Em um mundo tão imprevisível, como o de hoje, os riscos políticos ganham uma relevância ainda maior. Em geral, os maiores riscos políticos sempre estiveram nos mercados emergentes, onde as instituições não são tão sólidas e interferência do Estado no mercado é constante. Entretanto, mercados desenvolvidos, como Europa central – Alemanha, França, Reino Unido, – EUA e outros, também podem oferecer determinados riscos políticos que, à primeira vista, não são visíveis.
Recentemente, o conglomerado brasileiro Odebrecht sofreu um revés político que pode comprometer suas operações nos EUA, no Estado da Florida. O governador Rick Scott devera sancionar uma nova lei na qual prevê que empresas com negócios em Cuba, em valores acima de USD 1 milhão, serão proibidas de operar na Florida.
Ideologias são um fator presente na análise do risco político. Por exemplo, historicamente, quando pensamos em expropriações – algo que ocorreu com a Petrobrás, em 2006, na Bolívia – ideologias são a força motriz por trás deste tipo de evento. Contudo, ideologia e afiliações políticas podem afetar empresas de outras formas menos agressivas e custosas. No caso específico da lei da Florida, seu idealizador é o deputado Michael Bileca, casado com uma cubana. Esse projeto recebe apoio incondicional do lobby anti-castrista, uma das grandes forças políticas do Estado. A população cubana da Florida, em sua maioria descendente de refugiados da revolução de 1959, vê com maus olhos o regime do país caribenho e são apoiadores irredutíveis do bloqueio, mantido desde 1962.
O Brasil é hoje o principal parceiro econômico da Florida, e a Odebrecht é parte importante deste cenário. Grandes contratos já estão em execução e há negociações para crescimento nos investimentos. Ao mesmo tempo, a posição da empresa brasileira em Cuba é bastante estratégica.
Desde que Raúl Castro, irmão de Fidel, assumiu o poder na ilha, diversas medidas econômicas de abertura vem sendo implementadas. A previsão é de que, em breve, Cuba será novamente um pólo muito atrativo para investimentos em diversas áreas – já que hoje há uma mão-de-obra qualificada subutilizada devido às políticas socialistas ainda predominantes. O Brasil já explora estas variáveis e, no caso da Odebrecht, já há negócios em andamento nos setores de infraestrutura e agronegócio.
Embora a lei ainda não tenha sido sancionada, os negócios da empresa brasileira estão sob ameaça. Uma decisão política pode afetar diretamente sua estratégia, desmontrando assim a necessidade de lidar de forma sistemática e profissional com os riscos politicos.