Chegou-se ao esperado: um acordo interino sobre o programa nuclear do Irã. Já tínhamos muitos indícios que isso aconteceria. A eleição do suposto moderado Hassam Houhani, a condução da política externa de Obama e o impacto das sanções favoreciam o cenário para um acordo.

Os holofotes estão focados no acordo em si, quando o mais importante parece estar sendo deixado de lado. O ponto relevante não é a assinatura de um acordo, mas o tipo de acordo que foi assinado e seu significado para a questão em pauta — o programa nuclear iraniano.

Hoje a maior ameaça para a segurança internacional é o programa nuclear iraniano. Por que? Existem os motivos internos e externos. Do lado interno, o regime iraniano é um dos maiores violadores dos direitos humanos no mundo; financia, treina e arma dois dos mais ativos grupos terroristas (Hamas e Hezbollah); tem um projeto hegemônico na região; mantém o regime Sírio vivo; e ameaça riscar do mapa um dos seus rivais: Israel. Do ponto de vista externo, um Irã atômico desestruturaria o Tratado de Não Proliferação Nuclear (tratado que cuida das questões relacionadas a armas e energia atômica). O regime de proliferação nuclear seria abalado pois desencadearia uma corrida nuclear. Isso aconteceria justamente na região mais instável do planeta. Imaginem o Oriente Médio repleto de países nucleares? Arábia Saudita, Egito e Turquia iriam desenvolver sua bomba atômica. Se esses novos países entrassem para o clube nuclear, o que impediria outros países de buscar a arma mais poderosa de todas? Imaginem o mundo com 30 ou 40 países em posse de bombas atômicas!

O pior de todos os cenários seria a soma dos desafios internos e externos. Me refiro a proliferação nuclear para um grupo terrorista. O mundo entraria em choque, e simplesmente tudo mudaria caso tivéssemos um 11 de setembro nuclear. Todas as grandes capitais do mundo entrariam em estado de emergência com medo de serem alvos de um ataque terrorista nuclear. O número de mortos seria muito superior a grandes conflitos históricos. O pânico seria total. Viagens e comércio internacional seriam muito abalados. As bolsas de valores do mundo derreteriam. O tamanho do estrago moral e material é imensurável e indescritível.

A descrição do pior cenário é necessária para contextualizarmos o porque está se debatendo um acordo com o Irã. O acordo não é para restabelecer relações diplomáticas do país com o Ocidente, principalmente os EUA. Claro que isso pode ser uma conseqüência futura, mas o foco dessa discussão é, ou deveria ser, o programa nuclear. Dessa forma, a conclusão obvia é de que um acordo só faz sentido se tratar do problema central: impedir as ambições nucleares do Irã.

O acordo assinado ontem tem uma serie de problemas. Segue a lista abaixo:

I. Inspeções não garantem confiabilidade

O acordo assinado permite inspetores visitar instalações, mas isso não tem muito significado devido ao histórico do país em dificultar as inspeções e enganar inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Por exemplo, desde o relatório da AIEA de 2011, a instalação de Parchin – um complexo de testes de explosivos e parte do programa militar nuclear do Irã – tem negado acesso aos inspetores da Agência Atômica. Pior do que isso, o Irã iniciou reformas no local que estão sendo documentadas por fotos de satélite. Todo o solo da base militar está sendo asfaltado. Normalmente inspetores precisam coletar amostras do solo para localizar rastros de material radioativo. Uma vez terminada a reforma, ficará impossível uma analise confiável. Para piorar, Parchin não está na lista de locais que inspetores terão acesso de acordo com o ultimo termo entre a Agência e o Irã. Como signatário do Tratado, o Irã já deveria permitir acesso irrestrito aos inspetores. Ou seja, essa concessão não pode ser vista nem como uma concessão, mas como uma falha na sua obrigação.

II. Acordos Interinos e seus problemas

Esse acordo não é um acordo final, mas apenas um aperitivo para preparar o terreno para as conversas futuras que virão. O problema é que o aperitivo foi muito farto para com o Irã e vai balizar as discussões dentro de uma perspectiva aonde o país precisa oferecer pouco e merece receber muito. O acordo atual não coloca um freio nos aspectos mais problemáticos do programa nuclear iraniano, particularmente limitando o numero de centrifugas e garantias solidas que o país não poderá converter seu urânio enriquecido em material para uma bomba.

Os obstáculos para serem superados são enormes, e os opositores internos dentro dos EUA e do Irã precisam estar convencidos que o acordo final representa seus maiores interesses. O Congresso americano só vai concordar em suspender todas as sanções caso existam propostas objetivas de destruição do programa nuclear e ao mesmo tempo mecanismos eficazes de verificação. Nada disso existe hoje, e nem foi colocado na mesa. Um acordo satisfatório para todos os stakeholders envolvidos tem uma cara muito diferente do acordo interino assinado ontem. Em outras palavras, será que Washington e Teerã são capazes de concordar com um acordo aonde o Irã abdica por completo do seu programa nuclear e os EUA suspende todas as sanções?

III. Legitimar um estado violador

O acordo atual manda um sinal muito ruim para o mundo e outros países que buscam construir suas bombas atômicas. O acordo retira o status de violador do Irã e passa a tratá-lo como um país que nunca descumpriu suas obrigações. A legitimidade das 6 resoluções do Conselho de Segurança da ONU, demandando que o Irã encerre o enriquecimento de urânio por não cumprimento do Tratado de Não Proliferação, jamais será restabelecida. Permitir que o Irã continue seu programa de enriquecimento, mesmo que seja até 5%, demonstra um retrocesso em termos das resoluções passadas do Conselho. O Irã sempre quis ter o direito de manter seu programa de enriquecimento e a comunidade internacional sempre se posicionou unanimemente contraria sabendo dos riscos dessa capacidade. Não existe bomba atômica sem capacidade de enriquecer urânio. O acordo interino recompensa o Irã pelo seu passado de violações e afrouxa os requisitos mínimos de garantia que possam impedir o país de construir sua bomba.

IV. Líbia ou Coreia do Norte

Presidentes em segundo mandato tentam melhorar seu legado. Obama passou os últimos anos dizendo que não deixaria o Irã adquirir a bomba atômica sob sua liderança. Reparem que ele está mais preocupado em garantir que isso não aconteça durante o seu mandato e não necessariamente em resolver o problema. Obama está tentando minimizar os seus riscos, jogando o problema o mais para frente possível com o mínimo de esforço e custo no presente. Clinton tentou sem sucesso em seu segundo mandato um acordo de Camp David II para acabar com o conflito Israelense e Palestino. Bush tentou um acordo final com a Coreia do Norte. Seu governo retirou a Coreia da lista de patrocinadores do terrorismo e suspendeu algumas sanções. Em resposta, os norte coreanos redobraram seu programa nuclear e balístico. O acordo atual remete mais ao cenário da Coreia do Norte do que ao acordo assinado com a Líbia para desmantelar seu programa nuclear.

V. Assimetria de trocas

Até hoje o Irã não aceitou nenhuma das propostas de acordo. O que fez o país mudar de ideia? As sanções finalmente começaram a ter efeito e estão abalando a sua econômica. Só tem uma coisa que o regime em Teerã valoriza mais do que armas nucleares: sua sobrevivência. Na verdade a maior utilidade de possuir tais armas é garantir sua sobrevivência. As sanções estão criando mais instabilidade e colocando em risco a sobrevivência do regime. Dentro desse contexto de máxima vantagem para o Ocidente que se deu inicio as negociações em Geneva. Estranhamente no momento de maior vantagem, os EUA decidiram fazer as maiores concessões, justamente quando quem estava pronto para ceder mais era o Irã. O Ocidente ofereceu suspender algumas sanções em troca de mudanças cosméticas que não alteram em nada a infra-estrutura nuclear do Irã. O próprio EUA aliviaram suas demandas ao permitir que o Irã continuasse enriquecer urânio. Durante o primeiro mandato, o próprio governo Obama ofereceu um acordo aonde o Irã deveria importar urânio enriquecido ao invés de enriquece-lo. Essa assimetria vai produzir paradigmas perigosos para qualquer acordo definitivo além de ser leniente com o programa nuclear e não endereçar o problema central que seria impedir o Irã de desenvolver uma bomba atômica.

VI. Mudanças não acontecem tão rapidamente

O regime iraniano não deixou de ser o regime iraniano e nem tem porque deixar de ser. Negar o Holocausto, ameaçar riscar Israel do mapa, financiar terrorismo e muitos outros são algumas das políticas que continuam fazendo parte do cardápio iraniano. Eu já escrevi em outro post como o programa nuclear iraniano é em parte tão grave e problemático devido ao seu comportamento e suas políticas. Caso o governo do Irã não fosse quem é, os riscos em jogo seriam menores para todos. A retórica extremista só aumenta a tensão e mostra a essência do regime dos clérigos. O regime não mudou e não deve mudar. O ex-presidente Ahmadinejad não era o único extremista, e o atual presidente, Rouhani, só parece moderado quando comparado com seu antecessor. O líder supremo fez um pronunciamento semana passada descrevendo Israel como um “cachorro fanático” e demostrando que a ideologia extremista continua sendo o pilar do regime. Rouhani quando perguntado sobre o Holocausto respondeu que não era um historiador para confirmar sua veracidade.

O Irã não deve deixar de financiar e promover o terrorismo na região. Muito menos apoiar o regime de Assad. É difícil confiar em uma mudança na área nuclear sabendo que o governo segue o seu mesmo padrão em todas as outras áreas.

Em suma, o dilema do programa nuclear iraniano está longe de ser resolvido e o seu problema central não parece ter sido resolvido pelo acordo de ontem. Vamos acompanhar as cenas dos próximos capítulos.

 

 Artigo original: http://exame.abril.com.br/rede-de-blogs/risco-politico-global/2013/11/25/o-significado-do-acordo-nuclear-com-o-ira/

Menachem Begin conversa com líder da operação que destruiu o programa nuclear iraquiano

O ano é 1981. Em 7 de Junho daquele ano, ainda durante a madrugada, um grupo de quatorze aeronaves da Força Aérea Israelense efetuou um ataque surpresa ao reator nuclear Osirak, instalado na cidade de Al-Tuweitha, nas proximidades de Bagdá.

À época, o programa nuclear iraquiano se desenvolvia rapidamente. Embora Saddam Hussein estivesse focado em sua batalha contra o recém-instalado regime revolucionário do Aiatolá Ruhollah Khomeini, Menachem Begin via uma bomba atômica iraquiana como uma ameaça direta ao Estado judeu. Desde 1948, Israel e Iraque viviam um relacionamento marcado pela constante tensão, visto que Bagdá se recusou a assinar o armistício que encerrou a Guerra de Independência daquele ano.

Desde o início das discussões sobre o bombardeio, ambos os chefes da AMAN (braço de inteligência militar de Israel) e do MOSSAD (serviço secreto de Israel), opuseram-se ao plano. Seus argumentos eram: (i) ainda levaria anos para que o programa iraquiano tivesse êxito em desenvolver o artefato nuclear; (ii) o bombardeio não destruiria o programa por completo; (iii) uma ação deste gênero poderia causar uma escalada militar na região; (iv) comprometer o acordo de paz entre israelenses e egípcios, de 1979 e (v) estremecer as relações entre Israel e EUA.

Begin e seus aliados próximos forçaram a ideia e o bombardeio obteve sucesso. As baixas foram mínimas e o programa nuclear de Saddam Hussein foi neutralizado.

Do ponto de vista de Israel, apesar das variáveis envolvidas num possível ataque às instalações iranianas serem mais complexas, a percepção sobre as consequências da operação em 1981 é muito similar aos desdobramentos de um ataque hoje. Logo, é compreensível que o establishment político de Israel se baseie no sucesso passado, dadas as similaridades entre Iraque (1981) e Irã (2012).

Ahmadinejad vistoria as instalações nucleares de Bushehr

Em 1981, havia argumentos de que um ataque não seria capaz de destruir completamente o programa, quanto muito atrasá-lo. Hoje, o debate é o mesmo, e baseando-se no que Israel viu acontecer com o Iraque, tal argumento perde consistência. A experiência mostrou aos israelenses que embasar a decisão de um ataque aéreo em sua efetividade de destruição é irrelevante, visto que o Iraque não foi capaz de retomar seu programa nuclear e o desenrolar da história acabou levando a uma mudança de regime.

Não é possível saber quando e como um ataque israelense tomaria corpo contra as instalações iranianas, mas o fato é que a história recente nos oferece um case empírico de sucesso envolvendo uma situação muito similar.

Potências ocidentais, representadas hoje pelo Grupo 5+1 – os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU e a Alemanha – concordaram em retomar as conversas com o Irã, na tentativa de chegar à uma solução diplomática para a crise que envolve o programa nuclear daquele país. Oficiais israelenses, como esperado, demonstraram ceticismo quanto à oferta iraniana feita através de Saeed Jalili, negociador oficial.

Saeed Jalili, negociador iraniano

A notícia vem em meio à recente vitória esmagadora do grupo do Aiatolá Ali Khamenei nas eleições parlamentares, enfraquecendo o presidente Mahmoud Ahmadinejad e, também, da visita do Primeiro Ministro Benjamin Netanyahu à Washington, durante a qual o Presidente Barack Obama reafirmou o alinhamento entre os dois Estados, o comprometimendo dos EUA com a defesa do Estado judeu mas, também, pediu tempo para que uma solução diplomática seja alcançada.

O Diretor-Geral da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), Yukiya Amano, afirmou que todas as instalações sob obervação da agência têm fins pacíficos. Porém, ele também afirma que há suspeitas de que outras instalações, não-declaradas, estejam direcionadas para fins militares. “O Irã não está nos falando tudo. Essa é a minha impressão” afirmou.

O Presidente Obama e o Primeiro Ministro Netanyahu

As palavras de Obama, pedindo por mais tempo para a diplomacia, foram elogiadas pelo líder supremo do Irã. O mesmo, fortificado após os resultados da última eleição, pode estar ganhando mais tempo, já que o discurso pró-ataque israelense tem se intensificado. Na terça-feira (6), foi anunciado que Netanyahu pediu para o Secretário da Defesa, Leon Panetta, aprovar a venda de bombas anti-bunker para as Forças de Defesa de Israel. Tais artefatos seriam cruciais para aumentar as chances de sucesso de um ataque israelense às instalações iranianas.

Aiatolá Ali Khamenei

A população do Irã vive o medo de um possível confronto militar com o Ocidente. Khamenei, por outro lado, vê nesta guerra fria a possibilidade de o regime revolucionário demonstrar força. O Aiatolá vê os EUA como uma potência em declínio, principalmente regional – e a aquisição do artefato nuclear daria ao Irã o instrumentário necessário para consolidar seu projeto de supremacia regional – algo impensável para Israel e, principalmente, para os Sauditas, que observam atentos o desenrolar desta crise. Logo, é prematuro dizer que a oferta de negociação represente, de fato, um arrefecimento por parte de Teerã.

Há diversas opiniões sobre a legalidade do bloqueio à Faixa de Gaza imposto por Israel. Segundo a “Declaração de Leis de Guerras Navais”, de 1909, partes em estado de guerra têm o direito de impor um bloqueio naval ao inimigo. Da mesma maneira, o Manual de San Remo (1994), que regula conflitos armados no mar, legitima o uso do bloqueio como arma de guerra. No entanto, algumas interpretações defendem que estas leis só se aplicam no caso de um “conflito armado internacional” – e que o fato de Gaza não ser um Estado desqualifica o caso diante dos tratados acima. É evidente que este é um debate jurídico banhado por motivações políticas, em que cada um dos lados busca uma visão das leis que justifique seus atos.

De todo modo, há argumentos razoáveis para justificar o bloqueio. O Hamas, cujo regime comanda o território, é uma entidade política que prega a destruição do Estado de Israel. O Hamas jamais poupou esforços para agir de forma violenta contra os cidadãos israelenses, seja com homens-bomba em ônibus e cafés ou com mísseis caseiros. Existe, desse modo, uma boa dose de validade para o argumento de legítima-defesa. Impedir que armas sejam contrabandeadas para a Gaza com o objetivo de atacar civis israelenses é obrigação de qualquer governo de Israel.

Este brinquedo de um parque em Sderot, Israel, foi contruído de forma reforçada para abrigar as crianças em casos de ataques de mísseis lançados pelo Hamas da vizinha Faixa de Gaza

Do ponto de vista político, o debate deve ser sobre a utilidade do bloqueio. Ele foi implementado em 2007, um ano depois de o Hamas vencer as eleições legislativas em todo o território palestino, incluindo a Cisjordânia. Na ocasião, homens armados do grupo islâmico tomaram o poder à força, excluindo fisicamente a presença dos rivais palestinos do secular partido Fatah.

Já se vão mais de quatro anos. No período, o lançamento de foguetes contra comunidades no sul de Israel cresceu muito. Algumas cidades, como Sderot, a poucos quilômetros da Faixa de Gaza, têm abrigos anti-bomba em parques para crianças e pontos de ônibus.  Centenas de milhares de israelenses vivem há anos à espera do alerta vermelho, o aviso de que um míssil está a quinze segundos de atingir o alvo.

A situação na Faixa de Gaza também não é boa. (Ainda assim, é bem melhor do que os relatórios de grupos supostamente humanistas que a chamam de campo de extermínio a céu aberto.) Organizações humanitárias levam comida, roupas e remédios para a população. Não falta o básico em Gaza. Mas a economia do território foi destruída pelos anos de bloqueio, principalmente após a guerra que Israel travou contra o Hamas no inverno de 2009 e que deixou mais de mil palestinos mortos. Os destroços deixados pelos bombardeios israelenses não puderam ser reconstruídos porque materiais de construção estão proibidos pelo bloqueio de Israel. O desemprego em Gaza é imenso, o que é especialmente perigoso em um pequeno lugar aonde vivem um milhão de pessoas, boa parte com menos de dezoito anos. (Gaza tem a população mais jovem do planeta.)

Israel diz que usa o bloqueio a Gaza como forma de se defender e de exercer pressão sobre o Hamas. A pergunta que se faz é qual o objetivo desta pressão. Os israelenses não têm interesse no fim do regime islâmico em Gaza. O poder jamais seria devolvido para a Fatah, partido que controla a Autoridade Palestina (AP), entidade reconhecida pelo comunidade internacional e com quem Israel oficialmente aceita negociar. A estrutura e a presença da AP foram completamente apagadas de Gaza no golpe do 2007. Quem ameaça o regime do Hamas, atualmente, são grupos islâmicos radicais, para quem o Hamas é  excessivamente conciliador com Israel.

O bloqueio a Gaza impede que o território seja reconstruído após a Guerra entre Hamas e Israel em 2009. Segundo agências da ONU, o desemprego no território é o mais alto do mundo e passa de 45% da população economicamente ativa.

A única lógica é que o boqueio seja uma forma de pressionar o Hamas a abandonar, ou ao menos suavizar, sua belicosidade. É um moeda de troca. Israel só permitiria que a economia de Gaza voltasse a funcionar, o que beneficiaria o regime, se o Hamas parasse de atirar sobre a cabeça dos israelenses.

Mas, para isso acontecer, é preciso que Israel e Hamas negociem. O acordo que recentemente libertou o soldado Gilad Shalit, depois de mais de cinco anos de cativeiro em Gaza, em troca de mais de mil prisioneiros palestinos, é apenas mais um entre os indícios de que pode haver diálogo entre as partes. Há espaço para negociações baseadas em interesses comuns. O Hamas quer, acima de tudo, manter o poder em Gaza. E, com a economia em frangalhos, a combinação de insatisfação popular com uma onda de protestos e revoltas pelo mundo árabe pode ser fatal. Para Israel, o objetivo final é manter a segurança dos cidadãos que vivem no sul do país. Para atingir esse objetivo, é preciso apaziguar o Hamas e também impedir que grupos ainda mais radicais ganhem força em Gaza.

É verdade que não há confiança entre as partes, inimigos mortais. Mas pode-se chegar a um entendimento se houver confiança no processo de negociação. Líderes árabes costumam a voltar de Israel com bons acordos. Anwar Sadat fez a paz com o Estado judeu, garantiu mais de trinta anos de paz para o Egito, recuperou os territórios ocupados na Guerra de 1967 e ainda firmou uma parceria duradoura com os Estados Unidos, ficando atrás apenas de Israel quando se trata de ajuda externa americana. O Rei Hussein, da Jordânia, recebeu tecnologia israelense para irrigação, fundamental em seu país quase todo desértico. Yasser Arafat, pai da causa palestina que usou e abusou do terrorismo, passou a levar vida de estadista respeitado no mundo todo ao longo década de noventa, anos em que ainda se acreditava no Processo de Paz de Oslo.

O Hamas vem dando alguns sinais de que quer passar para o campo dos moderados. A coalizão que sempre o uniu aos inimigos de Israel e de Ocidente – Irã, Síria e Hezbollah – pode sofrer sérios danos se e o regime do sírio Bashar al-Assad cair diante da crescente violência no país. A liderança do grupo palestino, que atualmente vive em Damasco, visitou recentemente Amman e Cairo em busca de um novo lar – e de um aliado que possa lhe garantir a sobrevivência em tempos difíceis como os de hoje. Tanto Egito quanto Jordânia mantêm relações com os israelenses e são amigos do Ocidente. Pesam também declarações de líderes do Hamas de que estariam dispostos a assinar um “cessar-fogo de longo prazo” com Israel.

Para que fosse garantida a segurança exigida por Israel no caso do fim do bloqueio, seria necessário que as mercadorias a desembarcar em Gaza fossem inspecionadas para que se certifique de que não se trata de armas. O Egito seria um candidato natural a realizar essa função, mas a fronteira entre Gaza e a Península do Sinai já é suficientemente porosa para que os egípcios tenham a confiança dos israelenses para desempenhar esse papel. Forças ocidentais seriam vistas pelos palestinos como imperialistas a serviços do sionismo. O que chegaria mais perto do aceitável seria uma combinação de alguns países europeus com algum país árabe, possivelmente o Qatar, que já abrigou até um escritório de representação comercial israelense e anda interessado em operações para projetar influência sobre o mundo árabe. (Doha opera sob o olhar atencioso da vizinha Arábia Saudita, cujo objetivo é combater a presença do Irã na região e para isso conta com seus parceiros do Golfo Pérsico.)

O desafio maior seria fazer o Hamas se reinventar, deixando pra trás a violência que marcou sua visão de resistência, para acatar os requisitos que o fariam um agente civilizado e legítimo para participar do diálogo político. Do outro lado, seria preciso convencer Israel a abandonar uma de suas doutrinas básicas, a que prega que a segurança do país deve ser sempre feita pelos próprios israelenses, jamais por terceiros. Desenhar um processo de negociação que permita às partes uma transformação profunda de suas posições é uma missão complexa. Exige tempo, paciência e trabalho. Mas, para que aconteça, é preciso, a cima de tudo, que Israel e Hamas negociem. Eles não precisam nem concordar nem se gostar, mas é interesse de ambos que comecem a conversar.

O crescimento econômico da última década e importantes transformações regionais mudaram a maneira de a Turquia conduzir sua política externa. O discurso habitual aponta os turcos virando-se contra o Ocidente para se voltar em direção ao Oriente, em particular ao Mundo Árabe. Nada mais falso. Uma análise detalhada dos interesses geopolíticos de Ankara mostra uma Turquia atrás de um papel bem mais complexo e relevante no cenário internacional.

A Turquia está localizada em uma importante passagem entre o Mar Negro e o Mar Mediterrâneo

Historicamente, a Turquia sempre buscou ser uma ponte entre o Ocidente e o Oriente. Isso se dá por sua localização geográfica, ocupando os dois lados do Estreito de Bósforo e servindo de ligação entre o Mar Negro e o Mar Mediterrâneo. Entre os imperativos geopolíticos dos turcos, além proteger a região do Mar de Mármara de invasões externas, está a necessidade de se expandir para buscar seus interesses econômicos. Durante o tempo do Império Otomano (1299 – 1923), a principal ambição turca foi a Bacia do Rio Danúbio. Além de ser estratégico do ponto de vista de segurança, o rio é o maior da região, oferece terras férteis em suas margens e é navegável até o sul da Alemanha, unindo-a aos ricos mercados europeus. Em seu auge, o Império compreendeu também a região dos Balcãs, do Levante, além de partes do Norte da África e do Cáucaso.

 

 

A Bacia do Rio Danúbio foi uma das mais importantes regiões conquistadas pelo Império Otomano

No entanto, com a derrota na Primeira Guerra Mundial, o Império Otomano foi desmontado e sobrou à Turquia apenas o Estreito de Bósforo e a Península da Anatólia, uma região montanhosa, seca, sem rios importantes e de baixa capacidade de geração de capital, diminuindo imensamente o poder político e econômico do país. Para garantir  sua sobrevivência, fundou-se um Estado secular (a maioria da população é muçulmana sunita) e governado, basicamente, pelos militares. Externamente, a Turquia optou por manter uma posição de isolamento, baseada em uma política de não se envolver em conflitos com seus vizinhos. No entanto, na segunda metade do século XX, à época da Guerra Fria, restou aos turcos a necessidade de se aliar com o Ocidente por conta do temor de uma invasão soviética. Com as tropas de Moscou estacionadas à sua fronteira nordeste, na região do Cáucaso, e com a coordenação próxima dos russos com países árabes vizinhos, como Iraque e Síria, os turcos se aproximaram de Washington e firmaram uma duradoura parceria com Israel, uma vez que o Estado judeu era o principal aliado dos americanos na região e lutava contra os mesmos Estados árabes que carregavam uma ameaça a Ankara. Em 1952, a Turquia juntou-se à aliança militar do Ocidente, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).

Expansão máxima do Império Otomano

Esta situação começou a mudar no início dos anos 90 do século passado. Com o colapso da União Soviética, as preocupações com segurança se modificaram. Sem a influência de Moscou, a vizinhança turca passou a ser marcada por conflitos étnicos, como nos Balcãs, e pela participação de outras potências, como no Iraque, aonde os Estados Unidos lançaram a operação Tempestade no Deserto em 1991. A Turquia deixou de estar em uma região marcada por Estados desimportantes que obedeciam às ordens dos russos para estar uma vizinhança em que potências importantes disputavam por influência, o que naturalmente fez Ankara considerar com mais atenção sua política externa.

Já no início do século XXI, a Turquia sofreu outro processo transformador. Assim como outros países emergente ao redor do mundo, como Índia, China e Brasil, a Turquia viveu uma década de importante crescimento econômico. Estes fatos motivaram os turcos a questionarem sua política externa. Internamente, o enriquecimento do país garantiu ao Primeiro-Ministro Recep Tayyip Erdogan, do Partido da Justiça e do Desenvolvimento, o islâmico AKP, a posição de figura política turca mais importante desde Kemal Atartuk, fundador do Estado moderno e secular. Nos últimos anos, Erdogan vem sendo o primeiro líder turco a desafiar a hegemonia dos militares na condução do país.

Dentre as possibilidades de expansão da influência turca, poucas são realmente factíveis. Os Balcãs, que separam a Turquia da Bacia do Rio Danúbio, é um região tomada por etnias rivais em constantes confrontos, o que por si só já dificultaria qualquer tentativa de se projetar nesta direção. Além do mais, são todos países membros – ou candidatos a membros – de instituições como a OTAN ou a União Europeia e não faz parte da estratégia turca entrar em conflito com seus parceiros ocidentais. O Cáucaso, por sua vez, também é palco de rivalidades regionais e é disputado por russos e iranianos. De qualquer modo, sua posição geográfica não oferece importantes ganhos econômicos.

Resta, ao sul, a região do Levante, compreendida por Líbano, Síria, Jordânia, Israel e Palestina. Apesar de também tumultuada politicamente e de não oferecer grandes oportunidades econômicas, a geografia local e a predominância da religião muçulmana facilitam a penetração turca. Em resumo, esta é única direção para qual os turcos podem se expandir, buscando quebrar com décadas de isolamento. Daí a recente guinada de Ankara na direção do Mundo Árabe. O esfriamento da relação com Israel, além de ser resultado do fim do contexto que unia os dois países nos tempos da Guerra Fria, tem como objetivo fortalecer a imagem da Turquia diante das populações dos países árabes. Ainda neste sentido, a chamada Primavera Árabe – protestos que se espalharam por alguns países desde o fim de 2010 – oferece grande oportunidade para Ankara ampliar sua influência sobre a região. O modelo político turco, que mistura democracia com valores islâmicos, vem sendo apontado como exemplo para países árabes em um futuro sem governos autoritários. Recentemente, o Primeiro-Ministro Erdogan visitou os três países cujos ditadores foram removidos – Tunísia, Egito e Líbia – com direito a recepções bastante calorosas nas ruas.

Recep Tayyip Erdogan, do partido islâmico AKP, é o mais importante líder recente da Turquia

Não faltam desafios para os turcos na região e o principal deles é a Síria, com quem dividem uma importante fronteira. Neste país, os protestos populares guardam um alto poder de empurrar os sírios para um sangrento conflito sectário como o que castigou o Líbano por toda a década de 1980. As consequências para Ankara seriam uma onda de refugiados em seu território e um possível endurecimento dos separatistas curdos, que lutam por independência do chamado Curdistão – que além da Turquia, envolve partes da Síria, do Iraque e do Irã. Uma guerra civil na Síria poderia facilitar o acesso do PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão) a armas. Apenas nos últimos dias, quase 30 soldados turcos foram mortos em ataques do PKK, que é considerado como grupo terrorista por Ankara, Washington e Bruxelas.

Ainda assim, Ankara tem dado claros sinais de rompimento com o regime do ditador sírio Bashar al-Assad desde que ele passou a reprimir a oposição com violência. Apesar de ter receios em relação à queda do ditador, a Turquia vê com bons olhos a substituição do atual regime alauíta por um sunita, que seria mais suscetível à sua influência. Porém, Ankara não deve interferir de forma muito assertiva no conflito do vizinho em um futuro próximo. Há dois riscos envolvidos. Engajar-se ativamente pelo fim do regime de Assad colocaria o governo turco em rota de colisão com o Irã, já que Assad é visto como um aliado estratégico de Teerã. Do mesmo modo, a Turquia se veria envolvida em uma disputa com a Arábia Saudita por quem teria maior liderança sobre a oposição síria, majoritariamente sunita assim com turcos e sauditas. Não é pouca coisa para um país que prega uma política de não entrar em confronto com vizinhos há nove décadas.

Nada disso significa voltar-se contra o Ocidente. A Turquia quer ser vista como um parceiro confiável do Ocidente e com influência no Oriente Médio. Ao mesmo tempo em que expulsou o embaixador israelenses de seu país, o governo turco reforçou seus compromissos com Washington e com a OTAN, concordando com a instalação de um sistema de radares americanos em seu território. Em relação à União Europeia, apesar do impasse nas negociações para que a Turquia seja incorporada ao bloco, ainda são próximas as relações. Cerca de 75% dos investimentos externos feitos na Turquia vêm da UE, além de serem os europeus responsáveis por metade das exportações turcas.

A Turquia é uma nação emergente que ainda não é vista como uma peça de primeira grandeza nas relações internacionais, apesar de sua importância ser crescente. A projeção sobre o Mundo Árabe não tem o potencial de transformar Ankara em líder global, podendo no máximo alcançar o papel de uma potência regional. De todo modo, ainda não há na Turquia, nem entre os seculares nem entre os religiosos, uma visão clara e determinada sobre os caminhos da política externa nem muito menos uma estratégia para alcançar seus objetivos no longo prazo.

No último dia 11 de outubro, Hamas e Israel anunciaram que chegaram, com mediação do Egito, a um acordo para libertar o soldado israelense Gilad Shalit, mantido em cativeiro na Faixa de Gaza há mais de cinco anos. Em troca, Israel deve soltar mais de mil prisioneiros palestinos que cumprem pena no país. O fato de as partes terem alcançado um entendimento – após um longo período de intensas negociações e acusações mútuas – diz bastante sobre as recentes mudanças geopolíticas no Oriente Médio.

O soldado israelense Gilad Shalit em vídeo divulgado pelo Hamas em setembro de 2009

Desde o ano 2000, quando uma onda de violência tomou conta de Israel e dos Territórios Palestinos, o Hamas ganhou enorme peso político, desafiando décadas de hegemonia do Fatah, o grupo liderado historicamente por Yasser Arafat. Através de atentados terroristas que mataram cerca de mil civis israelenses, o Hamas trouxe para a agenda da causa palestina o fundamentalismo islâmico (o Fatah sempre foi secular e se apóia no nacionalismo árabe) e o uso de homens-bomba como armas de resistência.

Principalmente após 2007, quando, por meio de um violento golpe de Estado, o Hamas varreu o Fatah da Faixa de Gaza e tomou conta do território (desocupado por Israel em 2005), o grupo islâmico palestino passou a receber consistente apoio do Irã. Há diversas razões para essa aliança. Com o Iraque e o Afeganistão, em suas fronteiras orientais e ocidentais, ocupados por tropas americanas, Teerã subiu seu tom contra os Estados Unidos e Israel e acelerou seu programa nuclear, considerado por seus inimigos como tendo fins militares. No conflito árabe-israelense, os iranianos dão suporte à milícia libanesa Hezbollah e ao Hamas em Gaza, ambos armados por Teerã contra Israel.

A partir do Líbano com o Hezbollah e da Faixa de Gaza com o Hamas, o Irã manteve quente a situação no norte e no sul de Israel

Parte fundamental da aliança entre o Irã e seus afiliados é o regime de Bashar al-Assad, na Síria. Para que as armas iranianas cheguem ao Hezbollah, é preciso que passem pelo território sírio (no verão de 2006, a milícia libanesa infringiu importantes perdas a Israel em uma guerra de mais de um mês). Quanto ao Hamas, a sede do grupo fica em Damasco, aonde vive seu principal líder, Khaled Mashaal, sob a proteção de Assad.

O acordo que libertará Gilad Shalit de seu cativeiro em Gaza dá claro sinais de que o Hamas está se distanciando do campo liderado por Teerã. E este fato não pode ser visto como uma surpresa. Enquanto os líderes iranianos, sírios e os libaneses do Hezbollah são muçulmanos xiitas (Assad é alauíta, uma corrente do islamismo xiita), os palestinos do Hamas são sunitas. Como é enorme e crescente a rivalidade entre as duas vertentes religiosas, é natural que o Hamas se sinta desconfortável em fazer parte desta aliança. Além do mais, desde que Assad começou a enfrentar fortes protestos internos, a percepção de sírios e iranianos é a de que o Hamas não está se esforçando o suficiente para apoiar o regime de Damasco. Este estranhamento colaborou ainda mais para que o centro de poder do Hamas se fixasse em Gaza, território que o grupo de fato administra. Como resultado, o Hamas se tornou mais pragmático, aproximando-se do Egito, seu único vizinho árabe – e sunita. Já se fala, inclusive, que o Cairo deve ser o próximo destino da liderança do Hamas que hoje vive na Síria.

De fato, a coordenação entre Hamas e Egito, inimigos históricos, é um dos pontos mais importantes do acordo para a troca de prisioneiros. O regime de Hosni Mubarak jamais se entendeu com a liderança palestina do Hamas em Gaza. Temendo o fundamentalismo islâmico em seu país, o líder egípcio combatia a Irmandade Muçulmana (grupo que nasceu no Egito na década de 20 e é considerado como patrono do Hamas) e manteve a passagem entre o Egito e Gaza fechada mesmo quando o território foi alvo de pesados ataques militares israelenses em janeiro de 2009.

Esta situação começou a mudar com a queda de Mubarak em fevereiro deste ano. A junta militar que o substituiu no comando do país legalizou a Irmandade Muçulmana como partido político, abriu a passagem de Rafah entre Gaza e o Egito (simbolicamente, já que a fronteira funciona com enormes restrições e em horários limitados) e elevou o tom contra Israel. É evidente que os militares egípcios tomaram essas medidas como forma de jogar para o público em um momento de instabilidade política interna, mas elas foram muito bem recebidas em Gaza.

Da mesma forma, Israel viu nas transformações políticas pelas quais vem passando o Mundo Árabe como um fator de incentivo para fechar o acordo. O próprio primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, declarou temer que, perdida esta oportunidade, a volta de Shalit se tornasse impossível. A percepção de Israel é a de que a chamada Primavera Árabe pode espalhar o fundamentalismo islâmico pela região. Também colaborou o interesse dos israelenses em fortalecer a relação com o Egito. Metade dos presos palestinos serão libertados como “ato de boa vontade” para os mediadores do acordo. Recentemente, atos anti-Israel nas ruas do Cairo e declarações pouco amistosas dos líderes militares egípcios colocaram o acordo de paz entre os dois países em risco pela primeira vez em mais de trinta anos.

A Faixa de Gaza, administrada pelo Hamas, é um pequeno território encravado entre Israel e Egito

A triangulação entre o Egito, Israel e o Hamas é extremamente importante, pois ela pode definir a situação de segurança na região. Desde a queda de Mubarak, grupos islâmicos se aproveitaram do vácuo de poder para usar a península do Sinai, no Egito, para promover ataques a Israel. Estes grupos, provenientes da Faixa de Gaza, não podem operar na região sem a ajuda ou a autorização do Hamas. Até agora, os palestinos vinha mostrando interesse na escalada da violência entre Israel e o Egito por acreditar que ela animaria os sentimentos anti-Israel da população egípcia, o que enfraqueceria a junta militar que controla o país (e que, apesar da retórica, manteve os acordos com os israelenses) e fortaleceria a Irmandade Muçulmana.

É cedo ainda para afirmar que o Hamas está abandonado seus aliados tradicionais e, mais ainda, para esperar que os palestinos deixarão de usar táticas de violência contra Israel. Da mesma forma, é incerto o quanto Cairo conseguirá influenciar o Hamas a ponto de manter a segurança na região. No entanto, com Assad ocupado em reprimir a oposição na Síria e com Teerã a milhares de quilômetros de distância, o Hamas procurará novos aliados com quem compartilhe interesses. E como nada é mais importante para o grupo palestino, neste momento, do que manter o poder na Faixa de Gaza, o Egito se torna um parceiro natural. Este realinhamento de forças deve impactar significativamente o conflito árabe-israelense e, por consequência, toda a política da região.

Não há perigo maior para a economia mundial na atualidade do que a radicalização política nos Estados Unidos. A recente disputa entre a Casa Branca e a oposição Republicana, que controla a Câmara dos Deputados, sobre a elevação do teto da dívida do país, evidenciou o imenso fosso que separa os dois principais partidos políticos americanos. Os lados não são mais capazes de concordar nem sobre o básico, nem sobre o mais essencial para o bom funcionamento do país.

O resultado é que a confiança na economia americana ficou profundamente abalada. Analisando friamente os números, não há nenhum motivo para os investidores temerem pela incapacidade dos Estados Unidos de honrarem com seus compromissos no curto e no médio prazo, apesar do crescente e famigerado déficit. No entanto, para o futuro, há preocupações evidentes. O envelhecimento da população, os crescentes custos de segurança social e outros problemas estruturais podem vir a ser uma carga que nem a potente economia dos Estados Unidos seja capaz de suportar.

É possível que reformas bem realizadas corrijam os caminhos para uma trilha saudável. Mas sem um entendimento sobre o que mudar, não há como implementá-las. As transformações necessárias para evitar o risco de um colapso da economia americana no longo prazo só podem ser realizadas se Democratas e Republicanos chegarem a um mínimo de entendimento para fazer a máquina andar.

O Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, em primeiro plano, e Deputado Eric Cantor, Líder da Maioria Republicana na House of Representatives.

A mesma lógica acontece com a atual e profunda crise econômica por que passam os Estados Unidos. Os remédios oferecidos pelos liberais, que se identificam com o Presidente Barak Obama, são contrários às soluções propostas pelos conservadores, da oposição. Do lado da esquerda, defende-se que não há investimentos porque a falta de trabalho e o estouro da bolha das hipotecas fizeram sumir a demanda. A resposta, então, seria colocar as pessoas para trabalhar, aumentando os gastos do governo, aproveitando para reconstruir a decadente infra-estrutura do país e investindo pesado em programas de educação para gerar mão de obra qualificada. À direita, a ideia é agir com planos de austeridade para reduzir a dívida do país (que hoje é recorde histórico), além de encolher ainda mais o Estado, reduzindo impostos, cortando gastos e diminuindo regulações para que o mercado se sinta livre para investir e gerar os empregos de que o país precisa.

Até aí, nada de novo. De modo geral e com pequenas mudanças, é este o discurso de Democratas e Republicanos há algumas décadas. O que mudou é que os lados estão pouco dispostos a ceder em suas posições. E isto preocupante, especialmente no caso do sistema político americano. Lá, as forças foram distribuídas pelos pais fundadores da nação, os reverenciados founding father, de modo a haver instituições com poderes que se sobrepõem. O objetivo desse desenho (que é bastante diferente de outro modelo, o Parlamentarismo, que é usado em importantes democracias, principalmente na Europa e no Japão) é forçar que haja acordo, evitando que se concentre muito poder em poucas mãos, alcançando o equilíbrio por meio de constante vigilância entre os lados.

O problema é que, quando as partes não conseguem levantar da mesa com um mínimo de entendimento, o sistema deixa de funcionar com eficiência. É o que acontece neste momento. De certa forma, é natural que em momentos de crise haja uma procura maior por respostas simples. E discursos radicais nada mais são do que uma grande simplificação da realidade.

Como acontece sempre que duas ideias se opõem de forma extrema, a melhor alternativa repousa serenamente em algum lugar entre elas. No caso da crise americana, aumentar os gastos do governo para recuperar o nível de emprego e, por consequência, fazer crescer a demanda e o investimento parece fazer bastante sentido. Também são coerentes os argumentos dos Democratas de que é preciso investir em educação, inovação e infra-estrutura para competir com concorrentes que os americanos não tinham no passado, como chineses e indianos. Por outro lado, os problemas a pressionar o futuro requerem uma certa dose da austeridade fiscal defendida pelos Republicanos. Nesse mesmo campo, não há como negar que regulações e impostos, ainda que necessários para evitar novas crises como a que vivemos, sejam um obstáculo para a competitividade da economia.

Há razões para acreditar que os Estados Unidos irão superar seus entraves políticos. Apesar das demonstrações de fraca liderança do Presidente Obama e da criatividade dos conservadores radicais do movimento Tea Party para distorcer a realidade, a democracia americana se mantém robusta e sólida há mais de dois séculos e sobreviveu a situações bem complexas, como a segregação racial que existia em vários Estados do país até a década de 60 do século passado. E não se pode esquecer que a radicalização do debate traz sempre a oportunidade de mais debate, de mais ideias. Ainda que haja muito ruído e retórica, as discussões entre liberais e conservadores é o que, no final das contas, levará ao equilíbrio. Tomara que a campanha presidencial do ano que vem, na qual tanto o Presidente quanto a oposição já estão bastante engajados, traga mais do que acusações levianas e propostas populistas. Para o bem da economia de todo o mundo, é fundamental que os políticos americanos reencontrem o caminho do entendimento e que a poderosa capacidade intelectual dos Estados Unidos encontre um caminho estável e próspero para o país.

Após a queda do regime de coronel Muamar Kadafi na Líbia, as atenções do mundo voltam-se para o ditador da Síria Bashar al-Assad, que há meses vem reprimindo manifestações contra seu regime com violência.

Assad mantém, ainda hoje, a base política que o sustenta. Basicamente,  ela consiste nas minorias cristãs e alauítas (desta última, o próprio ditador é parte), além da elite e da classe média sunitas das cidades de Aleppo e Damasco. Em termos gerais, essas minorias temem que a queda de Assad leve a Síria a um conflito sectário no estilo que tomou conta do Iraque após o fim de regime de Saddam Hussein, o que faria a economia síria entrar em colapso e colocaria as minorias sob risco de perseguição.

No entanto, a continuação dos protestos e da forte repressão do regime pode, por si só, ser um foco irradiador de instabilidade. E a piora no cenário econômico do país por conta de sanções impostas pelos Estados Unidos e pela União Europeia tem como maior vítima a classe média que, insatisfeita, poderia abrir as portas das mais importantes cidades do país para os protestos. Sem o apoio das elites, a missão de Assad de permanecer no poder fica bem mais complicada.

O Presidente da Síria Bashar al-Assad, à direita, e seu irmão Maher, comandante da Guarda Republicana, o mais temido órgão de segurança do país.

A continuação da violência também pode ter um efeito no aparto de segurança do regime. Já há notícias de soldados desconfortáveis em atirar em jovens desarmados desertando e se juntando aos revoltosos. Porém, isso ainda é insuficiente para derrubar Assad. Somente será um sinal de ameaça ao regime se houver deserções no aparato de inteligência militar entre os alauítas de altas patentes. Por enquanto, ainda não é esse o caso.

A minoria alauíta, no poder há décadas, poderia tentar uma medida desesperada para evitar a queda total do regime. Uma possibilidade seria a remoção de Assad como maneira de passar a impressão de que o regime está se reformando. Em outras palavras, dá-se o anel para salvar os dedos – perde-se Assad mas mantém-se a presença dos alauítas no poder, principalmente nas forças de segurança do país. Este caminho teria que ser seguido de medidas para denunciar Assad, chamar eleições e apontar uma nova liderança para a política externa que seja capaz de renegociar as sanções impostas sobre a Síria. O efeito colateral é que a oposição verá no movimento uma demonstração de fraqueza e uma oportunidade para derrotar o regime de forma definitiva.

Externamente, a situação é menos promissora para Assad. Os Estados Unidos e as principais potências europeias, que no início dos protestos se mostravam reticentes em condenar o regime e preferiam falar em reformas políticas, já pediram publicamente que Assad deixe o poder.  Na vizinhança, as reações têm sido diferenciadas. O maior interessado na permanência de Assad é o Irã. A aliança com Damasco é a mais importante que Teerã possui no Mundo Árabe. É a partir da Síria que os iranianos exercem sua influência na região do Levante (que inclui, além de Síria e Líbano, Israel, Jordânia e os Territórios Palestinos) armando e apoiando a milícia e partido político xiita libanês Hezbollah. Do ponto de vista geopolítico, Teerã pretende que o Iraque, após retirada americana, seja controlado por um governo xiita para que, junto com Síria e Líbano, forme um arco de influência iraniana da Ásia Central ao Mediterrâneo. Perder o regime de Assad seria um revés importante nos planos de Teerã.

Por outro lado, quem está vendo na queda de Assad uma grande oportunidade estratégica é, como não podia deixar de ser, a Arábia Saudita, principal rival do Irã na região. Riad quer evitar um fortalecimento de Teerã na região do Golfo Pérsico. E como a batalha pelo Iraque já parece perdida, a possibilidade de um regime sunita pró-Riad surgir em Damasco encanta a monarquia saudita. Por esta razão, A Arábia Saudita e seus aliados do Conselho de Cooperação do Golfo, como o Kuwait, retiraram seus embaixadores de Damasco e condenaram a repressão promovida por Assad. No campo de batalha, há notícias de que os sauditas estão armando grupos sunitas que combatem o exército sírio.

Washington está em uma posição delicada, o que explica a relutância que a administração Obama mostrou em condenar Assad de forma assertiva. Assad é acusado há alguns anos de apoiar grupos que os americanos consideram terroristas. Também não agrada a Washington a proximidade que Damasco mantém com Teerã. No entanto, Assad é a segurança para que a Síria não caia em um sangrento conflito sectário de sérias consequências para a região. Os Estados Unidos, por mais que vejam em Assad um inimigo, temem pelo o que pode vir a lhe suceder.

A mesma cautela é sentida em Jerusalém e em Ancara. Os israelenses, tecnicamente em estado de guerra com o governo sírio, receiam que os conflitos que surgiriam com a queda de Assad abram um nova frente para Israel combater em sua fronteira norte, mais especificamente nas colinas do Golan, região síria ocupada por Israel desde a Guerra dos Seis Dias em 1967. A Turquia, por sua vez, quer evitar receber em seu território um onda de refugiados que a intensificação da violência na Síria fatalmente provocaria. Ao mesmo tempo, no longo prazo, os turcos veem com bons olhos a possibilidade de um regime sunita ser colocado em Damasco no lugar de Assad para poder exercer maior influência sobre a Síria e o Mundo Árabe.

Washington e seus aliados europeus elevaram bastante o tom contra o regime e países árabes importantes fortificaram suas posições anti-Assad. Quem vem garantido o pouco de apoio externo que sobrou ao ditador são China e Rússia, países com importantes interesses e negócios na Síria, além de Brasil e África do Sul, estes com peso diplomático ainda bem limitado. A ação de russos e chineses devem impedir que o Conselho de Segurança da ONU adote medidas drástica contra o regime sírio. Mas não se deve esperar que Pequim e Moscou se deixarão cair abraçados com Assad. Se o ditador for incapaz de conter a onda de violência, os dois países devem se afastar dele para começar a pensar na transição que lhes garanta a estabilidade desejada. Nem mesmo os aiatolás iranianos devem ficar com o ditador sírio até o final. Se o regime começar a dar sinais de que pode ruir, o mais provável é que Teerã se aproxime da oposição como forma de manter sua influência no futuro do país.

Apesar de Bashar al-Assad ainda manter sólida a base política que mantém o regime  desde que seu pai, Hafez al-Assad, tomou o poder em 1971, a pressão sobre ele é crescente. Quando os aliados de Assad, dentro e fora da Síria, tiverem a percepção de que o ciclo de violência e repressão esteja trazendo mais instabilidade do que os riscos embutidos na queda do regime, então Assad poderá começar a contar os dias que lhe restam no poder.

Israel vive hoje uma situação delicada. Ele parece acreditar que pode conviver com uma derrota na próxima Assembléia Geral das Nações Unidas (AG) – marcadas para o fim deste mês de setembro – em que a Autoridade Palestina pretende colocar em votação o reconhecimento e a inclusão do Estado Palestino como mais novo membro da organização. Afinal, este é o mesmo órgão que já reconheceu os direitos nacionais palestinos em 1988 – sem falar da própria resolução que fundou o Estado de Israel em 1947, que previa um Estado árabe na região – e que equiparou o sionismo a uma ideologia racista em 1975. (Ao contrário do Conselho de Segurança (CS), as decisões a AG não têm valor de lei.) Mas, dessa vez, os palestinos pleiteiam o reconhecimento de um Estado dentro das fronteiras de 1967, consistindo na Faixa de Gaza, a Cisjordânia e Jerusalém Oriental. A posição do governo israelense é de os Estados de Israel e da Palestina devem ser divididos por fronteiras que levem em conta mudanças populacionais (há enormes blocos de assentamentos construídos no lado palestino da linha de 1967), a segurança do Estado de Israel e a questão religiosa, uma vez que lugares sagrados para o judaísmo encontram-se na parte ocupada de Jerusalém – considerada por Israel sua capital eterna e indivisível.

De qualquer maneira, é pouco provável que os palestinos consigam voltar de Nova York em setembro como um membro pleno da ONU. Para isto seria necessário uma aprovação do CS, onde o veto americano deve barrar a proposta. Mas, ainda resta a alternativa de ser aceito como “Estado não-membro” (como o Vaticano), para a qual basta conquistar o voto de dois terços dos 193 membros que compõem a AG, o que os palestinos não devem ter dificuldades de conseguir.

Para Israel, a única maneira de impedir este revés no campo diplomático seria voltar à mesa de negociações, admitindo um parceiro com muito mais poder de barganha do que aquele com quem os israelenses negociam desde o início da década de noventa.

Israel parece não querer sucumbir a esta hipótese. Acredita que a vitória dos palestinos na ONU seria um mal menor. Ao mesmo tempo, trabalha nos bastidores diplomáticos para evitar uma derrota, ou que ela pelo menos não seja por um placar muito amplo. A estratégia israelense consiste em convencer outros países de que o estabelecimento do Estado Palestino deve ser feito por meio de negociações bilaterais e que o reconhecimento por parte da ONU antes que as partes tenham chegado a um acordo fere a legitimidade de Israel.

Até o momento, Itália e Alemanha disseram que vão votar contra a resolução, além do tradicional aliado, os Estados Unidos, enquanto o Reino Unido deve se abster. O fato é que a campanha diplomática de Israel não deve obter muito sucesso. A visão que predomina na comunidade internacional é de que boa parte da culpa pela falta de negociações se deve à intransigência de seguidos governos israelenses, que mantiveram a construção de assentamentos nos territórios ocupados e pouco fizeram para diminuir o fardo da presença militar israelense em terras palestinas.

A votação na ONU pode não ser tão catastrófica para Israel como muitos esperam. Até porque, do ponto de vista legal, a acusação pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU de que Israel cometeu crimes de guerra durante a Guerra de Gaza em janeiro de 2009 foi mais grave e Israel sobreviveu a ela. Mas em termos simbólicos, a votação pelo reconhecimento das fronteiras do Estado Palestino tem bem mais poder de repercussão. Ela acontecerá na sede da entidade em Nova York diante dos olhos do mundo todo e virá inundada por discursos dos mais importantes líderes mundiais, que não perderão a chance de defender, em uma tribuna global, a legítima causa de um povo que vive sob ocupação estrangeira há mais de quarenta anos.

Não há como negar que a opinião pública mundial vê Israel com olhos cada vez mais negativos. A operação militar contra a flotilha que tentava furar o bloqueio imposto a Faixa de Gaza em maio de 2010 mostrou a facilidade com que Israel é condenado perante o mundo. Nem o fato do território palestino ser governado pelo fundamentalista islâmico (e terroristas para muitos) Hamas e a evidência de que a embarcação humanitária conduzia diversos membros agressivos de organizações radicais foram suficientes para esconder a má vontade da comunidade internacional com Israel. O argumento da necessidade de defender a segurança do país em uma vizinhança hostil já não é mais totalmente aceito para explicar a belicosidade do Estado judeu.

O reconhecimento do Estado Palestino na ONU também será um potente combustível para o chamado movimento de deslegitimização que, como diz o nome, busca corroer a legitimidade de Israel. Grupos que andam espalhando o discurso anti-Israel pelos Estados Unidos e pela Europa podem ganhar ainda mais voz, ampliando seu campo de atuação das universidades e dos meios acadêmicos para alcançar de forma definitiva a opinião pública.

Ao prolongar a ocupação dos territórios palestinos, Israel coloca em risco sua existência como o conhecemos hoje. O risco, num prazo que parece cada vez mais curto, é que a pressão contra Israel se transforme em sanções econômicas e políticas como as que implodiram o regime racista da África do Sul. (Não é à toa que seus opositores insistem em classificar Israel como um Estado de apartheid.)

É possível que a votação em setembro na ONU seja mais uma das expressões de descontentamento do mundo com Israel, algo que o país considera um traço de antissemitismo, um sentimento que, na visão de muitos israelenses, faz com que o mundo sempre culpe os judeus por todos seus males. É possível também, que os votos em setembro fortifiquem a tentativa de transformar Israel em um Estado pária, algo com que um país pequeno e cercado por inimigos não pode se dar ao luxo de conviver.

O governo israelense, populista e refém de uma coalizão dominada por partidos políticos de direita, parece disposto a correr esse risco. Contam, para isso, com o incondicional apoio dos Estados Unidos, ainda que esta parceria esteja dando pequenos e leves sinais de distanciamento desde o início do governo do presidente Barak Obama. O problema é que se a estratégia der errado, aquilo que tanto se quer evitar – negociar com um parceiro mais poderoso – pode se provar a única alternativa para garantir a sobrevivência do país. Seria, é claro, um colossal tiro no pé, porque esta alternativa obrigaria Israel a chegar ainda mais combalido às mesas de negociações. Do ponto de visto geopolítico, é essencial compreender que Israel continuará buscando seus interesses em manter a frágil segurança de um pequeno país cercado por inimigos. As incertezas causadas pelas revoltas populares que se espalham pelo Oriente Médio combinadas com derrotas diplomáticas podem desembocar em um Estado de Israel que se sente ainda mais acuado e inseguro. O resultado dessa equação pode ser a elevação do risco de guerra na região.

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