Ádan Chávez, à esquerda, irmão mais velho de Hugo Chávez, é apontado como possível sucessor do Presidente da Venezuela

Ao longo das últimas três décadas, a China passou por transformações profundas. Nesse período, o Produto Interno Bruto (PIB) chinês cresceu a uma média anual de cerca de 9,0% e passou da sétima para a segunda posição entre as maiores economias do planeta. A política de abertura, que tirou o país do obscurantismo da Revolução Cultural (1966 – 1976), teve início com a morte de Mao Tsé Tung e a chegada ao poder de Deng Xiaoping. De acordo com a doutrina formulada pelo novo líder no final da década de setenta, a China deveria consolidar o seu forte crescimento sem que isso criasse uma coalizão inimiga que temesse e confrontasse o poderio do país. Em outras palavras, a política externa chinesa deveria ser pautada por ideais de não agressão, em que a China não buscaria assumir uma postura de liderança global, investindo na cooperação com os Estados Unidos e aceitando fazer negócios com qualquer país que reconhecesse a legitimidade do governo de Pequim. No entanto, o atual estágio econômico e político do país desafia este posicionamento – e a continuidade desta política é questionada tanto internamente como por outros países.

Deng tinha várias razões para não querer que a China não ganhasse muito destaque na agenda internacional. Antes de mais nada, o governo comunista chinês temia gerar desconfiança nos  vizinhos soviéticos, o que os incentivaria a agir contra o país. Do mesmo modo, não era interesse chinês entrar em rota de colisão com os Estados Unidos, uma vez que eram os americanos os únicos que poderiam impedir o Exército Vermelho de avançar sobre a China. Além do mais, os Estados Unidos eram vistos como essenciais para a consolidação da estratégia de crescimento econômico chinesa, já que grande parte da tecnologia absorvida pelo chineses vêm de parcerias com os americanos. Por mais de trinta anos, essa foi a maneira como a China se comportou no cenário internacional. No Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU), por exemplo, Pequim usou seu poder de veto em apenas duas oportunidades, preferindo se abster de questões das quais discordava.

Entretanto, a pouca disposição em interferir em assuntos de ordem global começa a ficar deslocada no país que mais cresce no mundo e que já vê seus interesses espalhados por diversas regiões do globo. A consolidação da China como potência econômica depende da capacidade do país em assegurar interesses vitais, como acesso a fontes de energia e a pontos estratégicos de navegação. Outro ponto importante da assertividade chinesa está no Exército de Libertação Popular, o maior do mundo em número de tropas, que deve receber mais de US$ 90 bilhões em investimentos em 2011 – e cuja crescente autoconfiança e hostilidade em relação a forças rivais encontra enorme aceitação em um país fortemente nacionalista.

Os desafios para a política externa chinesa vêm crescendo e tendem a ser cada vez maiores. Na África, o apetite chinês por petróleo levou Pequim a se aproximar do governo do Sudão, ainda que Cartum estivesse sob acusação do Ocidente de promover o genocídio de suas minorias étnicas. Agora, com a separação do Sudão do Sul, a China terá de desenvolver uma política para se aproximar do novo Estado, aonde, afinal, estão as reservas de petróleo. Ao mesmo tempo, os principais oleodutos cruzam o norte, o que coloca Pequim numa delicada situação entre dois Estados que já nascem rivais. Ainda no continente, questiona-se qual seria a reação de Pequim no caso de um golpe de estado que nacionalizasse reservas de minérios exploradas com capital chinês em diversos países africanos. Na Ásia, a China tem feito esforços para ampliar sua influência no Mar do Sul da China, que banha diversos países do sudeste do continente, como Filipinas, Malásia, Brunei, Indonésia, Cingapura, Tailândia, Camboja e Vietnam. A região, que foi declarada por Pequim como “interesse central”, além de possuir partes ricas em petróleo (o que tem causado disputas territoriais entre chineses e vietnamitas), é usada por Pequim para treinamentos militares navais por ter águas profundas. Do ponto de vista geopolítico, o Mar é importante para a China por ser uma rota estratégica tanto para a segurança do território chinês quanto para a garantia sobre rotas marítimas essenciais para o enorme comércio do país. As políticas de Pequim no Mar do Sul da China deixam os Estados Unidos inquietos, uma vez que Washington deixou claro que não pretende assistir passivamente à expansão da China numa região em que os americanos têm interesses e aliados importantes.

Desde o fim da Guerra Fria, com o colapso da União Soviética no começo da década de 90, os Estados Unidos reinam absolutos como a única superpotência do mundo. Com a segunda maior economia do planeta, a China deve ocupar a vaga de principal rival dos americanos, ainda que a distância militar e econômica que separa os dois países continue gigantesca. Após manter uma postura discreta na comunidade internacional desde que iniciou seu processo de abertura e de crescimento econômico, Pequim dá sinais de que está repensando esta atitude, seja por vontade própria ou por imposição das circunstâncias. No entanto, diferentemente dos Estados Unidos, a China não foi fundada sob ideais a serem espalhados pelo mundo. A China é uma nação pragmática, que se movimenta de acordo com seus interesses econômicos e políticos. De certa maneira, é fundamental que os chineses se mostrem determinados a buscar os interesses que garantam seu crescimento, uma vez que o país é hoje um grande motor que impulsiona a economia de todo o mundo. No entanto, se as novas diretrizes políticas do gigante asiático passarem a colocar a segurança mundial em perigo, a capacidade de crescimento da economia mundial pode ser afetada.

1 comentário

  1. Ótima Analise, parabéns pelo artigo!

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