O mundo está vivendo uma crise com o novo surto de ebola no oeste da África. Desde que o vírus foi descoberto, no Zaire em 1976, essa é a maior epidemia. O número de pessoas contaminadas chega a 4.000 e passam de 2.000 os mortos. Temos 4 países afetados: Guiné, Libéria, Nigeria e Serra Leoa (Senegal relatou a ocorrência de um caso). A Organização Mundial da Saúde estima que possa chegar a 20.000 o número de infectados.

Doenças são um desafio para o desenvolvimento de todos os países e um grave problema social. Apesar do ebola estar assustando o mundo, existem muitas outras doenças endêmicas que tem impactos de longo prazo mais severos. Tuberculose é um desses exemplos. Para efeito de comparação, em 2012, 8.6 milhões de pessoas foram infectadas e 1.3 milhões morreram de tuberculose. A bactéria matou mais de 3.500 pessoas por dia em 2012. O impacto econômico da doença está estimado em 12 bilhões de dólares por ano.

RISCOS POLÍTICOS 

Algumas das medidas de combate ao ebola, como imposição de quarentenas para certos bairros, tem gerado confrontos com a polícia. Na Libéria, os confrontos entre a população — tentando escapar da área de quarentena — e a polícia tem causando ainda mais tensão. Aqueles que furaram o cerco podem contaminar mais pessoas em outras áreas. A polícia tem usado munição de verdade e já feriu manifestantes. A desconfiança da população com o governo é profunda, e está relacionada ao passado político dos 14 anos de guerra civil no país.

O desafio vai ficar ainda maior conforme a epidemia avança sobre zonas urbanas, principalmente as favelas. Até agora o vírus estava confinado nas áreas rurais, mas a doença começa a ganhar espaço em grandes cidades como a capital de Guiné, Conakry. Combater o Ebola em lugares pobres e violentos como essas favelas será um duplo desafio com potencial de agravar as fragilidades políticas desses países.

Algumas empresas como Goodyear, Rio Tinto, Titanium Resources Group com operações respectivamente na Libéria, Guiné e Serra Leoa vão sofrer as conseqüências. As cias aéreas também já estão computando suas perdas. Air France, British Airways, Kenya Airways e Emirates pararam de voar para os países afetados.

HARD POWER HUMANITÁRIO  

Durante o Tsunami de 2004, as forças militares dos EUA e de Singapura, por exemplo, lançaram uma das maiores missões de resgate da história. Somente os EUA colocaram 12.600 militares, incluindo quase a totalidade da sua Frota do Pacífico, com 48 helicópteros e todos os navios hospitais da região.

A crise com a epidemia do ebola demanda uma operação logística de natureza militar. De acordo com um cálculo, para cada paciente sendo cuidado na Libéria seriam necessários 200 a 250 profissionais de saúde e uma logística condizente. Além disso, as forças de segurança desses países estão sobrecarregadas enfrentando uma população insatisfeita e revoltada. A presença de uma força militar internacional poderia ajudar a lidar com grande parte dos desafios logísticos e de segurança. Claro que tal ajuda não seria isenta de riscos colaterais como reforçar os boatos e teorias da conspiração que envolvem a epidemia. A teoria da conspiração clássica de toda epidemia moderna é que a CIA criou a doença e está contaminando o mundo.

TERRORISMO

A gravidade de epidemias como o ebola nos alerta para um perigo ainda maior. Se as doenças já são um grande desafio por si só, imaginem transformá-las em armas. Um laptop recém capturado na província de Idlib, próxima a fronteira com a Turquia, na Síria, relevou um documento assustador. O dono do computador — um Tunisiano chamado Muhammed S. afiliado ao Estado Islâmico (E.I.) — estaria estudando e aprendendo como construir armas biológicas. O documento de 19 páginas que descreve como construir uma arma através de uma praga extraída de animais infectados é apenas mais um dos pesadelos de um ataque terrorista com armas de destruição de massa.

No fim dos anos 80, o culto Japonês Aum Shinrikyo tentou sem sucesso produzir uma serie de armas biológicas. Somente quando optou pelas armas químicas (agente sarin) alcançou seu objetivo.

Se o objetivo do terrorismo é causar pânico, nada melhor do que usar armas que são percebidas como altamente perigosas. O leigo percebe o risco de forma diferente do analista de risco. Estudos de percepção de risco mostram que indivíduos comuns enxergam e classificam riscos de acordo com sua percepção e sem base estatística. Em outras palavras, o leigo enxerga um risco maior em determinadas situações. Essa percepção potencializa o impacto do uso de armas não convencionais porque agentes químicos, biológicos e radiológicos estão entre os materiais vistos como mais perigosos pela população.

CONSEQÜÊNCIAS

Felizmente, os terroristas ainda são amadores o suficiente para acreditar que armas biológicas são fáceis de serem adquiridas, implantadas efetivamente e produzirem mortes em massa. O exemplo do culto Japonês retrata bem as dificuldades envolvidas com esse tipo de arma. Um dos grandes obstáculos no uso de armas biológicas é a dificuldade de distribuição ou definir o veículo de contaminação. O documento do E.I. fala sobre granadas de mão contendo o vírus. A estratégia seria jogar tais granadas em estádios de futebol, metros e centros de entretenimento próximas ao dutos de ar condicionado ou em operações suicidas. O problema (ou solução no caso do mundo civilizado) é que a bactéria usada nessa tal arma é muito frágil e morreria com a explosão da granada.

 

Artigo Blog Exame orginal: http://exame.abril.com.br/rede-de-blogs/risco-politico-global/2014/09/10/ebola-e-terrorismo/

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