos de depressão que poderão se traduzir em mais instabilidade política – grande parte destes países tem altos índices de desemprego entre a população jovem, uma mistura perigosa.

A segunda opção, logicamente, é a gradual saída de alguns países da zona do Euro – hoje o caso provável seria a Grécia. As consequências desse cenário podem ser desastrosas, dependendo de como os mercados avaliarem a capacidade dos outros membros remanescentes em se manter no bloco – principalmente os demais países hoje em situação de risco, à exemplo de Espanha e Portugal. Isso sem mencionar os impactos subsequentes que o caos social grego pós-euro pode gerar sobre o resto da Europa.

A UE se vê hoje em uma encruzilhada, na qual os dois caminhos serão difíceis de se percorrer. Caso ela sobreviva, cenário mais provável, ela perderá grande parte da força política que já teve, embora possa ser capaz de manter o equilíbrio geopolítico.

A segunda maior economia da União Européia pode ser o núcleo de um novo recrudescimento da crise no continente. Diferentemente de países periféricos, cujas economias em semi-colapso já deram alguns sustos nos mercados, um solavanco vindo de Paris poderia acarretar até mesmo na dissolução do bloco, que tem como pilares justamente a própria França e a Alemanha.

Recordista em gastos públicos (56% do PIB) e em volume de empregados pelo Estado por grupo de 1.000 habitantes (90, contra 50 na Alemanha), a economia francesa começa a dar sinais claros de uma realidade já não tão recente: sua competitividade diminuiu muito ao longo dos últimos anos, criando um descompasso com uma folha de pagamentos estatal digna de países como Suécia. Para se ter uma ideia, em 2000 o custo/hora de um trabalhador francês era 8% mais barato que o de um alemão. Hoje o mesmo trabalhador tem um custo/hora 10% mais caro que na Alemanha.

Com uma dívida pública beirando os 90% e uma economia semi-estagnada, o modelo francês de estado de bem-estar social inchado é solo fértil para a eclosão de uma crise severa.

François Hollande e Nicolas Sarkozy - eleição francesa pode ser decisiva para um novo recrudescimento da crise

É nesse contexto que entram as eleições, com o segundo turno marcado para 6 de Maio. O atual presidente, Nicolas Sarkozy, enfrenta um empolgado François Hollande, proveniente do socialismo francês. O primeiro turno terminou com um quase empate técnico entre ambos. As extremas direita (Marine Le Pen com 18%) e esquerda (Jean-Luc Melenchon com 11%) ficaram em 3o e 4o lugares, respectivamente.

A possibilidade de Hollande vencer Sarkozy não só assusta este último – que entraria para a história como o segundo presidente da 5a Republica (iniciada em 1958) a não se reeleger – mas, principalmente, os mercados. Defendendo políticas pouco ortodoxas, como a renegociação do Pacto Fiscal Europeu, que regula pela responsabilidade orçamentária dos Estados-membro, aumentar o salário mínimo e retomar a aposentadoria para os 60 anos, Hollande passa a ideia de que vai colocar o processo de contenção da crise européia em xeque.

Por mais que seja importante ler tais discursos e posições pelo prisma eleitoral, tais medidas representam um risco grande à Franca e à Europa. Dado que o eleitorado frances é reconhecidamente reacionário a mudanças no status quo do modelo de estado paternalista – alvo principal das medidas de austeridade tão criticadas por Hollande – suas chances de vitória não são pequenas. E, mesmo que muitos dos eleitores franceses não estejam convencidos de que Hollande é a melhor opção, a rejeição a Sarkozy pode lhe dar a presidência, já que grande parte do eleitorado não gosta da ideia de mais 5 anos da administração atual.

O desempenho da extrema direita com Marine Le Pen, e da extrema esquerda com Jean-Luc Mélenchon, também diz muito sobre a cena política local. A fobia com quaisquer influencias externas na sociedade francesa – seja a globalização ou mesmo a UE – se refletiu no desempenho de candidatos mais extremistas. A França adotou o mantra de que os males sofridos hoje pela sua economia têm sua raiz na abertura do país para o mundo. Entretanto, os franceses não parecem compreender que, sem as receitas provenientes de um mercado aberto, será impossível balancear os gastos públicos excessivos do Estado francês e evitar um colapso.

Risco de fragmentação da UE existe e não é pequeno

O grande perigo do discurso de François Hollande está justamente no fato de suas propostas estarem sintonizadas com os valores das massas. Mesmo que ele não cumpra parte das promessas de campanha, as pressões para tanto serão grandes, podendo ter resultados políticos inesperados e com conseqüências difíceis de se prever e quantificar. Para dar um exemplo, sua disposição a lutar por uma revisão do Pacto Fiscal Europeu pode gerar indisposições com a Alemanha, o que levaria instabilidade ao campo político europeu.

Caso a França siga este caminho, será muito mais fácil para os outros países europeus adotarem políticas similares, uma vez que há um crescente descontentamento com as medidas atuais pela ausência de mecanismos favoráveis ao crescimento. Nesta situação, pode haver um efeito cascata capaz de enterrar o projeto de integração europeu.

Desde o fim da União Soviética, os Estados têm optado pelo modelo econômico liberal, diminuindo sua participação na economia, principalmente através das privatizações de suas empresas públicas. A ascensão das economias emergentes – os BRICS – somada a crise de 2008, colocou esse movimento em xeque. As intervenções governamentais na economia cresceram muito após a crise, e essa tem sido a prática mais comum tanto para desenvolvidos quanto para emergentes. Contudo, no segundo caso, o fato de suas economias terem se consolidado sob um modelo de state capitalism torna ainda mais fundamental a intervenção do Estado na economia.

YPF, subsidiária da espanhola Repsol, foi expropriada pelo governo de Cristina Kirchner

É nesse contexto que, na semana passada, a Argentina decidiu nacionalizar a YPF, petrolífera subsidiária da espanhola Repsol no país. Em geral, expropriações são facilitadas por questões primordiais do sistema internacional político e pela economia mundial. A primeira é a própria soberania dos países; sem uma autoridade supranacional capaz de impor regras e aplicá-las, as nações são sempre a maior autoridade no que diz respeito a suas vontades e interesses. A segunda questão é de cunho econômico; a atual onda de alta nos preços de commodities torna economicamente atraente a nacionalização de determinados setores da economia, e transformá-los em instrumentos de política interna e externa. Não por acaso, boa parte das gigantes petrolíferas hoje pertencem a governos, como a Saudi Aramco (Arábia Saudita), a CNOOC (China) ou a própria Petrobrás.

Para empresas e governos, o ideal é antever e se prevenir quanto a ações de nacionalização. A ação de expropriar a propriedade de determinada empresa pode ser baseada em diferentes motivações e ocorrer de formas distintas. O caso da YPF elucida dois fatores importantes como motivação para tal ação: ideologia e nacionalismo.

O nacionalismo é um fator crucial nas expropriações. Normalmente utilizado por governos quando países passam por momentos de crise doméstica, uma de suas ferramentas é encontrar um “culpado” externo para justificar falhas internas. Desta forma, nacionalizar ativos de estrangeiros em setores de valor, normalmente commodities, se traduz, politicamente, em um momento de orgulho nacional e uma forma de angariar apoio da população ao governo. Da mesma forma, esses setores estratégicos também servem de fonte de renda para financiar políticas populistas.

Cristina Kirchner - exemplo clássico de governante populista

 

Por fim, deve-se incluir na análise a ideologia dos governos em exercício. Processos de expropriação baseados em questões ideológicas são, historicamente, um dos maiores fatores por trás destas ações. Como políticos esquerdistas não tendem a esconder seus objetivos, é possível antever tal fenômeno. O governo de Cristina Kirchner, assim como o de seu predecessor e marido, Néstor Kirchner, sempre se baseou em uma plataforma populista. Uma grande fração das contas do Estado são direcionadas aos subsídios de serviços, produtos e crédito fácil. Embora a Argentina tenha experimentado algum crescimento econômico nos últimos tempos, tal modelo enfraquece as contas governamentais, o que força o aumento de impostos, prejudicando a competitividade da economia do país. Acusar uma multinacional – neste caso a Repsol – de não contribuir com a sociedade é cômodo e relativamente fácil. No médio e longo prazo, quem mais perde é a própria Argentina, pois cada vez mais afugenta o investimento estrangeiro tão necessário para o desenvolvimento, principalmente do setor energético.

O caso da nacionalização da YPF, é apenas mais um episódio de um fenômeno que não da sinais de que vá se extinguir nos próximos anos. Pelo contrário. Como vimos, expropriações podem se tornar mais freqüentes com o crescimento do modelo capitalista estatal, praticado principalmente pelas economias emergentes.

 

Em um mundo tão imprevisível, como o de hoje, os riscos políticos ganham uma relevância ainda maior. Em geral, os maiores riscos políticos sempre estiveram nos mercados emergentes, onde as instituições não são tão sólidas e interferência do Estado no mercado é constante. Entretanto, mercados desenvolvidos, como Europa central – Alemanha, França, Reino Unido, – EUA e outros, também podem oferecer determinados riscos políticos que, à primeira vista, não são visíveis.

Recentemente, o conglomerado brasileiro Odebrecht sofreu um revés político que pode comprometer suas operações nos EUA, no Estado da Florida. O governador Rick Scott devera sancionar uma nova lei na qual prevê que empresas com negócios em Cuba, em valores acima de USD 1 milhão, serão proibidas de operar na Florida.

Lei no Estado da Florida pode comprometer investimentos de gigante brasileira

Ideologias são um fator presente na análise do risco político. Por exemplo, historicamente, quando pensamos em expropriações – algo que ocorreu com a Petrobrás, em 2006, na Bolívia – ideologias são a força motriz por trás deste tipo de evento. Contudo, ideologia e afiliações políticas podem afetar empresas de outras formas menos agressivas e custosas. No caso específico da lei da Florida, seu idealizador é o deputado Michael Bileca, casado com uma cubana. Esse projeto recebe apoio incondicional do lobby anti-castrista, uma das grandes forças políticas do Estado. A população cubana da Florida, em sua maioria descendente de refugiados da revolução de 1959, vê com maus  olhos o regime do país caribenho e são apoiadores irredutíveis do bloqueio, mantido desde 1962.

O Brasil é hoje o principal parceiro econômico da Florida, e a Odebrecht é parte importante deste cenário. Grandes contratos já estão em execução e há negociações para crescimento nos investimentos. Ao mesmo tempo, a posição da empresa brasileira em Cuba é bastante estratégica.

Desde que Raúl Castro, irmão de Fidel, assumiu o poder na ilha, diversas medidas econômicas de abertura vem sendo implementadas. A previsão é de que, em breve, Cuba será novamente um pólo muito atrativo para investimentos em diversas áreas – já que hoje há uma mão-de-obra qualificada subutilizada devido às políticas socialistas ainda predominantes. O Brasil já explora estas variáveis e, no caso da Odebrecht, já há negócios em andamento nos setores de infraestrutura e agronegócio.

Embora a lei ainda não tenha sido sancionada, os negócios da  empresa brasileira estão sob ameaça. Uma decisão política pode afetar diretamente sua estratégia, desmontrando assim a necessidade de lidar de forma sistemática e profissional com os riscos politicos.

BRIC - Grupo apresenta diferenças profundas, impossibilitando coordenação nos campos econômico e, principalmente, político

Nos últimos anos, um dos termos mais utilizados no cenário político-econômico internacional foi a sigla BRIC — Brasil, Rússia, Índia e China — hoje atualizada para BRICS — sendo o ‘S’ referência à África do Sul. Apesar desses países estarem vivendo seu melhor momento, em termos de crescimento econômico e relevância política, ainda assim compõem um grupo bastante distinto. Não por acaso, desde que a sigla foi cunhada em 1o de Outubro de 2003, no relatorio “Dreaming with BRICs: The Path to 2050“, publicado pelo banco Goldman Sachs, esse países foram incapazes de criar uma agenda própria e agirem em coalizão sobre qualquer tema – da economia à posicionamentos quanto a questões geopolíticas.

Uma simples análise histórica, sob o prisma do risco político, já aponta falhas na previsão feita pelo Goldman Sachs. Em 2003, o relatório previu que os BRIC serão, até 2050, as economias predominantes do globo, apenas atrás dos EUA e Japão. Uma pergunta objetiva já colocaria em xeque a previsão: o que garante que os objetivos político-econômicos de tais Estados serão os mesmos pelas próximas décadas? Se olharmos para os últimos 47 anos, todos os membros do suposto grupo passaram por mudanças políticas substanciais, com implicações diretas em suas economias.

China - caráter autoritário do regime não se alterou, apesar das mudanças expressivas na estratégia política

Nestas últimas quatro décadas, a China passou por muitas transformações e nem todas elas produziram o desenvolvimento econômico dos últimos 20 anos. A visão política de Mao Zedong não produziu industrialização e desenvolvimento. De forma similar, tratar as decisões políticas dos próximos 47 anos da China como certeiras e únicas é uma grande simplificação de um país altamente complexo politica e socialmente. Dados os diversos desafios geopolíticos e, sobretudo, sociais que os chineses enfrentam no âmbito doméstico, fica evidente que muitos outros cenários poderiam se formar, alterando o curso atual. Bastaria, nos próximos 15 anos, sua economia não crescer os essenciais 8-9%/ano, algo perfeitamente possível, para não só entrar em uma complexa e perigosa crise interna, mas levar consigo diversos outros mercados, que hoje também vivem boomseconômicos devido à excessiva demanda chinesa por recursos naturais e commodities. Tal cenário poderia, sem sombra de dúvidas, colocar em xeque a estrutura política chinesa.

Rússia - até 1991, núcleo do Império Soviético

Na mesma linha de raciocínio, ao longo das últimas quatro décadas, a Rússia deixou de ser o império centrado na União Soviética – que se extendia do Leste europeu ao extremo Oriente e, ao Sul, até a Ásia central – a um país relativamente menor, com um sistema político diferente e altamente dependente de exportações de recursos naturais. Dadas as prioridades politico-sociais russas, é impossível afirmar, baseado somente em dados económicos, que sua estratégia para os próximos quarenta anos será a mesma.

Os objetivos político-econômicos de cada país variam e se adaptam à realidades que mudam conforme o tempo. A análise feita pelo Goldman Sachs trabalha com diversos índices econômicos, o que sem duvida é importante ao se fazer previsões sobre a evolução de Estados. Porém, é impossível afirmar que a estratégia chinesa ou russa, para os próximos 40 anos, será rigorosamente a mesma e que não haverá qualquer mudança política capaz de influenciar a economia. O mesmo se aplica ao Brasil e à Índia.

Por fim, a ausência do componente geopolítico no relatório em questão também é intrigante. Uma análise básica dos BRICS já é suficiente para apontar dúvidas quanto à possibilidade de cada um sofrer uma mudança política considerável. Nos últimos 40-50 anos, cada um dos países em questão viveram diversas transformações. Acreditar que um boom nos últimos 8 anos será suficiente para garantir o status quo por mais três ou quatro décadas é, no mínimo, pretencioso.

Crise grega pode se agravar

Embora a crise grega tenha se estabilizado, eventos políticos no país podem levar a uma nova situação de instabilidade nos mercados internacionais. O principal fator? A proximidade das eleições, previstas para meados de Maio.

Pesquisas hoje dão conta de que pelo menos oito partidos diferentes deverão ganhar assentos no Parlamento grego. Caso as pesquisas se confirmem, o risco de as medidas de austeridade aprovadas recentemente pela coalisão PASOK (socialista) e o Nova Democracia (conservador) serem atacadas é grande, o que colocaria em xeque os pacotes de ajuda financeira e poderia acarretar em um recrudecimento da crise.

Mesmo com o partido Nova Democracia liderando as pesquisas para as eleições, e o PASOK vindo logo atrás, os dois juntos não conseguiriam, hoje, uma maioria suficiente para governar sem depender de negociações com a oposição. Desta forma, a dificuldade para se aprovar medidas de austeridade – exigências tradicionais das organizações financeiras que hoje ajudam a Grécia, como o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional – será maior. Maior dificuldade significa mais tempo gasto com barganhas políticas e maiores chances de uma piora no cenário atual.

Dado que a Grécia precisará de mais pacotes de ajuda financeira para se sustentar, mais cortes nas contas governamentais serão exigidos, o que certamente gerará uma grande insatisfação popular. Hoje o desemprego está na casa dos 20% e tais cortes atingiram diretamente uma parcela considerável da população – o que, consequentemente, afeta a já fraca economia grega.

Parlamento Grego - dificilmente haverá uma maioria clara após as eleições

A Itália, outro foco de grande preocupação em meio à crise, instalou um governo provisório, repleto de tecnocratas, com a função primordial de implementar medidas de austeridade para colocar as contas do país em ordem e, somente em 2013, realizar novas eleições – o que mitiga o risco político agora latente na Grécia.

Ao que tudo indica, novos solavancos virão da Europa nos próximos meses. A possibilidade de uma saída da Grécia da zona do Euro, num cenário pessimista, não está descartada.

A Insight Geropolítico continuará monitorando os desdobramentos da crise na Grécia e os riscos políticos inerentes aos possíveis cenários.

 

ETS, que visa reduzir emissões de carbono de aviões, pode causar problemas econômicos

“O que surgiu como uma solução para o meio-ambiente se tornou fonte para uma possível batalha comercial” disse Thomas Enders, alto executivo da Airbus.

O Regime de Comércio de Emissões da UE (Emissions Trading System) de CO2, que entrou em vigor em Janeiro de 2012, tem por princípio a disponibilização de créditos para emissões do gás para as companhias aéreas – européias ou não – operando no espaço aéreo europeu. Cada companhia tem direito a um volume X de emissões, de acordo com o número de vôos operados na Europa. A própria companhia é responsável pelo monitoramento deste processo e, ao final de cada período, ela deve entregar um relatório às autoridades responsáveis. Caso ela tenha utilizado uma quantidade de créditos abaixo da média calculada, ela poderá comercializar os mesmos para outras companhias que necessitem. Caso tenha ultrapassado o limite, pagará multas progressivas., o que fatalmente encarece a operação.

O projeto, fortemente apoiado pelo Partidos Verdes Europeu, tem como premissa não só o cuidado com o meio-ambiente, mas servir de base para um projeto de mesma espécie em escala global. O resultado, porém, pode ser bem diferente. A Europa, ainda em profunda crise econômica, pode entrar numa guerra comercial que não tem condições de vencer. Hoje, uma negociação entre Airbus e os chineses, envolvendo 45 aeronaves e receitas ao redor de USD 12 bilhões, está congelada. Autoridades de Nova Delhi também já deixaram claro que não vão aceitar as novas regras e ameaçam proibir companhias indianas de cooperarem com o sistema e disponibilizarem seus níveis de emissões – dado que 73% do mercado de aviação comercial da Índia é ocupado por empresas européias, não se trata de uma ameaça qualquer.

Airbus da Air China - negociação de 45 novas aeronaves está congelada

O que fica claro é os gigantes China e Índia não estão dispostos a abrir mão de ganhos econômicos, e sacrificar um setor forte de suas economias, em prol de políticas ambientais. O interessante é que uma parte dos próprios europeus também não está satisfeita. Um grupo de empresas aéreas, liderado pela Airbus, já se organizou para cobrar um relaxamento das autoridades européias quanto às regras do sistema de emissões.

A disputa entre os partidos verdes, que ganham cada vez mais espaço na cena política européia e fazem grande pressão por políticas ambientais rígidas, e o empresariado europeu tende a se intensificar. Em meio a uma Europa passando por momentos difíceis do ponto de vista econômico, não será surpresa observar movimentos políticos fortes contra possíveis decisões politicamente incorretas das autoridades européias, já que no curto prazo, as contas vão pesar mais que a natureza.

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