Nas ultimas semanas a China expandiu sua zona de defesa aérea dentro do Mar do Leste da China (veja mapa abaixo). Esse decisão ocorre em um contexto especifico: o acirramento das disputas territoriais das ilhas locais, o crescente nacionalismo na região e o redirecionamento estrategico-militar americano para a Ásia.

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Quando falamos de crises internacionais com potencial para escalada de confronto as atenções costumam estar voltadas para regiões tidas como mais frágeis: seja o Oriente Médio, África ou sul da Ásia (Índia e Paquistão). Contudo, a Ásia do século 21 pode se tornar a Europa do século 20. Até pouco tempo atras, todo o enfoque da região estava concentrado nas áreas econômicas e comerciais. A ascensão chinesa e o desenvolvimento econômico regional vem forçando a inclusão de preocupações geopoliticas na estratégia de segurança dos países.

A China reivindica 90% do total da area do seu mar do leste. A dificuldade com as ilhas desse mar estão na sobreposição do espaço territorial de todos os países próximos. Filipinas, Vietnã, China, Japão, Taiwan, Coreia do Sul, Malásia e Brunei possuem algum tipo de reivindicação territorial dentro desse espaço. Algumas dessas disputas, como a da soberania das ilhas Diaoyu/Senkakus existe desde a Guerra Sino-Japonesa de 1894. As ilhas não são a única causa da tensão, mas as zonas econômicas exclusivas pertinentes também geram disputa devido a abundância de recursos naturais como petróleo e gás.

O grande problema disso tudo é que estamos falando de disputas territoriais. Conflitos ideológicos podem ser menos precisos ou tangíveis. Território é algo fundamental para a existência de um estado. Busca por autonomia e controle de território é o que permite um povo ser dono do seu destino. Sem território não existe estado. Ou seja, nenhum país em sã consciência abdica de espaço pois esse é a matéria prima básica para sua existência. Não é por acaso que historicamente a vasta maioria das guerras, entre estados, foi travada por defesa e conquista territorial.

Outro risco com a demarcação da zona de defesa aérea chinesa é a sobreposição com mesma zona japonesa. A Coreia do Sul acabou de expandir sua zona de defesa aérea para dentro do mesmo espaço. Isso acentua as chances de um acidente ou choque não intencional. Quando um avião de qualquer um dos países entrar nessa zona vai ser interceptado e escoltado de acordo com as normas internacionais. Caso a interceptação não for feita da maneira correta temos o risco de um incidente internacional. Em 2001, um caça chinês estava executando intercepções agressivas até colidir com o avião americano de inteligência causando a morte do piloto chinês e forçando o pouso da aeronave americana na ilha de Hainan. Os 24 membros da tripulação ficaram presos por 11 dias gerando uma crise entre os dois países.

Essas zonas não são algo novo. São essencialmente um pára-choque fora do espaço aéreo do país. De acordo com o direito internacional, o espaço aéreo de um país engloba o céu acima do território mais os 22 quilômetros de distancia da sua costa de oceano. Muitos outros países criaram zonas parecidas em espaço aéreo internacional próximo ao seu estado. Como são impostas de forma unilateral e sem base legal facilitam atritos.

Por enquanto, o problema não foi a demarcação da zona chinesa, mas a possível tentativa em protege-la. Hoje, Pequim não tem os meios ou capacidade de monitorar todo o escopo desse espaço aéreo e nem as condições de projetar força. Monitorar o escopo da área requer sistemas navais, terrestres e aéreos. Como os chineses não controlam espaços terrestres (ilhas) próxima a zona ficam em desvantagem em relação aos japoneses. No quesito força, a China precisa de plataformas terrestres, aéreas e navais, mas ninguém pode atacar algo que não pode identificar ou localizar, e menos ainda sem a arma apropriada dentro do seu alcance. Essa capacidade de posicionar suas forças aéreas próximas a zona é comprometidas pela distância da costa e falta de treinamento e procedimentos.

O estabelecimento dessa zona trouxe uma nova dimensão – aérea, alem da naval e territorial – para a competição geopolítica da região. O desenrolar dessa tensão colocará em pauta a normalização militar japonesa e vai testar o comprometimento americano com seus aliados da região. Se Obama seguir o exemplo de como tem tratado os seus aliados do Oriente Médio, rapidamente o Japão pode mudar sua constituição e adotar uma postura mais agressiva. Os chineses estão desafiando o status quo enquanto os outros países estão apreensivos com as suas ambições.

Artigo original Exame: http://exame.abril.com.br/rede-de-blogs/risco-politico-global/2013/12/10/crise-na-asia-zona-de-defesa-aerea-e-mar-do-leste-da-china/

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