A análise realizada pelo Insight Geopolítico baseia-se na produção de conhecimento estratégico para tomadores de decisão. Diferentemente do jornalismo — cujo enfoque é sempre o ‘hoje’ — a essência da análise está nas consequências do hoje para o amanha.

A compreensão do cenário internacional e do relacionamento entre Estados envolve diversos fatores, normalmente deixados de lado no noticiário descritivo e pontual de determinado acontecimento. Pensar no evento como um todo e, principalmente, em suas repercussões futuras — diretas e indiretas — é o diferencial que uma análise estratégica oferece.

Para o investidor ou o empresário, não basta apenas saber o que está acontecendo no mundo, ou pelo menos nos lugares que lhes são estratégicos. É essencial compreender as forças que movem os acontecimentos em tais ambientes e quais as implicações que um determinado evento — uma virada política, a aprovação de determinada lei, etc. — terão no curto, médio e longo prazos para seus investimentos. Compreender o que determinado político afirmou é uma tarefa simples. Encontrar o porquê de tal afirmação, assim como suas implicações, já é algo mais complexo e, consequentemente, tão ou mais importante do que a afirmação em si. O acesso a este tipo de inteligência estratégica permite um melhor planejamento e, desta forma, evitar choques inesperados.

Eventos internacionais ganham e perdem espaço no noticiário de forma aleatória. Dependendo do grau de importância momentânea de determinado tema, este ganha as manchetes por um período e depois é deixado de lado. A questão é que todos os eventos continuam a se desdobrar de forma heterogênea e errática, independentemente da atenção da grande midia. Apenas estar antenado sobre o acontecimento de hoje e, talvez, de amanha, não basta para se pensar em uma estratégia sólida.

Eleições na Grécia tiveram, como resultado, solavancos nos mercados e incertezas quanto à permanência do país na zona do Euro

Para dar um exemplo prático; o Insight Geopolítico publicou, em 2 de Abril, um artigo sobre o então provável cenário político grego para as eleições previstas para Maio (ocorridas no último dia 6). Enfatizamos que havia grandes possibilidades de diversos partidos, inclusive os mais radicais, terem bom desempenho e tornar uma coalizão impraticável — colocando em risco a aprovação das medidas de austeridade, cruciais para o recebimento de pacotes de ajuda financeira. Cerca de um mês depois, as previsões se confirmaram, o quadro político grego é de total desalinhamento e há o risco latente de uma saída da zona do Euro, com consequências para os mercados ainda difíceis de se quantificar.

Diferenciar jornalismo de inteligência estratégica é fundamental para a elaboração de planos de negócios sólidos e evitar riscos. Acompanhe o Insight Geopolítico e conheça nossos serviços.

 

A rodada de eleições do último final de semana demonstrou ao mundo, mais uma vez, como uma crise econômica é no fundo uma crise política. Não é de se surpreender, uma vez que o raison d’être da União Européia foi, desde o início, baseado em questões essencialmente políticas.

Na França, o socialista e crítico aberto da austeridade sem crescimento, François Hollande, venceu Nicolas Sarkozy. Na Grécia, como já antecipado pelo Insight Geopolítico, diversos partidos ganharam espaço no Parlamento, impossibilitando a coalizão necessária para a continuidade no processo de implementação das medidas de austeridade – sem as quais os pacotes de ajuda financeira não virão. No Estado de Schleswig-Holstein, a coalizão de Angela Merkel também sofreu uma derrota, dando sinais de que mesmo na Alemanha, em alguns locais, já existe uma oposição forte ao status-quo.

O projeto de moeda única não levou em consideração fatores políticos. Na história, nunca houve um caso de sucesso de um projeto de união monetária sem a união política.

Nos anos em que a economia esteve vibrante, o sentimento europeu pelo projeto da moeda única manteve-se fortalecido, facilitando a cooperação e buscando avançar em direção à união política – sem a qual é inviável a sobrevivência da união monetária. Porém, a crise trouxe uma mudança drástica neste cenário. Hoje, o debate não é mais sobre como consolidar a união política, mas sobre quem se prontificará a salvar a UE do colapso. A Alemanha, economia mais forte e peça central do projeto europeu, não se mostra disposta a exercer tal papel caso suas precondições não sejam atendidas.

É neste ponto que entra o fator geopolítico.

Com o colapso da URRS e a reunificação alemã, os medos de uma Alemanha forte e assertiva voltaram à tona. Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, os governos da França e do Reino Unido ja se opunham ao processo de reunificação alemão. Como solução, veio a ideia da união monetária, que tornaria ainda mais sólidos os laços entre as potências européias – especialmente Paris e Berlim.

Hoje, este sentimento volta a aparecer de forma contida. Países do sul da Europa vêem uma maior assertividade alemã, principalmente com os requisitos exigidos por Berlim para a liberação dos grandes pacotes financeiros para as economias endividadas. O desequilíbrio econômico causado pela crise deu origem a um novo problema de cunho geopolítico.

Um fator largamente desconsiderado pelos fundadores da UE foi a identidade nacional dos povos europeus. Desde a fundação do bloco, pouca ou nenhuma atenção foi dada ao fato de que, embora o desejo pela paz e estabilidade fosse consensual, não havia – e não há até hoje – uma noção popular e difundida da identidade ‘européia’ e não apenas grega, belga ou holandesa.

O parlamentar Geert Wilders, líder do Partido da Liberdade - ao retirar apoio à coalizão por questões ideológicas, o governo holandês ruiu

Desta forma, tão logo a crise chegou, populações tanto dos países credores como devedores abraçaram ideais nacionalistas. A confirmação veio através dos resultados das últimas eleições. A ultra-direita e a extrema esquerda tiveram resultados expressivos nas recentes eleições. Ideias anti-européias, anti-imigração e pró-nacionalistas ganharam muito espaço, criando obstáculos consideráveis não só à governância doméstica destes Estados, mas também, num âmbito macro, à estrutura política da UE.

Neste contexto, dois cenários se colocam frente ao futuro da Europa; um é a manutenção do formato atual, mediante à imposição de medidas de austeridade severas a diversos países, gerando anos de depressão que poderão se traduzir em mais instabilidade política – grande parte destes países tem altos índices de desemprego entre a população jovem, uma mistura perigosa.

A segunda opção, logicamente, é a gradual saída de alguns países da zona do Euro – hoje o caso provável seria a Grécia. As consequências desse cenário podem ser desastrosas, dependendo de como os mercados avaliarem a capacidade dos outros membros remanescentes em se manter no bloco – principalmente os demais países hoje em situação de risco, à exemplo de Espanha e Portugal. Isso sem mencionar os impactos subsequentes que o caos social grego pós-euro pode gerar sobre o resto da Europa.

A UE se vê hoje em uma encruzilhada, na qual os dois caminhos serão difíceis de se percorrer. Caso ela sobreviva, cenário mais provável, ela perderá grande parte da força política que já teve, embora possa ser capaz de manter o equilíbrio geopolítico.

Crise grega pode se agravar

Embora a crise grega tenha se estabilizado, eventos políticos no país podem levar a uma nova situação de instabilidade nos mercados internacionais. O principal fator? A proximidade das eleições, previstas para meados de Maio.

Pesquisas hoje dão conta de que pelo menos oito partidos diferentes deverão ganhar assentos no Parlamento grego. Caso as pesquisas se confirmem, o risco de as medidas de austeridade aprovadas recentemente pela coalisão PASOK (socialista) e o Nova Democracia (conservador) serem atacadas é grande, o que colocaria em xeque os pacotes de ajuda financeira e poderia acarretar em um recrudecimento da crise.

Mesmo com o partido Nova Democracia liderando as pesquisas para as eleições, e o PASOK vindo logo atrás, os dois juntos não conseguiriam, hoje, uma maioria suficiente para governar sem depender de negociações com a oposição. Desta forma, a dificuldade para se aprovar medidas de austeridade – exigências tradicionais das organizações financeiras que hoje ajudam a Grécia, como o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional – será maior. Maior dificuldade significa mais tempo gasto com barganhas políticas e maiores chances de uma piora no cenário atual.

Dado que a Grécia precisará de mais pacotes de ajuda financeira para se sustentar, mais cortes nas contas governamentais serão exigidos, o que certamente gerará uma grande insatisfação popular. Hoje o desemprego está na casa dos 20% e tais cortes atingiram diretamente uma parcela considerável da população – o que, consequentemente, afeta a já fraca economia grega.

Parlamento Grego - dificilmente haverá uma maioria clara após as eleições

A Itália, outro foco de grande preocupação em meio à crise, instalou um governo provisório, repleto de tecnocratas, com a função primordial de implementar medidas de austeridade para colocar as contas do país em ordem e, somente em 2013, realizar novas eleições – o que mitiga o risco político agora latente na Grécia.

Ao que tudo indica, novos solavancos virão da Europa nos próximos meses. A possibilidade de uma saída da Grécia da zona do Euro, num cenário pessimista, não está descartada.

A Insight Geropolítico continuará monitorando os desdobramentos da crise na Grécia e os riscos políticos inerentes aos possíveis cenários.

 

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