A análise realizada pelo Insight Geopolítico baseia-se na produção de conhecimento estratégico para tomadores de decisão. Diferentemente do jornalismo — cujo enfoque é sempre o ‘hoje’ — a essência da análise está nas consequências do hoje para o amanha.

A compreensão do cenário internacional e do relacionamento entre Estados envolve diversos fatores, normalmente deixados de lado no noticiário descritivo e pontual de determinado acontecimento. Pensar no evento como um todo e, principalmente, em suas repercussões futuras — diretas e indiretas — é o diferencial que uma análise estratégica oferece.

Para o investidor ou o empresário, não basta apenas saber o que está acontecendo no mundo, ou pelo menos nos lugares que lhes são estratégicos. É essencial compreender as forças que movem os acontecimentos em tais ambientes e quais as implicações que um determinado evento — uma virada política, a aprovação de determinada lei, etc. — terão no curto, médio e longo prazos para seus investimentos. Compreender o que determinado político afirmou é uma tarefa simples. Encontrar o porquê de tal afirmação, assim como suas implicações, já é algo mais complexo e, consequentemente, tão ou mais importante do que a afirmação em si. O acesso a este tipo de inteligência estratégica permite um melhor planejamento e, desta forma, evitar choques inesperados.

Eventos internacionais ganham e perdem espaço no noticiário de forma aleatória. Dependendo do grau de importância momentânea de determinado tema, este ganha as manchetes por um período e depois é deixado de lado. A questão é que todos os eventos continuam a se desdobrar de forma heterogênea e errática, independentemente da atenção da grande midia. Apenas estar antenado sobre o acontecimento de hoje e, talvez, de amanha, não basta para se pensar em uma estratégia sólida.

Eleições na Grécia tiveram, como resultado, solavancos nos mercados e incertezas quanto à permanência do país na zona do Euro

Para dar um exemplo prático; o Insight Geopolítico publicou, em 2 de Abril, um artigo sobre o então provável cenário político grego para as eleições previstas para Maio (ocorridas no último dia 6). Enfatizamos que havia grandes possibilidades de diversos partidos, inclusive os mais radicais, terem bom desempenho e tornar uma coalizão impraticável — colocando em risco a aprovação das medidas de austeridade, cruciais para o recebimento de pacotes de ajuda financeira. Cerca de um mês depois, as previsões se confirmaram, o quadro político grego é de total desalinhamento e há o risco latente de uma saída da zona do Euro, com consequências para os mercados ainda difíceis de se quantificar.

Diferenciar jornalismo de inteligência estratégica é fundamental para a elaboração de planos de negócios sólidos e evitar riscos. Acompanhe o Insight Geopolítico e conheça nossos serviços.

 

Visite o nosso novo espaço – Risco Político – onde dissecamos, em forma de perguntas e respostas, o que é Risco Político e como essa variável tão específica afeta diretamente a realidade dos negócios e investimentos no mundo atual.

A rodada de eleições do último final de semana demonstrou ao mundo, mais uma vez, como uma crise econômica é no fundo uma crise política. Não é de se surpreender, uma vez que o raison d’être da União Européia foi, desde o início, baseado em questões essencialmente políticas.

Na França, o socialista e crítico aberto da austeridade sem crescimento, François Hollande, venceu Nicolas Sarkozy. Na Grécia, como já antecipado pelo Insight Geopolítico, diversos partidos ganharam espaço no Parlamento, impossibilitando a coalizão necessária para a continuidade no processo de implementação das medidas de austeridade – sem as quais os pacotes de ajuda financeira não virão. No Estado de Schleswig-Holstein, a coalizão de Angela Merkel também sofreu uma derrota, dando sinais de que mesmo na Alemanha, em alguns locais, já existe uma oposição forte ao status-quo.

O projeto de moeda única não levou em consideração fatores políticos. Na história, nunca houve um caso de sucesso de um projeto de união monetária sem a união política.

Nos anos em que a economia esteve vibrante, o sentimento europeu pelo projeto da moeda única manteve-se fortalecido, facilitando a cooperação e buscando avançar em direção à união política – sem a qual é inviável a sobrevivência da união monetária. Porém, a crise trouxe uma mudança drástica neste cenário. Hoje, o debate não é mais sobre como consolidar a união política, mas sobre quem se prontificará a salvar a UE do colapso. A Alemanha, economia mais forte e peça central do projeto europeu, não se mostra disposta a exercer tal papel caso suas precondições não sejam atendidas.

É neste ponto que entra o fator geopolítico.

Com o colapso da URRS e a reunificação alemã, os medos de uma Alemanha forte e assertiva voltaram à tona. Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, os governos da França e do Reino Unido ja se opunham ao processo de reunificação alemão. Como solução, veio a ideia da união monetária, que tornaria ainda mais sólidos os laços entre as potências européias – especialmente Paris e Berlim.

Hoje, este sentimento volta a aparecer de forma contida. Países do sul da Europa vêem uma maior assertividade alemã, principalmente com os requisitos exigidos por Berlim para a liberação dos grandes pacotes financeiros para as economias endividadas. O desequilíbrio econômico causado pela crise deu origem a um novo problema de cunho geopolítico.

Um fator largamente desconsiderado pelos fundadores da UE foi a identidade nacional dos povos europeus. Desde a fundação do bloco, pouca ou nenhuma atenção foi dada ao fato de que, embora o desejo pela paz e estabilidade fosse consensual, não havia – e não há até hoje – uma noção popular e difundida da identidade ‘européia’ e não apenas grega, belga ou holandesa.

O parlamentar Geert Wilders, líder do Partido da Liberdade - ao retirar apoio à coalizão por questões ideológicas, o governo holandês ruiu

Desta forma, tão logo a crise chegou, populações tanto dos países credores como devedores abraçaram ideais nacionalistas. A confirmação veio através dos resultados das últimas eleições. A ultra-direita e a extrema esquerda tiveram resultados expressivos nas recentes eleições. Ideias anti-européias, anti-imigração e pró-nacionalistas ganharam muito espaço, criando obstáculos consideráveis não só à governância doméstica destes Estados, mas também, num âmbito macro, à estrutura política da UE.

Neste contexto, dois cenários se colocam frente ao futuro da Europa; um é a manutenção do formato atual, mediante à imposição de medidas de austeridade severas a diversos países, gerando anos de depressão que poderão se traduzir em mais instabilidade política – grande parte destes países tem altos índices de desemprego entre a população jovem, uma mistura perigosa.

A segunda opção, logicamente, é a gradual saída de alguns países da zona do Euro – hoje o caso provável seria a Grécia. As consequências desse cenário podem ser desastrosas, dependendo de como os mercados avaliarem a capacidade dos outros membros remanescentes em se manter no bloco – principalmente os demais países hoje em situação de risco, à exemplo de Espanha e Portugal. Isso sem mencionar os impactos subsequentes que o caos social grego pós-euro pode gerar sobre o resto da Europa.

A UE se vê hoje em uma encruzilhada, na qual os dois caminhos serão difíceis de se percorrer. Caso ela sobreviva, cenário mais provável, ela perderá grande parte da força política que já teve, embora possa ser capaz de manter o equilíbrio geopolítico.

A segunda maior economia da União Européia pode ser o núcleo de um novo recrudescimento da crise no continente. Diferentemente de países periféricos, cujas economias em semi-colapso já deram alguns sustos nos mercados, um solavanco vindo de Paris poderia acarretar até mesmo na dissolução do bloco, que tem como pilares justamente a própria França e a Alemanha.

Recordista em gastos públicos (56% do PIB) e em volume de empregados pelo Estado por grupo de 1.000 habitantes (90, contra 50 na Alemanha), a economia francesa começa a dar sinais claros de uma realidade já não tão recente: sua competitividade diminuiu muito ao longo dos últimos anos, criando um descompasso com uma folha de pagamentos estatal digna de países como Suécia. Para se ter uma ideia, em 2000 o custo/hora de um trabalhador francês era 8% mais barato que o de um alemão. Hoje o mesmo trabalhador tem um custo/hora 10% mais caro que na Alemanha.

Com uma dívida pública beirando os 90% e uma economia semi-estagnada, o modelo francês de estado de bem-estar social inchado é solo fértil para a eclosão de uma crise severa.

François Hollande e Nicolas Sarkozy - eleição francesa pode ser decisiva para um novo recrudescimento da crise

É nesse contexto que entram as eleições, com o segundo turno marcado para 6 de Maio. O atual presidente, Nicolas Sarkozy, enfrenta um empolgado François Hollande, proveniente do socialismo francês. O primeiro turno terminou com um quase empate técnico entre ambos. As extremas direita (Marine Le Pen com 18%) e esquerda (Jean-Luc Melenchon com 11%) ficaram em 3o e 4o lugares, respectivamente.

A possibilidade de Hollande vencer Sarkozy não só assusta este último – que entraria para a história como o segundo presidente da 5a Republica (iniciada em 1958) a não se reeleger – mas, principalmente, os mercados. Defendendo políticas pouco ortodoxas, como a renegociação do Pacto Fiscal Europeu, que regula pela responsabilidade orçamentária dos Estados-membro, aumentar o salário mínimo e retomar a aposentadoria para os 60 anos, Hollande passa a ideia de que vai colocar o processo de contenção da crise européia em xeque.

Por mais que seja importante ler tais discursos e posições pelo prisma eleitoral, tais medidas representam um risco grande à Franca e à Europa. Dado que o eleitorado frances é reconhecidamente reacionário a mudanças no status quo do modelo de estado paternalista – alvo principal das medidas de austeridade tão criticadas por Hollande – suas chances de vitória não são pequenas. E, mesmo que muitos dos eleitores franceses não estejam convencidos de que Hollande é a melhor opção, a rejeição a Sarkozy pode lhe dar a presidência, já que grande parte do eleitorado não gosta da ideia de mais 5 anos da administração atual.

O desempenho da extrema direita com Marine Le Pen, e da extrema esquerda com Jean-Luc Mélenchon, também diz muito sobre a cena política local. A fobia com quaisquer influencias externas na sociedade francesa – seja a globalização ou mesmo a UE – se refletiu no desempenho de candidatos mais extremistas. A França adotou o mantra de que os males sofridos hoje pela sua economia têm sua raiz na abertura do país para o mundo. Entretanto, os franceses não parecem compreender que, sem as receitas provenientes de um mercado aberto, será impossível balancear os gastos públicos excessivos do Estado francês e evitar um colapso.

Risco de fragmentação da UE existe e não é pequeno

O grande perigo do discurso de François Hollande está justamente no fato de suas propostas estarem sintonizadas com os valores das massas. Mesmo que ele não cumpra parte das promessas de campanha, as pressões para tanto serão grandes, podendo ter resultados políticos inesperados e com conseqüências difíceis de se prever e quantificar. Para dar um exemplo, sua disposição a lutar por uma revisão do Pacto Fiscal Europeu pode gerar indisposições com a Alemanha, o que levaria instabilidade ao campo político europeu.

Caso a França siga este caminho, será muito mais fácil para os outros países europeus adotarem políticas similares, uma vez que há um crescente descontentamento com as medidas atuais pela ausência de mecanismos favoráveis ao crescimento. Nesta situação, pode haver um efeito cascata capaz de enterrar o projeto de integração europeu.

Desde o fim da União Soviética, os Estados têm optado pelo modelo econômico liberal, diminuindo sua participação na economia, principalmente através das privatizações de suas empresas públicas. A ascensão das economias emergentes – os BRICS – somada a crise de 2008, colocou esse movimento em xeque. As intervenções governamentais na economia cresceram muito após a crise, e essa tem sido a prática mais comum tanto para desenvolvidos quanto para emergentes. Contudo, no segundo caso, o fato de suas economias terem se consolidado sob um modelo de state capitalism torna ainda mais fundamental a intervenção do Estado na economia.

YPF, subsidiária da espanhola Repsol, foi expropriada pelo governo de Cristina Kirchner

É nesse contexto que, na semana passada, a Argentina decidiu nacionalizar a YPF, petrolífera subsidiária da espanhola Repsol no país. Em geral, expropriações são facilitadas por questões primordiais do sistema internacional político e pela economia mundial. A primeira é a própria soberania dos países; sem uma autoridade supranacional capaz de impor regras e aplicá-las, as nações são sempre a maior autoridade no que diz respeito a suas vontades e interesses. A segunda questão é de cunho econômico; a atual onda de alta nos preços de commodities torna economicamente atraente a nacionalização de determinados setores da economia, e transformá-los em instrumentos de política interna e externa. Não por acaso, boa parte das gigantes petrolíferas hoje pertencem a governos, como a Saudi Aramco (Arábia Saudita), a CNOOC (China) ou a própria Petrobrás.

Para empresas e governos, o ideal é antever e se prevenir quanto a ações de nacionalização. A ação de expropriar a propriedade de determinada empresa pode ser baseada em diferentes motivações e ocorrer de formas distintas. O caso da YPF elucida dois fatores importantes como motivação para tal ação: ideologia e nacionalismo.

O nacionalismo é um fator crucial nas expropriações. Normalmente utilizado por governos quando países passam por momentos de crise doméstica, uma de suas ferramentas é encontrar um “culpado” externo para justificar falhas internas. Desta forma, nacionalizar ativos de estrangeiros em setores de valor, normalmente commodities, se traduz, politicamente, em um momento de orgulho nacional e uma forma de angariar apoio da população ao governo. Da mesma forma, esses setores estratégicos também servem de fonte de renda para financiar políticas populistas.

Cristina Kirchner - exemplo clássico de governante populista

 

Por fim, deve-se incluir na análise a ideologia dos governos em exercício. Processos de expropriação baseados em questões ideológicas são, historicamente, um dos maiores fatores por trás destas ações. Como políticos esquerdistas não tendem a esconder seus objetivos, é possível antever tal fenômeno. O governo de Cristina Kirchner, assim como o de seu predecessor e marido, Néstor Kirchner, sempre se baseou em uma plataforma populista. Uma grande fração das contas do Estado são direcionadas aos subsídios de serviços, produtos e crédito fácil. Embora a Argentina tenha experimentado algum crescimento econômico nos últimos tempos, tal modelo enfraquece as contas governamentais, o que força o aumento de impostos, prejudicando a competitividade da economia do país. Acusar uma multinacional – neste caso a Repsol – de não contribuir com a sociedade é cômodo e relativamente fácil. No médio e longo prazo, quem mais perde é a própria Argentina, pois cada vez mais afugenta o investimento estrangeiro tão necessário para o desenvolvimento, principalmente do setor energético.

O caso da nacionalização da YPF, é apenas mais um episódio de um fenômeno que não da sinais de que vá se extinguir nos próximos anos. Pelo contrário. Como vimos, expropriações podem se tornar mais freqüentes com o crescimento do modelo capitalista estatal, praticado principalmente pelas economias emergentes.

 

Em um mundo tão imprevisível, como o de hoje, os riscos políticos ganham uma relevância ainda maior. Em geral, os maiores riscos políticos sempre estiveram nos mercados emergentes, onde as instituições não são tão sólidas e interferência do Estado no mercado é constante. Entretanto, mercados desenvolvidos, como Europa central – Alemanha, França, Reino Unido, – EUA e outros, também podem oferecer determinados riscos políticos que, à primeira vista, não são visíveis.

Recentemente, o conglomerado brasileiro Odebrecht sofreu um revés político que pode comprometer suas operações nos EUA, no Estado da Florida. O governador Rick Scott devera sancionar uma nova lei na qual prevê que empresas com negócios em Cuba, em valores acima de USD 1 milhão, serão proibidas de operar na Florida.

Lei no Estado da Florida pode comprometer investimentos de gigante brasileira

Ideologias são um fator presente na análise do risco político. Por exemplo, historicamente, quando pensamos em expropriações – algo que ocorreu com a Petrobrás, em 2006, na Bolívia – ideologias são a força motriz por trás deste tipo de evento. Contudo, ideologia e afiliações políticas podem afetar empresas de outras formas menos agressivas e custosas. No caso específico da lei da Florida, seu idealizador é o deputado Michael Bileca, casado com uma cubana. Esse projeto recebe apoio incondicional do lobby anti-castrista, uma das grandes forças políticas do Estado. A população cubana da Florida, em sua maioria descendente de refugiados da revolução de 1959, vê com maus  olhos o regime do país caribenho e são apoiadores irredutíveis do bloqueio, mantido desde 1962.

O Brasil é hoje o principal parceiro econômico da Florida, e a Odebrecht é parte importante deste cenário. Grandes contratos já estão em execução e há negociações para crescimento nos investimentos. Ao mesmo tempo, a posição da empresa brasileira em Cuba é bastante estratégica.

Desde que Raúl Castro, irmão de Fidel, assumiu o poder na ilha, diversas medidas econômicas de abertura vem sendo implementadas. A previsão é de que, em breve, Cuba será novamente um pólo muito atrativo para investimentos em diversas áreas – já que hoje há uma mão-de-obra qualificada subutilizada devido às políticas socialistas ainda predominantes. O Brasil já explora estas variáveis e, no caso da Odebrecht, já há negócios em andamento nos setores de infraestrutura e agronegócio.

Embora a lei ainda não tenha sido sancionada, os negócios da  empresa brasileira estão sob ameaça. Uma decisão política pode afetar diretamente sua estratégia, desmontrando assim a necessidade de lidar de forma sistemática e profissional com os riscos politicos.

Santorum desiste da nomeação

O ex-Senador da Pennsylvania, Rick Santorum, principal adversário do ex-Governador Mitt Romney pela nomeação do Partido Republicano para as eleições deste ano, abdicou da disputa. Desta forma, Romney consolida sua posição como candidato republicano de facto para enfrentar Barack Obama em Novembro.

Embora ainda tivesse esperanças de obter um resultado positivo na Pennsylvania, pesquisas nos últimos dias previam uma disputa apertada entre os dois. As pesquisas também colocam Romney como favorito nos demais quatro Estados que realizam primárias, em 24 de Abril. A possibilidade de ser derrotado dentro do Estado pelo qual foi Senador seria um fim embaraçoso para um candidato que teve uma ascensão considerável.

Embora Newt Gingrich e Ron Paul ainda não tenham se manifestado, é natural que o Partido Republicano, em breve, se pronuncie quanto à definição de Romney como seu candidato e facilite o posicionamento de campanha – agora com foco total na administração Obama.

Será interessante observar a estratégia de Mitt Romney, que terá de demonstrar aos eleitores independentes – decisivos na disputa – que não é tão conservador quanto hoje parece. Em meio á disputa dos republicanos pela nomeação, ele sempre foi alvo de seus adversários por ser considerado moderado demais.

 

 

BRIC - Grupo apresenta diferenças profundas, impossibilitando coordenação nos campos econômico e, principalmente, político

Nos últimos anos, um dos termos mais utilizados no cenário político-econômico internacional foi a sigla BRIC — Brasil, Rússia, Índia e China — hoje atualizada para BRICS — sendo o ‘S’ referência à África do Sul. Apesar desses países estarem vivendo seu melhor momento, em termos de crescimento econômico e relevância política, ainda assim compõem um grupo bastante distinto. Não por acaso, desde que a sigla foi cunhada em 1o de Outubro de 2003, no relatorio “Dreaming with BRICs: The Path to 2050“, publicado pelo banco Goldman Sachs, esse países foram incapazes de criar uma agenda própria e agirem em coalizão sobre qualquer tema – da economia à posicionamentos quanto a questões geopolíticas.

Uma simples análise histórica, sob o prisma do risco político, já aponta falhas na previsão feita pelo Goldman Sachs. Em 2003, o relatório previu que os BRIC serão, até 2050, as economias predominantes do globo, apenas atrás dos EUA e Japão. Uma pergunta objetiva já colocaria em xeque a previsão: o que garante que os objetivos político-econômicos de tais Estados serão os mesmos pelas próximas décadas? Se olharmos para os últimos 47 anos, todos os membros do suposto grupo passaram por mudanças políticas substanciais, com implicações diretas em suas economias.

China - caráter autoritário do regime não se alterou, apesar das mudanças expressivas na estratégia política

Nestas últimas quatro décadas, a China passou por muitas transformações e nem todas elas produziram o desenvolvimento econômico dos últimos 20 anos. A visão política de Mao Zedong não produziu industrialização e desenvolvimento. De forma similar, tratar as decisões políticas dos próximos 47 anos da China como certeiras e únicas é uma grande simplificação de um país altamente complexo politica e socialmente. Dados os diversos desafios geopolíticos e, sobretudo, sociais que os chineses enfrentam no âmbito doméstico, fica evidente que muitos outros cenários poderiam se formar, alterando o curso atual. Bastaria, nos próximos 15 anos, sua economia não crescer os essenciais 8-9%/ano, algo perfeitamente possível, para não só entrar em uma complexa e perigosa crise interna, mas levar consigo diversos outros mercados, que hoje também vivem boomseconômicos devido à excessiva demanda chinesa por recursos naturais e commodities. Tal cenário poderia, sem sombra de dúvidas, colocar em xeque a estrutura política chinesa.

Rússia - até 1991, núcleo do Império Soviético

Na mesma linha de raciocínio, ao longo das últimas quatro décadas, a Rússia deixou de ser o império centrado na União Soviética – que se extendia do Leste europeu ao extremo Oriente e, ao Sul, até a Ásia central – a um país relativamente menor, com um sistema político diferente e altamente dependente de exportações de recursos naturais. Dadas as prioridades politico-sociais russas, é impossível afirmar, baseado somente em dados económicos, que sua estratégia para os próximos quarenta anos será a mesma.

Os objetivos político-econômicos de cada país variam e se adaptam à realidades que mudam conforme o tempo. A análise feita pelo Goldman Sachs trabalha com diversos índices econômicos, o que sem duvida é importante ao se fazer previsões sobre a evolução de Estados. Porém, é impossível afirmar que a estratégia chinesa ou russa, para os próximos 40 anos, será rigorosamente a mesma e que não haverá qualquer mudança política capaz de influenciar a economia. O mesmo se aplica ao Brasil e à Índia.

Por fim, a ausência do componente geopolítico no relatório em questão também é intrigante. Uma análise básica dos BRICS já é suficiente para apontar dúvidas quanto à possibilidade de cada um sofrer uma mudança política considerável. Nos últimos 40-50 anos, cada um dos países em questão viveram diversas transformações. Acreditar que um boom nos últimos 8 anos será suficiente para garantir o status quo por mais três ou quatro décadas é, no mínimo, pretencioso.

Romney é saudado pelas três vitórias incontestáveis

Como previsto, Mitt Romney obteve fáceis vitórias nas três primárias ocorridas ontem em Maryland, Wisconsin e no Distrito de Columbia. Sua vantagem sobre Rick Santorum, na contagem de delegados, aumentou consideravelmente – hoje ele detém 652 delegados contra 269 de Santorum. Para garantir matematicamente a nomeação, são necessários 1.144 delegados.

Entretanto, é possível que Romney consiga a nomeação em menos tempo. Isso se daria pela crescente pressão interna do Partido Republicano para que Rick Santorum, hoje seu único adversário, abdique da corrida. Embora fosse o ideal, um empecilho pode estar no calendário eleitoral.

Em 24 de Abril haverá uma nova rodada de primárias, e Rick Santorum acredita que ainda pode ter alguma chance de manter-se vivo na disputa pela nomeação. O motivo? O Estado pelo qual foi Senador, a Pennsylvania, estará em disputa. Porém, o risco é maior para o Partido Republicano, que verá mais um prolongamento da disputa interna – algo que os democratas têm celebrado.

Além da Pennsylvania, os demais Estados em disputa serão; Connecticut, Delaware, Nova York e Rhode Island. Vizinhos de Massachusetts, território de Romney, tais Estados tendem a dar uma chance maior de vitória ao atual líder. Ou seja, mesmo que Rick Santorum não desista – focado na Pennsylvania – suas chances para uma virada são mínimas. Pode ser uma aposta muito alta para a cúpula republicana.

Existe a possibilidade de Santorum abdicar da corrida, nos próximos dias. Embora trate-se de contextos diferentes, Jon Huntsman abandonou a corrida dias depois de anunciar que iria continuar, apesar de uma performance ruim em New Hampshire. Alguns dias de reflexão, somadas com a provável pressão interna do partido, poderão facilitar as coisas para Romney e para os republicanos.

É importante ressaltar que, pela primeira vez, Barack Obama dirigiu-se a Mitt Romney pelo nome – uma sutil demonstração de que a campanha já começou. Em um discurso focado na proposta orçamentária defendida pelo congressista republicano Paul Ryan – que apóia Romney – Obama fez críticas diretas à Romney, ao congressista e ao plano em si, classificando-o como “Darwinismo social”.

Já sob ataques diretos de Obama, quanto antes vier a provável nomeação, melhor para Romney – e para o partido.

 

Liderando as pesquisas por margens consideráveis nos três Estados onde haverá primárias hoje – Wisconsin, Maryland e no Distrito de Columbia – o ex-governador Mitt Romney pode consolidar sua nomeação como candidato republicano, caso obtenha as vitórias previstas.

O prolongamento da disputa interna no Partido Republicano pode atrapalhar o candidato na disputa com Barack Obama, em Novembro, já que os independentes – mais moderados – tendem a rejeitar a retórica conservadora que tem dominado o debate entre os possíveis nomeados. Newt Gingrich e Ron Paul estão praticamente fora da corrida, mas Rick Santorum ainda tem esperanças de prolongar a disputa até, pelo menos, as próximas primárias no dia 24 de Abril.

Hoje, todas as disputas são no formato winner-take-all, ou seja, o candidato que vencer a primária fica com todos os delegados em disputa. Dado que Romney provavelmente vencerá nos três Estados, sua vantagem no número de delegados aumentará consideravelmente, o que pode dar um fim simbólico à disputa interna dos republicanos.

Quanto antes houver esta definição, melhor para Romney, que poderá reorganizar sua campanha focando a disputa presidencial. Coincidentemente, hoje se inicia a campanha televisiva do Super PAC de Barack Obama em Estados considerados importantes na disputa.

Crise grega pode se agravar

Embora a crise grega tenha se estabilizado, eventos políticos no país podem levar a uma nova situação de instabilidade nos mercados internacionais. O principal fator? A proximidade das eleições, previstas para meados de Maio.

Pesquisas hoje dão conta de que pelo menos oito partidos diferentes deverão ganhar assentos no Parlamento grego. Caso as pesquisas se confirmem, o risco de as medidas de austeridade aprovadas recentemente pela coalisão PASOK (socialista) e o Nova Democracia (conservador) serem atacadas é grande, o que colocaria em xeque os pacotes de ajuda financeira e poderia acarretar em um recrudecimento da crise.

Mesmo com o partido Nova Democracia liderando as pesquisas para as eleições, e o PASOK vindo logo atrás, os dois juntos não conseguiriam, hoje, uma maioria suficiente para governar sem depender de negociações com a oposição. Desta forma, a dificuldade para se aprovar medidas de austeridade – exigências tradicionais das organizações financeiras que hoje ajudam a Grécia, como o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional – será maior. Maior dificuldade significa mais tempo gasto com barganhas políticas e maiores chances de uma piora no cenário atual.

Dado que a Grécia precisará de mais pacotes de ajuda financeira para se sustentar, mais cortes nas contas governamentais serão exigidos, o que certamente gerará uma grande insatisfação popular. Hoje o desemprego está na casa dos 20% e tais cortes atingiram diretamente uma parcela considerável da população – o que, consequentemente, afeta a já fraca economia grega.

Parlamento Grego - dificilmente haverá uma maioria clara após as eleições

A Itália, outro foco de grande preocupação em meio à crise, instalou um governo provisório, repleto de tecnocratas, com a função primordial de implementar medidas de austeridade para colocar as contas do país em ordem e, somente em 2013, realizar novas eleições – o que mitiga o risco político agora latente na Grécia.

Ao que tudo indica, novos solavancos virão da Europa nos próximos meses. A possibilidade de uma saída da Grécia da zona do Euro, num cenário pessimista, não está descartada.

A Insight Geropolítico continuará monitorando os desdobramentos da crise na Grécia e os riscos políticos inerentes aos possíveis cenários.

 

Menachem Begin conversa com líder da operação que destruiu o programa nuclear iraquiano

O ano é 1981. Em 7 de Junho daquele ano, ainda durante a madrugada, um grupo de quatorze aeronaves da Força Aérea Israelense efetuou um ataque surpresa ao reator nuclear Osirak, instalado na cidade de Al-Tuweitha, nas proximidades de Bagdá.

À época, o programa nuclear iraquiano se desenvolvia rapidamente. Embora Saddam Hussein estivesse focado em sua batalha contra o recém-instalado regime revolucionário do Aiatolá Ruhollah Khomeini, Menachem Begin via uma bomba atômica iraquiana como uma ameaça direta ao Estado judeu. Desde 1948, Israel e Iraque viviam um relacionamento marcado pela constante tensão, visto que Bagdá se recusou a assinar o armistício que encerrou a Guerra de Independência daquele ano.

Desde o início das discussões sobre o bombardeio, ambos os chefes da AMAN (braço de inteligência militar de Israel) e do MOSSAD (serviço secreto de Israel), opuseram-se ao plano. Seus argumentos eram: (i) ainda levaria anos para que o programa iraquiano tivesse êxito em desenvolver o artefato nuclear; (ii) o bombardeio não destruiria o programa por completo; (iii) uma ação deste gênero poderia causar uma escalada militar na região; (iv) comprometer o acordo de paz entre israelenses e egípcios, de 1979 e (v) estremecer as relações entre Israel e EUA.

Begin e seus aliados próximos forçaram a ideia e o bombardeio obteve sucesso. As baixas foram mínimas e o programa nuclear de Saddam Hussein foi neutralizado.

Do ponto de vista de Israel, apesar das variáveis envolvidas num possível ataque às instalações iranianas serem mais complexas, a percepção sobre as consequências da operação em 1981 é muito similar aos desdobramentos de um ataque hoje. Logo, é compreensível que o establishment político de Israel se baseie no sucesso passado, dadas as similaridades entre Iraque (1981) e Irã (2012).

Ahmadinejad vistoria as instalações nucleares de Bushehr

Em 1981, havia argumentos de que um ataque não seria capaz de destruir completamente o programa, quanto muito atrasá-lo. Hoje, o debate é o mesmo, e baseando-se no que Israel viu acontecer com o Iraque, tal argumento perde consistência. A experiência mostrou aos israelenses que embasar a decisão de um ataque aéreo em sua efetividade de destruição é irrelevante, visto que o Iraque não foi capaz de retomar seu programa nuclear e o desenrolar da história acabou levando a uma mudança de regime.

Não é possível saber quando e como um ataque israelense tomaria corpo contra as instalações iranianas, mas o fato é que a história recente nos oferece um case empírico de sucesso envolvendo uma situação muito similar.

O ex-Senador Rick Santorum

Após as primárias do Estado da Louisiana, vencida pelo ex-Senador Rick Santorum, a corrida interna do Partido Republicano para a nomeação continua sem grandes alterações.

Mitt Romney ainda lidera com folga – 565 delegados contra apenas 256 de Santorum – e tende a receber a nomeação em meados de Abril. O grande problema para o ex-Governador de Massachusetts é a continuidade da disputa interna. Como já foi mencionado anteriormente, quanto mais longa a batalha pela nomeação, menores serão as chances do escolhido em vencer os votos independentes – decisivos na eleição de Novembro.

Seria interessante para Mitt Romney, e o Partido Republicano como um todo, poder direcionar os esforços, desde já, para a campanha contra o atual presidente Barack Obama. Mas os demais concorrentes à nomeação não dão indícios de desistência.

Não só Santorum, mas também Newt Gingrich e Ron Paul mantém-se na disputa e pretendem insistir por mais tempo.

Pesquisas indicam que, se as eleições fossem hoje, e o candidato republicano fosse Mitt Romney, Obama estaria com 48,1% das intenções de voto, contra 43,5% do republicano.

Mali - fronteiras com Níger e Argélia à Nordeste

A operação da OTAN na Líbia foi bem-sucedida no seu objetivo primário; a queda do ditador Muammar Qaddafi. No entanto, o frágil equilíbrio de forças no continente africano foi quebrado, e alguns efeitos colaterais já causam os primeiros danos. Afora as tensões inter-tribais na própria Líbia, um país claramente dividido por linhagens étnicas distintas, o caso mais nítido e recente foi o golpe militar ocorrido em Mali, na semana passada.

Conhecido por ser uma das poucas democracias fortes do continente – desde a queda do último governo militar, em 1992, quatro eleições haviam occorrido e a quinta seria no próximo mês – Mali foi palco de um golpe de estado perpetrado pelas forças armadas, que tinham como argumento a inaptidão do governo em lidar com a revolta dos Touaregs ao norte.

A tribo dos Touaregs, composta por cerca de 2 a 3 milhões de membros e conhecidos por serem nômades das regiões do Saara e do Sahel, ocupam uma área que abrange o Sul da Líbia, o Norte do Níger, o Sul da Argélia, o Norte de Mali e Burkina Faso. A maior parte deles – ao redor de 1 milhão – encontra-se hoje no Norte de Mali. Desde os anos ’60 eles fazem pressão, e muitas vezes apelam ao uso da força, por maior autonomia e uma hipotética independência. Entre 2006 e 2009, uma onda de violência ocorreu com os mesmos objetivos.

Os Touaregs juntaram-se aos rebeldes líbios no levante contra Muammar Qaddafi

A questão torna-se mais complexa pelo seguinte fator; durante a operação da OTAN na Líbia, grandes contingentes de militantes da tribo Touareg se juntaram aos rebeldes líbios em sua luta contra Qaddafi. Neste processo, ganharam não só mais armamentos, mas também mais experiência de combate. O exército de Mali, observando o fortalecimento dessa ameaça, derrubou o governo democrático de Amadou Tourani Touré.

A discussão sobre intervir ou não intervir em determinado Estado deve levar em consideração este fator. Embora moralmente desejável, uma intervenção representa uma equação extremamente complexa e única, já que Estados vivem contextos distintos entre si. Mudar uma das variáveis desta equação, sem equilibrar o restante, pode gerar reações em cadeia complexas e, em muitas vezes, indesejadas.

 

ETS, que visa reduzir emissões de carbono de aviões, pode causar problemas econômicos

“O que surgiu como uma solução para o meio-ambiente se tornou fonte para uma possível batalha comercial” disse Thomas Enders, alto executivo da Airbus.

O Regime de Comércio de Emissões da UE (Emissions Trading System) de CO2, que entrou em vigor em Janeiro de 2012, tem por princípio a disponibilização de créditos para emissões do gás para as companhias aéreas – européias ou não – operando no espaço aéreo europeu. Cada companhia tem direito a um volume X de emissões, de acordo com o número de vôos operados na Europa. A própria companhia é responsável pelo monitoramento deste processo e, ao final de cada período, ela deve entregar um relatório às autoridades responsáveis. Caso ela tenha utilizado uma quantidade de créditos abaixo da média calculada, ela poderá comercializar os mesmos para outras companhias que necessitem. Caso tenha ultrapassado o limite, pagará multas progressivas., o que fatalmente encarece a operação.

O projeto, fortemente apoiado pelo Partidos Verdes Europeu, tem como premissa não só o cuidado com o meio-ambiente, mas servir de base para um projeto de mesma espécie em escala global. O resultado, porém, pode ser bem diferente. A Europa, ainda em profunda crise econômica, pode entrar numa guerra comercial que não tem condições de vencer. Hoje, uma negociação entre Airbus e os chineses, envolvendo 45 aeronaves e receitas ao redor de USD 12 bilhões, está congelada. Autoridades de Nova Delhi também já deixaram claro que não vão aceitar as novas regras e ameaçam proibir companhias indianas de cooperarem com o sistema e disponibilizarem seus níveis de emissões – dado que 73% do mercado de aviação comercial da Índia é ocupado por empresas européias, não se trata de uma ameaça qualquer.

Airbus da Air China - negociação de 45 novas aeronaves está congelada

O que fica claro é os gigantes China e Índia não estão dispostos a abrir mão de ganhos econômicos, e sacrificar um setor forte de suas economias, em prol de políticas ambientais. O interessante é que uma parte dos próprios europeus também não está satisfeita. Um grupo de empresas aéreas, liderado pela Airbus, já se organizou para cobrar um relaxamento das autoridades européias quanto às regras do sistema de emissões.

A disputa entre os partidos verdes, que ganham cada vez mais espaço na cena política européia e fazem grande pressão por políticas ambientais rígidas, e o empresariado europeu tende a se intensificar. Em meio a uma Europa passando por momentos difíceis do ponto de vista econômico, não será surpresa observar movimentos políticos fortes contra possíveis decisões politicamente incorretas das autoridades européias, já que no curto prazo, as contas vão pesar mais que a natureza.

Nas primárias de hoje no Estado de Illinois, Mitt Romney conseguiu uma boa vitória e levou os 69 delegados em disputa, alcançando os 540 delegados. Rick Santorum, na segunda colocação, tem 239.

Romney obteve boa vantagem dentre todos os grupos de votantes – universitários, idosos acima de 65 anos e até mesmo dentre os evangélicos – o que qualifica ainda mais o resultado, dado que mesmo entre os mais conservadores dos eleitores, que teoricamente votariam em Rick Santorum ou Newt Gingrich, ele teve sucesso.

Mitt Romney e sua mulher, Ann, fazem discurso de vitória em Illinois

Este resultado pode aumentar as chances de Romney ser o nomeado do Partido Republicano. No entanto, a disputa está longe de terminar. Gingrich, Santorum e mesmo Ron Paul, que ainda não obteve nenhuma vitória em qualquer das primárias, não dão sinais de desistência da disputa. Um fator interessante é que muitos dos eleitores de hoje declararam que ‘não estavam plenamente satisfeitos com seus candidatos’. Ou seja, há eleitores republicanos votando pelo candidato elegível, mas não o considerado ideal por eles. Dado que o voto não é obrigatório nos EUA, esta tendência pode afetar o candidato republicano nas eleições em Novembro.

Embora tenha ganho mais espaço com a vitória de hoje, Mitt Romney ainda terá de esperar para receber uma eventual nomeação, já que seus concorrentes pretendem lutar pelos delegados restantes, por mais tempo

Um evento que ganhou destaque na mídia, no domingo, foi o sequestro de duas brasileiras e um guia turístico egípcio por beduínos na região da Península do Sinai. Após passarem algumas horas sob custódia dos sequestradores, elas foram libertadas com a ajuda do governo local nas negociações. Segundo as mesmas, os beduínos as trataram bem até o final do impasse.

Mas a pergunta que fica é; quem são estes beduínos? O que querem?

Beduínos na Península do Sinai - marginalizados da sociedade egípcia

Compondo uma população de aproximadamente 200.000, os beduínos migraram para aquela região no século VII, fugindo das tribos mais fortes que habitavam o deserto do Hejaz, onde hoje fica a Arábia Saudita.

A região da Península do Sinai é um ponto altamente estratégico do ponto de vista geopolítico. Ligação entre Europa e Ásia, ela abriga o Canal de Suez, crucial para o mercado do petróleo, e também é rota de gasodutos/óleodutos que fornecem energia para Israel. A área também é conhecida por abrigar lugares muito atrativos ao turismo – casos de resorts litorâneos como em Sharm el-Sheikh e Dahab e, principalmente, locais sagrados como o Monte Sinai e o Monastério de Santa Catarina, mais antigo templo cristão em funcionamento no mundo.

Porém, o desenvolvimento econômico trazido por estes fatores à região não incluiu a população local que, composta por diferentes tribos de beduínos, historicamente é marginalizada da sociedade egípcia como um todo. Serviços públicos essenciais, como saúde e saneamento básico são praticamente inexistentes. Afora a indústria do turismo – que exclui os beduínos – não há outras atividades econômicas na península, o que fatalmente obriga os locais a participarem de atividades ilegais para conseguir meios para sobreviver. Dentre elas, estão o tráfico de bens (itens médicos, material de construção, etc.) e armas para a Faixa de Gaza e mesmo, em alguns casos, facilitar o trânsito de grupos mais radicais pelo local.

Península do Sinai - cercada à Oeste o Mar Vermelho (saída do Canal de Suez) e à Leste pelo Golfo de Aqaba (Jordânia)

No entanto, é importante frisar que os sequestros, recorrentes num passado recente, não fazem parte de uma agenda política similar àquela de grupos mais radicais – ou mesmo terroristas – como Hamas ou a própria al-Qaeda. O objetivo com estas ações é forçar o governo do Egito a negociar a libertação de beduínos presos e exigir melhoras no cenário sócio-econômico na região. Cerca de 1.000 – 3.000 beduínos estão presos hoje e aproximadamente 10.000 fazem parte de listas policiais egípcias.

Os efeitos da revolução que derrubou o regime de Hosni Mubarak também não chegaram, ainda, ao Sinai. Recentemente ocorreram sequestros nos mesmos padrões do que ocorreu com as brasileiras no domingo. Não há, no curto prazo, perpectivas de mudança no quadro da região. A evolução ou deterioração dependerá do que ocorrer na cena política egípcia. Caso não haja mudanças no relacionamento entre Cairo e as tribos locais, mais problemas deverão ocorrer.

 

Após uma vitória fácil em Porto Rico, onde Mitt Romney ficou com os 20 delegados em disputa ao obter cerca de 82% dos votos, o próximo desafio é o Estado de Illinois, onde 69 delegados estão em disputa.

Romney faz campanha no Estado de Illinois

Embora apresente uma boa vantagem nas pesquisas feitas até o momento, um ponto que pode tornar as primárias de amanhã (20) mais acirradas é o eleitorado em si.

Romney precisou mostrar-se conservador para ganhar o eleitorado republicano em algumas regiões do país. Sob ataque constante dos principais adversários – Rick Santorum e Newt Gingrich – o ex-governador de Massachusetts foi, ao longo de todo o processo da nomeação republicana até o monento, acusado de não ser conservador o suficiente. Porém, o eleitorado em Illinois é conhecido por dar preferência à ala moderada do Partido Republicano.

Romney, que já foi acusado de inconsistência por mudar de opinião constantemente sobre diversos temas, terá de provar que é o candidato moderado dentre as opcões existentes.

Leon Panetta e Hamid Karzai - relacionamento entre EUA e Afeganistão passa por seu pior momento

O Secretário da Defesa americano Leon Panetta não tem motivos para comemorar sua passagem pela Ásia Central. Logo no início do tour pela região, dois eventos já geram agitação em Washington.

Em reunião com o presidente do Afeganistão Hamid Karzai, o secretário foi publicamente pressionado a antecipar o processo de retirada das tropas da ISAF (International Security Assistance Forces – nome da missão da OTAN no país) para 2013 – originalmente o prazo era 2014. Em meio a um relacionamento altamente complexo e que se deteriorou gradativamente nos últimos anos, as ações do soldado americano – que matou 16 civis – ajudaram a piorar o cenário. O Taliban, que havia concordado em negociar para chegar a um acordo para pacificar o país, já anunciou sua retirada das conversas.

Em paralelo, um alto oficial do governo do Quirguistão informou Panetta que pretente fechar a base americana naquele país. Esta, localizada no aeroporto de Manas, próximo à capital Bishkek, é a única desta espécie presente na Ásia Central e essencial do ponto de vista logístico e tático para a operação americana no Afeganistão. A base também funciona como um posto avançado numa região onde outras potências, como China e, principalmente, Rússia, disputam por influência.

Em termos geopolíticos, essa é a área mais estratégica do globo. Historicamente, os grandes players travam disputas acirradas pela predominância nessa região. No século XIX, os impérios Britânico e Russo protagonizavam o que ficou conhecido como o Great Game (Grande Jogo), quando lutavam politica e militarmente pela hegemonia euroasiática.

Geopolítica da Ásia Central

Hoje, num cenário pós-Guerra Fria, EUA, Rússia e China são os atores principais no novo Great Game. Cada decisão tomada com relação ao Leste Europeu, Oriente Médio, Ásia Central e a Ásia do Leste é baseada neste raciocínio.

Embora o governo do Quirguistão já tenha feito ameaças do gênero anteriormente, o fato é que os EUA vem perdendo espaço na região. As relações com Afeganistão e Paquistão se deterioraram muito nos últimos dois anos, a Índia, embora tratada como aliada, recusou-se a se alinhar com os americanos na questão do Irã e a China, principal potência no Sudeste asiático, também ganha cada vez mais espaço no Oriente Médio. Os russos, embora não disponham da mesma força econômica de chineses e indianos, têm um alto grau de influência política e interesses estratégicos na área.

O mercado do petróleo deverá continuar com alta volatilidade nos próximos meses. De acordo com a AIE (Agência Internacional de Energia), a OPEP (Organização dos Países Produtores de Petróleo) vem trabalhando com níveis cada vez mais baixos na sua capacidade ociosa – mantida para utilização em momentos de crise.

O principal fator na subida de mais de 20%, desde dezembro, no preço do barril é a possível escalada militar na região do estreito de Hormuz. Um ataque israelense sobre as instalações nucleares iranianas poderia acarretar em um estrangulamento no fluxo do petróleo, caso o Irã cumpra as ameaças já feitas. A Arábia Saudita, maior produtor do mundo, tem mantido sua produção em níveis recordes – aproximando-se dos 11 milhões de barris/dia – o que coloca em dúvidas a capacidade da OPEP de injetar mais petróleo na economia, durante uma possível crise – os sauditas respondem por cerca de 75% da capacidade ociosa da organização. Exluíndo-se cerca de 800.000 barris de petróleo iranianos à partir de 1o de Julho – data de início do embargo europeu – dessa equação, pode-se prever um cenário preocupante.

Estreito de Hormuz - no ponto mais estreito, 35 km separam Omã e Irã

Em paralelo, a redução drástica nas exportações da Síria devido à instabilidade interna e problemas com os produtores africanos, como Sudão do Sul e tensões constantes no Delta do Níger, na Nigéria, tornam a situação ainda mais complexa.

Não por acaso, as potências ocidentais – especificamente a Europa – tentam arrefecer a situação e evitar uma crise na região. Os mercados asiáticos, como Coréia do Sul e, principalmente, Japão, também vêem com maus olhos uma escalada militar no Golfo Pérsico, já que grande parte do petróleo consumido nesses países é proveniente de lá.

No entanto, a posição israelense sobre o Irã permanece a mesma. Netanyahu tem atuado fortemente em Israel para trazer o Knesset (Parlamento de Israel) e, sobretudo, a opinião pública para o seu lado – hoje, pesquisas dão conta de que 58% da população é contra um ataque sem a participação direta das forças americanas.

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